— Não esperava que a mulher que foi tão rude comigo mais cedo fosse minha advogada — provoquei, apenas para ver como ela reagiria. Ela manteve o olhar fixo à frente, mas senti o tom firme na voz dela. — Não estava sendo rude, Ferman. Estava apenas fazendo o meu trabalho. Ri. Ela era determinada, tinha uma presença impenetrável. Silenciosa, mas afiada. Após alguns minutos de silêncio, estacionei em frente à minha casa. Sabia que ela ia reagir. — Não vou entrar. Achei que era só um jantar, não uma visita à sua casa — disse, firme, me desafiando com o olhar. Saí do carro e fui até o lado dela, abrindo a porta e estendendo a mão com um sorriso leve. — É só para jantar, Leyla. E, para ser honesto, você não faz o meu tipo. Ela soltou uma risada contida, olhando para mim com uma sobrancelha arqueada. — Que alívio. Porque você até faz o meu tipo, mas só se fosse em outro milênio, não nesse. Ri com sinceridade. Essa mulher era um enigma. Caminhamos até a entrada, e eu segurei sua mão. Ela tentou recuar, mas não deixei. Quando entramos, a família já estava à mesa, nos esperando, e pude sentir o olhar de surpresa de todos. Eda, minha irmã mais nova, foi a primeira a falar. — Essa é sua nova namorada, Ferman? — perguntou ela, com um sorriso divertido. Antes que Leyla tivesse tempo de responder, eu me adiantei. — Digamos que ela desperta em mim algo que nenhuma outra mulher já tentou. Talvez seja muito mais do que uma namorada.
Leer másLeyla Ylmaz
Nascemos sem escolher nosso nome, e da mesma forma não escolhemos quem será nossa família, crescemos em meio a um mundo caótico, corrupto e muitas vezes, é no nosso lar que deveria ser um lugar de paz e um ambiente amoroso, onde acabamos sofrendo por um amor doentio, que ultrapassa o respeito e torna a vida de uma família em um pesadelo, essa é a minha lembrança familiar, hoje com meus vinte e oito anos, formada em advocacia, ainda tenho feridas que não foram curadas e a maior parte delas vem de um único homem, aquele que quando eu era criança costumava chamar de pai. A perda do meu pai ainda era algo que eu não conseguia assimilar completamente. Fazia pouco mais de um mês que ele havia falecido, mas a ausência dele não me afetava da mesma forma que talvez devesse. Não éramos próximos. Na verdade, a última vez que tive uma conversa decente com ele foi há anos, antes de tudo desmoronar de vez. — Com licença, senhorita — a voz grave e autoritária interrompeu meu pensamento. — Este é um hospital. Talvez você possa falar um pouco mais baixo. Tem gente aqui que precisa de silêncio. Eu me virei com o rosto ardendo de irritação, pronta para dar uma resposta à altura. O homem que estava diante de mim era... impressionante. Alto, com ombros largos e um terno que parecia custar mais do que meu salário anual. Mas aquele tom de voz? Quem ele pensa que é? — Ah, sério? Como se eu estivesse aqui de férias! — retruquei, cruzando os braços, deixando claro o meu descontentamento. — Você não faz ideia do que estou passando. Ele franziu a testa, mantendo a calma, mas seus olhos penetrantes me analisaram como se me conhecesse. Havia algo no jeito que ele me olhava que me deixava desconfortável, como se pudesse ver através de mim. — Não estou dizendo que seu problema não importa — ele respondeu, com uma firmeza que quase me fez recuar. — Mas aqui, todos têm suas lutas. Um pouco de respeito com o ambiente não faria mal. Tentei segurar a raiva, mas a tensão entre nós era palpável. Havia algo mais naquele homem além da frieza nas palavras. Uma parte de mim quis continuar aquela discussão, mas outra parte, talvez a mais sensata, decidiu que já bastava. Eu virei as costas sem dizer mais nada e me afastei, ainda sentindo a intensidade daquele encontro. Lá fora, o vento frio da manhã me atingiu em cheio. Eu precisava de um táxi. Olhei para os lados, mas, claro, nenhum estava à vista. A cidade parecia conspirar contra mim naquele dia. Quando eu estava prestes a explodir de frustração, o vi novamente. O mesmo homem. Ele estava parado perto de um carro de luxo preto, com o motorista ao lado, esperando. E, para meu espanto, ele caminhou até mim. Continua... Eu deveria sentir algum pesar? Talvez. Mas o que sinto é uma mistura de alívio e confusão. Ele era um homem complicado, distante e, acima de tudo, egoísta. Foi o grande responsável por tantas feridas que até hoje carrego. Minha