Mundo de ficçãoIniciar sessãoGustavo Delmon
Observando-a imóvel à minha frente, eu simplesmente não conseguia acreditar que ela estava ali… ao lado daquele cara. Líliam segurava o bebê no colo, o rostinho da menina encostado em seu pescoço, e, mesmo assim, ela ainda encontrou tempo para me lançar um sorriso tímido, quase como um sussurro do passado. — Por que você se afastou de mim? — perguntei, sentindo a voz vacilar. — Passei os últimos meses aflito, sem ter notícias suas! Esse cara é a razão de tudo isso? Era mentira quando dizia que me amava? Por quê, Líliam? Ela desviou o olhar, como se minhas palavras fossem punhais. Um silêncio tenso se formou entre nós antes que ela finalmente dissesse: — Gustavo, você não entenderia… não tenho nada a dizer. Por favor, poderíamos fingir que esse encontro nunca aconteceu? Senti o coração apertar no peito. Era impossível simplesmente fingir. — Diga-me… essa bebê é sua? — perguntei, com um desejo profundo de abraçá-la, de sentir novamente o cheiro do seu cabelo, de tê-la perto. A saudade era um nó sufocante. Líliam mal conseguia me encarar. Enrico, aquele sujeito ao lado dela, parecia determinado a nos manter separados, com o olhar arrogante e protetor. Por sorte, a presença da pequena princesinha me impediu de explodir. A menina, com os cabelinhos loiros e olhos azuis como o céu, era a cópia viva da Líliam. Meu peito se contraiu com uma sensação estranha: medo, esperança, dúvida. Será que havia a possibilidade de ela ser minha filha? O tempo batia certo… a gravidez coincidia com o dia em que Líliam desapareceu. Um turbilhão de emoções me invadiu. Eu, que nunca me imaginei pai, que não sabia lidar nem com meus próprios sentimentos, agora me via diante de algo muito maior. — Essa menina… — respirei fundo, tentando conter o tremor na voz. — Ela é minha filha? — Ela é minha filha, Gustavo! — respondeu, firme, mas sem perceber a profundidade da minha pergunta. A resposta ecoou dentro de mim como um trovão. Meu corpo inteiro reagiu, e antes que eu percebesse, dei um passo à frente, tomado pela mistura de raiva e desespero. — Tenho que ir… — disse ela, tentando se afastar. — Gustavo, o que pensa que está fazendo? Espera… não faça isso aqui, as pessoas estão nos observando! Eu estava segurando o queixo dela, tão perto que nossos lábios quase se encontraram. Senti o calor da respiração dela, o mesmo que tantas vezes me tirou o fôlego. Mas, antes que pudesse beijá-la, o intrometido se meteu entre nós. Enrico a puxou para trás, e uma fúria surda tomou conta de mim. Olhei para a menina novamente e, por um instante, tive certeza — havia um vínculo, algo inexplicável. Mas e se eu estivesse me enganando? E se a criança fosse dele? — Como pude ser tão idiota? — gritei, a voz embargada. — Vocês dois estão juntos desde o início, não é? Eu aqui, desesperado, enquanto você já está feliz ao lado dele! — Gustavo, quer saber? — disse Enrico, com um sorriso cínico. — Eu a trouxe para pedir em namoro, mas não poderíamos imaginar encontrá-lo aqui. A vontade de socar aquele sorriso falso foi quase incontrolável. Líliam, nervosa, afastou a mão dele do ombro e disse: — Enrico, por favor, não fala assim. — Líliam, esse cara é um babaca! — rebati, com a voz trêmula de raiva. — Ele não sabe do que você passou, nem se importa com o que te aconteceu! Nem a carta ele leu! — Do que diabos está falando? Que carta? — Enrico franziu a testa. — Não tenho ideia do que você está dizendo. E poderia soltá-la? Fechei o punho, tentando me controlar, e nesse instante a bebezinha começou a chorar. Líliam a embalou com carinho, murmurando baixinho: — Calma, Beatrice… calma, meu amor. O nome dela me atravessou como uma lâmina. *Beatrice.