Narrado por Lara
A porta do quarto se fechou devagar atrás dele. O silêncio que ficou ecoou mais alto do que qualquer discussão.
Eu continuei sentada na cama, paralisada. Estava com a pele arrepiada, o estômago embrulhado, e um nó preso na garganta que me impedia de respirar direito. Por alguns minutos, apenas encarei o vazio — a colcha macia, o tapete perfeito, a decoração meticulosamente elegante. Tudo ao meu redor era bonito demais.
E mesmo assim, me sentia como se estivesse cercada por muros.
“Proteção.” Era isso que ele dizia. Que tudo o que fazia era para me proteger.
Mas desde quando proteção se parecia tanto com prisão?
Levantei devagar. Minhas pernas estavam fracas, como se eu tivesse corrido uma maratona. Caminhei até o banheiro sem acender a luz. Sentei no chão gelado, de frente pro espelho do armário, e encarei minha própria silhueta na penumbra.
Não me reconhecia mais.
Antes, eu era a filha esquecida. A garota que lia escondida no quarto. Que sonhava com uma família norma