Flora Narrando
Eu não enxergava nada. Tudo era escuridão, e o único som que cortava o silêncio eram passos pesados, firmes, que ecoavam pelo chão de cimento frio. Meu coração disparava dentro do peito, e eu tentava me mexer, mas meus pulsos doíam. Estavam amarrados. Tentei entender onde eu estava, mas era impossível naquela escuridão. O cheiro de mofo e ferrugem denunciava que não era um lugar limpo nem seguro. E então, num estalo, a luz se acendeu, forte, direto no meu rosto. Fechei os olhos por instinto e, quando consegui abrir, vi. Ali na minha frente. Nicolai.
O desgraçado do meu ex.
Eu senti o estômago revirar, um gosto amargo subiu pela minha garganta. Como eu fui parar ali? A resposta era óbvia. Por minha culpa. Por confiar demais. Por ter achado que já estava livre desse doente. Eu respirei fundo e encarei o sujeito. Ele estava do mesmo jeito: olhar frio, sorriso cínico no canto da boca. Só que agora, tinha algo pior nos olhos dele. Ódio. Um ódio que parecia querer me engolir