Narrado por Emanuelle
Não consegui dormir.
Fiquei deitada por horas, com o vestido ainda no corpo, encarando o teto esculpido do quarto da ala velha, onde cada detalhe parecia carregar um segredo da linhagem que agora corria em minhas veias. O gosto do beijo ainda estava em minha boca — e era veneno e vício ao mesmo tempo.
Ele me beijou como se eu fosse dele.
E por um instante... eu quis ser.
Samuel tinha o cheiro do perigo. Um perigo que eu deveria evitar, mas que me chamava como um abismo aberto. Só que, desta vez, algo havia mudado. Eu não era mais a menina assustada de olhos arregalados. Eu não estava mais em posição de fugir.
Naquele terraço, diante dele, percebi: eu também tinha o poder de ferir.
E isso me assustava mais do que qualquer arma pesada que Elisabeth me ensinou a disparar.
Levantei devagar, tirei o vestido e encarei meu reflexo no espelho de moldura enferrujada. Não era só o delineador levemente borrado nos olhos ou o cabelo solto em ondas pesadas. Era a postura. O o