“Ele me vê como uma posse. Eu o vejo como uma lembrança que quero apagar.” Após três anos de separação, eu ainda sou, legalmente, a esposa do homem mais rico do país. Para ele, isso não é amor… é controle. Ele se recusa a assinar o divórcio, me mantém presa em um casamento que ele mal reconhece. Frio, distante, inalcançável. Mas tudo muda quando decido seguir em frente. Encontro alguém que pode me dar o que sempre quis: amor e liberdade. Só que o homem que ignorou minha existência por anos agora se transforma. Seu olhar, sua presença, tudo nele é diferente. Mais intenso. Mais perigoso. Por que ele está lutando para me ter de volta agora? Será que me enganei sobre quem ele é de verdade… ou estou apenas caindo em outra armadilha?
Ler mais— Dê-me o divórcio!
Sabe quando você olha nos olhos de alguém e sente um calafrio na espinha? Pois é. E, naquele momento, eu não estava diante de um anjo. Eu tinha certeza de que demônios existem, e um deles usava terno italiano e ocupava uma cadeira de couro do outro lado da mesa.
Passei horas esperando como uma estranha para ter uma “audiência” com o meu próprio marido. Mas, finalmente, lá estava eu, de pé, respirando fundo, enquanto ele mal levantava os olhos por cima dos óculos. Papéis espalhados, canetas rolando pelo tampo da mesa… Alexander Speredo, o homem mais frio e insensível que eu conhecia, me encarava com aquele olhar gélido que faria até o Polo Norte parecer quente.
Seu silêncio durava. O que ele esperava? Um show? Talvez. Senti o nervosismo me consumir, mas mantive a pose. Afinal, tudo naquele escritório gritava “poder”, e eu? Eu queria só uma assinatura no maldito papel do divórcio.
— Não vai dizer nada? — Cruzei os braços, mais para esconder o tremor nas mãos do que para bancar a desafiadora. Ele continuava me estudando, sem pressa. Quando finalmente abriu a boca, suas palavras foram tão afiadas quanto sua caneta Montblanc.
— Você acha mesmo que vai conseguir se livrar de mim assim tão fácil?
Ri. Foi um riso seco, quase forçado. Eu estava muito enganada se esperava algum tipo de acordo amigável.
Mas deixe-me voltar ao começo disso tudo. Meu pai sempre dizia que minha avó era excêntrica, talvez até um pouco louca. Eu, por outro lado, a via como alguém… decidida. Do tipo que, ao ver um garoto sem-teto vagando pela rua, resolveu, do nada, adotá-lo. Simples assim. Como se ele fosse um cachorro perdido.
— Ele é meu filho agora — decretou, ignorando todas as objeções da família. E fez questão de ameaçar: se o menino não fosse aceito, ela sairia de casa com meu pai e nunca mais olharia para trás. Um drama familiar digno de novela, sem dúvidas.
Esse garoto, para a surpresa de todos, cresceu e se tornou o homem mais rico do país. E não importa o quanto ele tentou recompensá-la depois — minha avó nunca aceitou um centavo. Eu achei bonito. Altruísta, até. Até o dia em que ela reuniu todos nós para anunciar, sem nenhum aviso prévio:
— Alexander deve se casar com Charlotte!
Quase engasguei. Eu, a Charlotte que mal acreditava no que ouvia, virei o “presente” de gratidão para o homem mais rico do país. Maravilhoso, não?
Alexander, claro, ficou tão surpreso quanto eu. Ou melhor, ele parecia indiferente, como sempre. De pé, atrás do pai, ele olhou para mim com o mesmo interesse que teria por uma planta de escritório. Minha avó, a mesma que eu achava ser uma velhinha adorável, mostrou sua verdadeira face naquele momento. Ela era uma cobra. De veludo, mas ainda assim uma cobra.
O único que se emocionou de verdade foi tio Jackson, o antes cachorro abandonado. Ele desatou a chorar como se fosse um filme de casamento antigo e jurou, de pé e com a mão no peito:
— Charlotte será cuidada como minha própria filha! — Uma performance digna de um Oscar, se me permite dizer.
E foi assim que eu me vi casada com Alexander Speredo. O solteiro mais desejado do país… que eu não amava, e que certamente também não me amava. O casamento foi a chantagem emocional mais cruel da minha vida. Minha avó jurou que morreria de desgosto se eu não aceitasse, e como não havia nada de errado com Alexander (além de sua personalidade feita de gelo), acabei aceitando.
Quanto a Alexander, ele só precisava de um incentivo para dizer “sim” ao casamento: a ameaça de ser deserdado pelo pai. Casar comigo significava manter sua fortuna intacta.
E foi assim que entrei no acordo mais estúpido da minha vida. Meu casamento era uma piada. Eu era invisível em sua mansão, praticamente parte da decoração. Minha sogra, sempre orgulhosa, não perdia uma oportunidade de me lembrar de como minhas origens eram “inferiores”. Hipocrisia pura, considerando que o marido dela, Jackson, foi encontrado mendigando nas ruas.
