104. O Ritual
Leriam ergueu a voz primeiro, entoando os cânticos antigos que há séculos repousavam silenciados nas pedras frias do templo. As palavras — ásperas, profundas, reverberantes — ressoaram entre as colunas quebradas e os arcos tombados, impregnando o ar com uma solenidade ancestral. Até o vento pareceu ceder àquela invocação, silenciando-se, como se temesse profanar o que se iniciava.
Diante de mim, a esfera começou a emitir um brilho tênue, dourado, que se espalhava suavemente pelas inscrições em sua superfície. Cada símbolo refletia, como num espelho esculpido pelo tempo, as marcas gravadas no colar junto ao meu peito, que agora ardia, vibrando com uma intensidade quase viva.
Fechei os olhos por um instante, inspirando profundamente, sentindo aquela energia invisível e pulsante subir pelo chão, espalhar-se pelas paredes, envolver a todos nós. Meus dedos, obedecendo a um impulso mais antigo do que minha própria compreensão, repousaram com firmeza sobre a sup