mãe... ah, minha mãe. Ele quebrou o coração dela de um jeito que nunca mais poderia ser consertado. Quando ele a deixou pela amante, minha mãe nunca mais foi a mesma. No fim, ela desistiu. Tomou uma overdose de remédios e nos deixou sozinhas, quebradas, enquanto ele continuava sua vida como se nada tivesse acontecido. A minha irmã Nazli, era mais velha, quatro anos, nos tornamos inseparáveis, mas agora, ela não conseguia me perdoar, por eu ter aceitado a herança do meu pai, ele que foi o motivo da minha mãe ter tirado a própria vida. Mas a minha irmã não poderia entender, já que eu sou a única filha dele, quando minha mãe conheceu o meu pai, a minha mãe era viúva e Nazli tinha dois anos. Eu odiava meu pai por isso. Nunca o perdoei, e ele nunca se deu ao trabalho de pedir perdão. A vida dele seguiu como se nossas vidas fossem descartáveis. E agora, ironicamente, ele me deixa uma herança. A herança que por sua amante, deveria ter sido dela, da mulher que destruiu a minha família, e não minha. Isso me sufoca de uma forma que eu não sei lidar. Como se o dinheiro pudesse apagar o que ele fez. Como se eu quisesse qualquer parte daquilo. Ainda não sei o que vou fazer com essa herança. A cada vez que penso nisso, sinto um peso no peito. Porque, no fundo, a única coisa que eu queria não era dinheiro ou bens. Eu queria que ele tivesse escolhido minha mãe. Que tivesse lutado por ela. Por nós. Mas ele não lutou. E agora, tudo o que me resta é esse sentimento de vazio, de que, de algum jeito, fui forçada a carregar o legado de um homem que sempre esteve ausente. Não sei se algum dia vou superar isso, mas de uma coisa eu tenho certeza: não vou deixar que essa herança defina quem eu sou, e muito menos que a amante do meu pai, a mulher gananciosa, seja CEO da empresa de advocacia do legado da minha família, onde minha mãe lutou para tornar a empresa do meu pai reconhecida, quando ainda era uma criança, lembro dela se esforçando para que a pequena empresa de advocacia fosse reconhecida e é por ela que me tornei advogada e irei me tornar CEO. Minha cabeça estava prestes a explodir. O hospital, os exames, os problemas acumulados… tudo parecia girar ao meu redor, me puxando para um redemoinho de preocupações. Finalmente, eu tive o resultado dos exames em mãos, mas mal conseguia processar o que estava acontecendo. Para completar, meu telefone não parava de vibrar com a chamada da cliente mais ansiosa que eu já tive. — Eu entendo, senhora Mert, mas você precisa ter paciência! — tentei manter a calma enquanto falava ao telefone, mas minha voz começou a se elevar. A tensão estava tomando conta, e eu já não conseguia controlar o volume. Foi quando senti alguém se aproximar. Não precisei olhar para saber que era alguém intimidante, a presença dele fez o ar ao meu redor mudar.Ferman Aksoy A casa estava cheia de risos, e o cheiro de canela e maçã espalhava-se pela sala, vindo da cozinha, onde Leyla e Nazlı estavam ocupadas com a sobremesa. Era véspera de Natal, e a família Aksoy estava reunida como há muito não acontecia. Sentei-me no sofá, observando a cena com um sorriso que não conseguia esconder. Marc, agora com dois anos, corria de um lado para o outro, encantado com as luzes da árvore de Natal, que piscavam em tons de vermelho e dourado. O cachorro, coitado, tentava escapar dele mais uma vez, mas acabava resignado a esconder-se debaixo da mesa. Miguel sempre calmo, brincava com seus carrinhos. — Ferman, não vai ajudar?— gritou Leyla da cozinha, a voz carregada de humor. — Estou ocupado supervisionando o caos.— respondi, levantando o copo de vinho. Nazlı riu alto, a sua voz enchendo a sala como uma melodia. Era bom tê-la aqui. Desde que ela se casou com Lion, os natais eram quase sempre cheios. Ver Leyla e Nazlı juntas, a rir e a trabalh
Leyla Ylmaz Dois anos depois... A luz da manhã entrava suavemente pela janela da sala, iluminando a bagunça que agora era rotina em nossa casa. Brinquedos espalhados pelo chão, uma fralda esquecida sobre o sofá, e no meio de tudo isso, Marc, o nosso pequeno furacão de um ano e dois meses, e Miguel que já tinha quase três anos, rindo enquanto tentava alcançar o nosso cachorrinho que fugia dele com uma mistura de pânico e diversão. — Marc, não puxes o rabo do cachorro!— gritei da cozinha, mas sem conseguir segurar o riso. — Leyla! Ele está ganhando habilidade de estrategista!— A voz de Ferman ecoou pela sala enquanto ele entrava, carregando um copo de café e observando a cena com aquele sorriso de pura adoração que só um pai coruja consegue ter. — Estrategista ou terrorista?— perguntei, arqueando uma sobrancelha, mas não consegui manter o tom sério por muito tempo. A verdade é que a energia de Marc era contagiante, e por mais cansados que estivéssemos, ele e Miguel faziam