E o mais irônico? Eu preferia o silêncio gelado daquela casa a suportar as festas e os jantares intermináveis com pessoas que fingiam ser perfeitas.
Alexander não se dava ao trabalho de esconder o quanto achava minhas maneiras embaraçosas. “Humilhantes” foi a palavra exata que ele usou para descrever meu comportamento, como se eu fosse um espinho no pé do seu status de CEO exemplar. Ele me repreendia com uma frieza que chegava a ser cruel. E, depois de um ano dessa tortura emocional, tomei a decisão mais sensata da minha vida: fui embora.
Isso já faz três anos.
Pensei que, ao sair da vida dos Speredo, finalmente teria paz. Longe das memórias sufocantes e das influências daquela família. Doce ilusão. Eles ainda conseguem se infiltrar nos meus pensamentos, como uma praga. Até na clínica médica, veja só!
Lá estava eu, sentada na sala de espera de uma clínica dentária, segurando um jornal qualquer. Datado de dez dias atrás, provavelmente deixado por algum paciente com pressa. Nem me importei. Estava disposta a ler até bula de remédio se fosse para afastar o tédio e, claro, a crescente ansiedade.
O lugar estava lotado de mulheres. O ambiente parecia uma feira de fofocas. Conversas altas, risos exagerados. Eu não suporto essas trocas de banalidades entre estranhos, então foquei no jornal, mesmo que as manchetes me irritassem. E adivinhem quem estampava a primeira página? Ele, claro: Alexander Speredo, meu adorável “ex”-marido.
— Que jovem adorável! — uma senhora idosa exclamou, ao meu lado, apontando para a foto de Alexander no jornal.
Ah, não. Nem tente, senhora.
Logo, metade da sala parou o que estava fazendo para se inclinar e observar a matéria que eu fingia ler.
— Ele é mesmo! — continuou outra mulher mais à frente, com um sorriso sonhador. — E tão jovem. O que será que ele faz?
— É o CEO da Corporação Speredo. — respondeu uma terceira, uma jovem da minha idade. — Rede de hotéis de luxo. Um verdadeiro sucesso!
— Mas o que importa não é o dinheiro — outra completou, com um brilho nos olhos. — É que ele é lindo. E solteiro! Um doce inestimável, se querem saber. Eu daria tudo pra casar com ele… Mas duvido que os céus me fariam esse favor.
Solteiro, ela disse?
Eu ri por dentro. Mas não de alegria, claro.
Aquele homem ainda era meu marido, de acordo com a lei. Sim, porque o maravilhoso CEO da primeira página se recusava a me conceder o divórcio. Tecnicamente, nosso casamento sequer foi consumado, o que me daria motivos para anular tudo. Mas, vamos ser sinceras, anunciar isso publicamente seria uma humilhação que eu não estava disposta a enfrentar.
Queria poder gritar, mas estava eu, ouvindo um grupo de mulheres apaixonadas elogiando aquele que eu mais queria esquecer. Meu dente latejava de dor, mas a verdadeira dor era ter que suportar os comentários ensandecidos sobre o “deus” da primeira página.
Eu não aguentava mais. Senti que, a qualquer momento, meu dente ia explodir de tanto que doía, então me levantei e fui até a recepcionista, lutando para parecer menos miserável do que me sentia.
— Você poderia me encaixar logo? — implorei, com os olhos cheios de lágrimas. — Estou com muita dor.
Ela me olhou, impassível, como se já estivesse acostumada a ver pessoas se desfazendo na sua frente.
— Desculpe, senhora, mas sem agendamento prévio, terá que esperar sua vez. O dentista está com os pacientes agendados…
Pacientes agendados? Isso era sério?
A dor no meu dente atingiu um novo nível. Senti um frio percorrer minha espinha, e antes que a mulher pudesse terminar sua frase, tudo escureceu.
