Num dos mais ricos bairros do Rio De Janeiro, conhecemos Manuela, uma jovem de dezenove anos mimada e acostumada com uma vida de luxo, vê seu mundo virar de cabeça para baixo ao descobrir que está grávida de um rapaz que conheceu em uma festa. Desesperada, ela é expulsa de casa pelos seus pais ricos, esnobes e tradicionais, que não aceitam a situação. No entanto, o que Manuela não imagina é que o pai do seu filho é ninguém menos que o temido dono do morro do Vidigal, um homem com uma vida completamente diferente da sua. Agora, grávida, sozinha e com uma responsabilidade enorme, ela se vê presa entre duas realidades opostas, enfrentando desafios que jamais imaginou.
Ler maisAcordei às seis da manhã para mais um dia cansativo, entre tantos outros. Eu morava em uma mansão considerada perfeita, em um dos bairros mais exclusivos da Zona Sul do Rio de Janeiro, o Leblon. Cresci cercada por mansões luxuosas, prédios de alto padrão, celebridades e empresários influentes, e meus pais eram um deles.
— Manu, você tem que se arrumar. — Dulce apareceu em meu quarto e eu apenas a olhei.Dulce era uma das empregadas que trabalhavam aqui em casa. Ela me criava desde pequena, já que meus "pais" não cumpriam esse papel frequentemente. Minha mãe, Mirelle Montenegro, só pensava em moda, dinheiro e status. Meu pai era até amoroso em certos pontos, mas fazia todas as vontades da minha mãe e acabava se tornando fútil igual a ela.Certa vez, perguntei à minha mãe por que ela agia com tanto descaso comigo. "Por que, se eu não for dura com você, você vai ser uma ninguém, pobre e amargurada. É isso que você quer ser?", foram as palavras dela. Bom, não podia mudar de pais.— Já estou indo, Dulce. — disse, levantando-me com certa dificuldade. Não queria sair da cama quente.Levantei, abri o closet, peguei uma calça jeans de lavagem escura e o uniforme da escola, que, inclusive, era ridículo, e tomei um banho. Como eu pouco me importava com minha "aparência", apenas molhei meus cabelos e saí do banheiro. Me olhei no espelho e estava com uma aparência horrenda.Peguei minha mochila e desci até o andar de baixo, onde meus pais estavam tomando café da manhã, em silêncio como sempre.— Bom dia, quebrei o silêncio.— Bom dia. - responderam em uníssono.— Alex, podemos ir? - falei com o motorista da minha casa, que assentiu.— Não vai comer nada? - minha mãe falou sem me olhar.— Na escola, eu compro algo,tchau! - coloquei minha mochila nas costas e saí em direção ao carro. Eu estava no último ano do ensino médio, me atrasei um pouco nos estudos porque viajamos e passamos dois anos em NY, passeando. enfim, culpo a minha mãe por isso e na época eu achava o máximo, hoje ela cobra de mim como se pudesse dizer algo.Meus pais, como sempre, não me deram atenção, mas isso já não me afetava, quer dizer, só um pouco. Eu já estava acostumada com essa má relação com minha família. Só estávamos bem nos eventos, na mídia, ou seja, vivíamos de aparência.— Você não precisa me buscar, Alex. Irei para a casa da Paula ao sair do colégio.— Mas senhorita, eles sabem disso? — ele questionou.— Sabem. — assenti e saí do carro, entrando no colégio.Minha mãe tinha deixado, pois os pais da Paula eram ricos e influentes. Só podia ser.Recebi vários sorrisos e pessoas acenando para mim. Retribuí a todos e entrei com nariz empinado. Eu era muito popular nesse e em todos os colégios que já estudei.— Amiga. — Luísa e Paula falaram em uníssono, vindo em minha direção.— Oi, gatas. — demos um beijo de lado.Conversamos um pouco e, ao ouvir o sinal bater, entramos na sala de aula.As aulas passaram voando, até chegarmos na última de matemática. Era o professor mais chato, com a matéria mais chata. Meu Deus, eu odiava as aulas de sexta-feira!