Flora Narrando
Eu já não sabia mais o que era o tempo ali dentro. O cheiro de mofo da sala, o frio do chão de cimento, as cordas queimando meus pulsos, tudo isso era o que eu sentia enquanto esperava, sem saber o que ia acontecer. O som lá fora mudou de repente. Carros, muitos carros, sirenes. E então, Nicolai entrou na sala, os olhos arregalados, suando, com o cabelo bagunçado e a respiração ofegante. Ele fechou a porta com força, como se quisesse abafar o barulho do lado de fora, mas era impossível. Dava pra ouvir os carros de polícia, os helicópteros se aproximando.
— SEU PAI CHAMOU A POLÍCIA, SUA MALDITA — ele gritou, com uma voz cheia de ódio e medo ao mesmo tempo.
Eu estremeci. Meu corpo todo tremia. O desespero dele era ainda mais apavorante que o meu. Ele andava de um lado pro outro, batendo com o pé no chão, puxando o cabelo.
— Eu vou te matar. Você vai morrer, Flora. Eu juro por Deus que você vai morrer e depois eu me mato. Vai ser o fim de tudo, quem sabe somos predestinad