Senti uma mão pousar em meu ombro, firme e ao mesmo tempo hesitante. Virei o rosto e encontrei Alexander ali, parado como uma estátua de gelo. Seus olhos sempre impassíveis, agora tinham um quê de desconforto.Antes que pudesse evitar, me joguei nos braços dele, agarrando sua camisa com força. As lágrimas se intensificaram, e eu soluçava como uma criança perdida. Alexander ficou rígido, os braços ao lado do corpo. Depois de um instante interminável, ele ergueu uma das mãos e deu um tapinha nas minhas costas, como se eu fosse um animalzinho que precisava de consolo.— Vai ficar tudo bem — ele murmurou, a voz soando mais como uma obrigação do que um conforto.— Se ele morrer… — minha voz saiu entrecortada. — É minha culpa. Tudo isso é minha culpa.Alexander não respondeu, apenas continuou ali, oferecendo o único consolo que sabia dar: sua presença fria e impenetrável.Os minutos se arrastaram até que, finalmente, uma dupla de médicos se aproximou. Levantei de um pulo, me afastando de Al
Os dias passaram e meu humor oscilava entre pânico absoluto e surtos de irritação. Conferi a reserva no hotel pela milésima vez, chequei a decoração, as bebidas, os pratos… tudo precisava estar perfeito. Eu estava prestes a me declarar para Pedro e, se ia me humilhar, que pelo menos fosse num cenário digno de cinema.Para piorar, Charlotte não ajudava em nada. Ou melhor, ajudava, mas com aquela paciência insuportável, como se estivesse esperando o momento exato para dizer “eu avisei”.Peguei o telefone e liguei para ela novamente.— Charlotte, eu só quero confirmar se você acha mesmo que esse plano é o melhor.O silêncio dela do outro lado foi cortante.— Lily, se você me ligar mais uma vez para perguntar a mesma coisa, eu juro que vou fingir que não te conheço.Bufei, andando de um lado para o outro do quarto.— Então é assim? Na hora de se meter na minha vida, você é especialista, mas quando eu preciso de apoio, você some?— Lily, pelo amor de Deus…— Você nunca foi minha amiga de v
Joguei-me na cama, pressionando o rosto contra o travesseiro, mas nada impedia minha mente de girar. O caso de Sebastian Valle voltou como um pesadelo recorrente. Ele sempre foi um canalha, daqueles que se acham, acima de tudo, intocáveis. Lembrei do nosso último encontro, do modo como ele se aproximou de mim sem permissão, das palavras sujas que sussurrou achando que poderia me dobrar como tantas outras mulheres antes de mim.Eu o afastei, claro. Não sou do tipo que abaixa a cabeça. Mas o problema de gente podre como ele é que, quando contrariados, tornam-se perigosos. E Sebastian provou que sabia jogar sujo.Depois daquela noite, ele fez questão de me lembrar que o mundo pertencia a homens como ele. Telefonemas no meio da madrugada, mensagens implícitas de que nada ficaria barato, olhares carregados de promessas que me davam náuseas. Ele queria me lembrar de que poderia conseguir o que quisesse — de um jeito ou de outro.E então, de repente, ele estava morto.Meu irmão era implacáv
Passei a noite em claro. Amanheceu e as horas passaram enquanto eu não conseguia manter minha mente sã. Comecei a gritar e jogar coisas na porta, tentar chamar a atenção dele, mas nada.Em algum momento ele deixou a comida e não toquei nela. Minha fome foi substituída por algo pior: um peso que apertava meu estômago, tornando impossível qualquer tentativa de engolir.Quando ele voltou, já era madrugada.— Hora de ir para casa. — Anunciou com um sorriso.— Vai me deixar ir assim?Ele não respondeu, apenas me entregou um espelho pequeno. Olhei meu reflexo: estava bem vestida, sem um único arranhão, embora a maquiagem precisasse de um retoque. Leo me deixou em um bairro de luxo, onde consegui pegar um táxi sem chamar atenção. O motorista sequer questionou minha expressão cansada. Fiquei em silêncio o caminho todo, a cabeça um caos.Ao chegar em casa, mal passei pela porta e minha mãe já estava me esperando, os olhos inflamados de raiva e preocupação.— Onde diabos você estava?! — A voz
O mundo oscilava ao meu redor. O entorpecimento em meus membros era sutil, mas presente o suficiente para tornar cada passo uma batalha. Meu coração batia rápido, não por pânico, mas por raiva. Eu deveria ter previsto isso.Leo Kermich me arrastava para fora do restaurante como se eu fosse uma acompanhante complacente, o braço firme ao redor da minha cintura, os dedos pressionando minha pele como um lembrete silencioso de que eu não tinha escolha. Meus seguranças? Inúteis. Ou melhor, traidores. E eu deveria saber que isso aconteceria.— Parece surpresa, senhorita Speredo — Leo murmurou, um tom de escárnio em sua voz.Pisquei lentamente, forçando minha mente a se manter lúcida.— Nem um pouco — respondi. — Mas me decepciona que tenham sido tão burros a ponto de pensar que poderiam trair minha família e sair ilesos.Ele riu, baixo e indulgente.— O dinheiro é um argumento poderoso. E, sejamos sinceros, nem todos respeitam a forma como sua família impõe sua influência. Há muita gente ans
Eu não dormi. Nos primeiros dias, achei que fosse só ansiedade. Depois, virou insônia pura e simples. Eu revirava na cama, chutava os lençóis, olhava para o teto e amaldiçoava minha própria mente por me torturar. Mas nada adiantava. O pior de tudo? Eu sabia exatamente o motivo. Pedro. A ideia de que ele pudesse rejeitar essa proposta, de que pudesse olhar na cara do meu pai e dizer um simples “não”, fazia meu estômago revirar como se eu tivesse engolido um tijolo.E o pior era que meu pai não ajudava em nada. Na manhã do quarto dia sem dormir, eu desci para o café e o encontrei no escritório, revisando papéis com sua paciência infernal. Como se minha vida amorosa não estivesse por um fio. — Alguma novidade? — perguntei, tentando soar casual. Ele nem levantou a cabeça. — Sobre o quê? Eu quase taquei o bule de café nele. — Sobre Pedro, pai! Você já falou com ele ou está esperando que o destino resolva tudo sozinho? Ele largou os papéis e se recostou na cadeira, cruza
Último capítulo