Contar minha história para a avó do Thomas foi uma experiência que eu não esperava viver tão cedo e muito menos com tanta intensidade.
Era como se cada memória tivesse voltado à superfície puxando outra atrás, até formar uma corrente inteira que eu tentava romper.
Falar das partes felizes foi quase confortável. Como se minha voz encontrasse um pequeno porto seguro sempre que eu descrevia alguma lembrança da minha mãe rindo, das minhas irmãs correndo pelo quintal, ou de nós três inventando brincadeiras que faziam a pobreza parecer apenas um detalhe sem importância. Eu era feliz. Realmente era. E, por um instante, reviver isso diante de Dona Tereza me fez bem.
Mas quando a lembrança escorregava para o outro lado… o lado escuro… ah, esse era o difícil.
Era como se cada palavra que eu dizia tirasse um pedaço de mim, um pedaço que eu tinha escondido tão fundo que acreditava já ter morrido com o tempo.
Quando cheguei na parte em que meu pai tentou me vender…
As palavras travaram. Minha gar