Leyla Ylmaz Aksoy Só tinha um lugar que eu precisava ir, naquele momento, dirigi até lá sem pensar em nada. Assim que a porta se abriu, Kemal estava sentado em sua poltrona usual, o olhar frio e desconfiado. Não havia traço de arrependimento em seu rosto. Ele parecia mais irritado por eu estar ali do que preocupado com o que estava prestes a ouvir. — O que você quer, Leyla? — ele perguntou, a voz cortante como uma lâmina. Eu respirei fundo, sentindo o peso das palavras que estavam prestes a sair. Miguel estava em casa, sob os cuidados de Ferman, e seu sobrinho, e eu sabia que precisava de toda a coragem que tinha para enfrentar aquele momento. — Eu vim para te dizer que acabou, Kemal. Você nunca foi e nunca será meu pai. Ele franziu a testa, mas não disse nada. Talvez fosse a primeira vez que alguém ousava enfrentá-lo. — Eu descobri tudo. Seus segredos, suas mentiras... Tudo o que você fez para manipular minha vida e a de Nazli. Mas agora chega. Você não vai mais nos mach
Leyla Ylmaz Aksoy Depois de uma dança que parecia interminável sob os olhares atentos dos convidados, Ferman e eu deixamos a festa. Subimos no carro decorado com flores brancas, o silêncio preenchendo o espaço entre nós. Ferman dirigia calmamente, mas eu sabia que ele estava esperando que eu quebrasse o silêncio. Finalmente, respirei fundo e falei: — Ferman, eu não posso ir para a lua de mel agora. Ele olhou para mim, surpreso, mas sem tirar os olhos da estrada. — Leyla, você precisa de descanso. Depois de tudo o que passamos hoje... — Não. Eu preciso descobrir onde está o filho da Eliza. Ela estava grávida, Ferman, e ninguém mencionou o bebê depois do incêndio. Eu achei que ela estivesse viajando, mas ela morreu, e o bebê dela pode ser o meu irmão, apesar de tudo que ela fez, eu não posso fingir que não me importo com o bebê. Ele apertou os lábios, claramente contrariado, mas não discutiu. Em vez disso, assentiu lentamente. — Certo. Já sei por onde começamos! Na manhã
Leyla Ylmaz Aksoy A viagem até a delegacia foi um silêncio absoluto. Ferman segurava minha mão com força, como se temesse que eu fosse desaparecer a qualquer momento. Eu, por outro lado, estava tentando manter a cabeça erguida, mas a verdade era que meu coração estava um caos. Cada palavra dita pelos oficiais ecoava na minha mente como um sino insistente. Chegando lá, fomos levados para uma sala fria e iluminada por uma luz artificial que parecia drenar qualquer resquício de calor humano. O oficial que falara comigo no salão abriu uma pasta e colocou algumas folhas sobre a mesa. — Antes de começarmos, quero que saibam que temos motivos para acreditar que o incêndio foi premeditado e que o alvo era específico. Senti o corpo de Ferman enrijecer ao meu lado. Ele nunca fora um homem paciente, e o tom evasivo do oficial estava claramente testando seus limites. — Vamos direto ao ponto, então — ele disse, com os olhos firmes. — Quem foi o responsável? O oficial suspirou, como se
Leyla Ylmaz A felicidade parecia ter alcançado seu ápice. Era como se todo o sofrimento e as batalhas tivessem ficado para trás. Mas, no fundo, sempre soube que a vida tinha uma maneira cruel de testar até mesmo os momentos mais doces. Estávamos no salão de festas do meu casamento, cercados de amigos e familiares, brindando ao futuro. Ferman estava ao meu lado, segurando minha mão como se nunca mais fosse soltar. Eu estava prestes a me levantar para cumprimentar uma amiga quando os oficiais entraram. A conversa no salão parou abruptamente, e todos os olhares se voltaram para eles. — Leyla Aksoy? — perguntou o mais alto, com uma expressão indecifrável. Levantei-me, ainda tentando processar o que estava acontecendo. — Sim, sou eu. — Precisamos conversar. É sobre o incêndio na sua empresa. Senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Ferman, ao meu lado, ficou imediatamente tenso. Ele deu um passo à frente, colocando-se quase como um escudo entre mim e os oficia
Último capítulo