* A menina era linda… e eu morria de ciúmes só de imaginar que ela poderia ser filha dele. Quando refiz minha pergunta: Quando Líliam afastou a mão dele de cima do ombro para que ele não falasse daquele jeito, percebi o quanto ela parecia cansada daquela situação. Seu olhar denunciava um misto de irritação e constrangimento, como se estivesse dividida entre o que sentia e o que precisava aparentar. — Líliam, esse cara é um babaca! — explodi, a raiva fervendo no peito. — Ele não faz ideia do que você vem passando, e muito menos se importa com o que aconteceu com você! Nem a carta ele leu! Enrico franziu a testa, a expressão de quem não compreende o que está ouvindo. — De que porra está falando? Que carta? — perguntou, erguendo a voz. — Não tenho ideia do que você está dizendo! Poderia largá-la, por favor? Fechei o punho, contendo o impulso de avançar contra ele. A tensão entre nós era quase palpável. Antes que a situação fugisse do controle, a bebezinha começou a chorar, e o som suave e aflito do choro cortou o ar. Líliam se apressou em embalá-la, murmurando com ternura: — Calma, Beatrice… calma, meu amor. Mamãe está aqui. A forma como ela dizia o nome da menina mexeu comigo. Beatrice. O nome ecoou dentro da minha cabeça, e eu senti um nó se formar na garganta. A criança era linda, e ver Líliam daquele jeito, protegendo-a, despertava em mim um sentimento estranho — uma mistura de ciúmes, dor e um desejo intenso de entender o que estava acontecendo. Eu não conseguia tirar da cabeça a possibilidade de aquela garotinha ser minha filha. Cada traço delicado do rostinho dela parecia gritar sem palavras algo que eu não queria admitir. Respirei fundo e, decidido, refiz a pergunta: — Líliam… diga de uma vez. - Olhei bem nos olhos dela, a voz firme, mas o coração disparado. — Essa bebê é minha filha? Você estava grávida quando saiu de Minas Gerais? Ela hesitou, desviando o olhar. A tensão em seu rosto era evidente. Parecia lutar contra algo interno, uma verdade que queimava para ser dita, mas que ela se recusava a deixar escapar. Em vez de me encarar, voltou o rosto em direção a Enrico, que já demonstrava nervosismo. — Líliam, temos que ir… — disse ele, apressado. — Eles estão aqui. Você sabe que é perigoso ficar parada. — Sim, você tem razão, Enrico — respondeu ela, com o olhar carregado de medo. Sem pensar, segurei a mão dela e a puxei para longe dele. O toque reacendeu lembranças, e um arrepio atravessou meu corpo. Não fazia ideia do que realmente estava acontecendo, mas havia algo errado naquele ar, algo que não era somente sobre sentimentos. — Vocês dois estão namorando? — perguntei, sentindo o ciúme me corroer. — Vivem juntos? Essa bebê é dele, não é? Planejaram fugir juntos desde o início? Minha voz ecoou mais alto do que eu pretendia, mas já não conseguia conter o turbilhão dentro de mim. — Se estão juntos, diga agora, e eu nunca mais vou procurá-la… — acrescentei, tentando parecer firme, mesmo com a dor me corroendo. Líliam respirou fundo, a voz embargada quando respondeu: — Gustavo, eu não tenho nada com Enrico. E não devo satisfação a você. Mas quero deixar bem claro que qualquer tipo de confusão precisa acabar. Ela fez uma pausa, encarando-me com os olhos marejados. — Ele é só um amigo. E, para ser sincera, você não tem o direito de me questionar nada, não depois de tudo o que fez. Foi você quem me traiu! Suas palavras cortaram mais fundo do que eu esperava. Líliam me repreendia, lembrando das traições passadas, das cenas que viralizaram nas redes sociais , o vídeo, as mulheres, a vergonha pública. Enquanto eu me dizia vítima de uma armadilha, ela afirmava que não queria mais nada comigo. Discutíamos como dois estranhos feridos que ainda se amavam. Enrico se meteu de novo, tentando ser o herói da história. — Solta-a, Gustavo. Ela não te quer mais. Está bem sem você.






