Capítulo 51
Don Vinícius Strondda
O sol ainda mal tinha subido e o dia já cheirava a pólvora.
O pátio da casa era um formigueiro de homens — botas no cascalho, armas engatilhadas, ordens sendo dadas em voz baixa. Mas a única coisa que eu ouvia de verdade eram os cochichos.
Sobre ela.
“Lucia segurou três caras sozinha.”
“Dizem que matou um com a própria faca de cozinha.”
“Coragem de mulher assim não se vê nem entre os nossos.”
Cada frase dessas era um prego cravando dentro de mim.
Eu devia me orgulhar — ela era minha esposa, porra. Mas algo dentro de mim fervia. Não era ciúme comum. Era o tipo de possessão que nasce de dentro do sangue Strondda, o tipo que faz o coração bater no mesmo ritmo que o gatilho.
Fiquei olhando o portão, calado, até João Miguel se aproximar com aquele ar de quem traz notícia podre.
— Don, achei. — disse, com o celular na mão. — Peguei o histórico de um dos invasores. Ele trocou mensagem com uma velha conhecida nossa.
— Quem? — perguntei