— Parece que essa droga de aula passou demoradamente, até que acabou. Ufa. Que alívio.Peguei minha mochila e fui em direção ao carro da Paula. Eu passaria a tarde e dormiria lá. Graças a Deus, ficaria pelo menos um dia livre da minha mãe.No caminho, Luísa e Paula continuaram conversando animadamente, e eu recebi uma mensagem do Léo, meu primo por parte de pai e meu melhor amigo, apesar de minha mãe não aprovar nossa aproximação. Muitos devem estar se perguntando o porquê, já que ele é meu primo.O pai de Léo, que é primo do meu pai, era rico, mas faliu devido a uma certa "corrupção" na empresa. Esse é o motivo pelo qual meus pais não querem que eu tenha amizade com meu próprio primo."Fazendo o quê, pequena?""Estou indo para a casa de uma amiga, Léo. Depois nos falamos, pode ser?""Pode sim, beijos. Estou ocupado também. Trabalho.""Besta, vai trabalhar."Guardei o celular e Paula continuou o caminho falando sobre como era bom ser rica e ter tudo o que queria, ser melhor do que todos, etc. Paula era minha amiga, mas às vezes era tão fútil!Chegamos à casa dela e, como sempre, os pais não estavam. Almoçamos e fomos para o quarto dela.— Manu, vou dar uma festa em um espaço incrível hoje.— Mas e seus pais, Paula?— Eles estão viajando, não precisarão saber de nada. — ela sorriu.— Já que você não vai estar aqui, eu vou para casa.— Nada disso, mocinha. Você vai!— Mas...— Nem "mas" nem "menos". Eu falo com sua mãe. — ela pegou meu celular e ligou para minha mãe.Minha mãe permitiu, e Paula sorriu vitoriosa. Minha mãe me deixaria ir até para o inferno se fosse com amigas ricas e de boa família.— Ah, tá bom. Eu não trouxe roupa para a festa! — disse cabisbaixa.— Ou eu te dou uma nova que eu nunca usei, ou vamos buscar na sua casa. — ela sugeriu.Fomos para minha casa e eu escolhi a roupa que iria usar. Optei por um vestido rosa com detalhes em renda e um salto preto. Pegamos a roupa, passamos na sorveteria e voltamos para a casa da Paula.Me arrumei, vesti meu vestido, que ficou super lindo valorizando meu corpo, e fiz alguns cachos nas pontas dos meus cabelos lisos. Fiz uma maquiagem um pouco mais intensa e, nossa, eu estava linda.— Uau, você está linda. — Paula me elogiou e eu sorri.— Você também não está de se jogar fora. — brinquei, e ela fez uma cara feia.— O que? Eu sou linda, meu bem.— Eu sei, amiga. Brincadeira. Vamos? — ela assentiu, e fomos para o carro.Eu estava indo para essa festa também para afrontar meus pais.Chegamos na festa que Paula organizou, e nossa, estava tudo lindo.Tinha vários jovens que aparentavam ser de classe alta, e algumas pessoas suspeitas, mas enfim. E algumas patricinhas esnobes, bem do tipo que Paula gostava de andar. Até Léo estava na festa com um rapaz que não parava de me olhar. Logo, Luísa chegou e me chamou para bebermos algo. Eu não gostava de beber, pois era muito fraca para bebidas.Mas bebi. Eu estava numa vibe bem louca quando eu esbarrei com um garoto, justamente o que estava com Léo. Ele era alto, moreno, quase chegando a ser negro, um negro muito bonito, tipo aqueles playboys, olhos verdes. Ele era muito lindo, não vou negar. Era do tipo de boy que gostava de me agarrar.— Oi, festa legal não é? - ele sorriu para mim.— Oi, sim- apenas sorri timidamente.—Meu nome é Felipe, e o seu? - ele me olhou de cima a baixo.— Manuela, mas prefiro ser chamada de Manu pelos íntimos - sorri, mostrando os dentes.— Hmm - ele sorriu.Bebemos e dançamos. Todo mundo estava curtindo, eu já estava muito alterada e ele também. Fui para perto das meninas e continuei dançando e trocando olhares com o garoto, eu de um lado, ele do outro. Não vou negar, ele estava afim de mim e eu também estava muito.O som cada vez ficava mais envolvente.—Manuela você está bebâda? - Léo passou por mim tentando me segurar pois eu estava cambaleando.— Ah Leonardo, me deixa, está até parecendo um fiscal. - me soltei dele indo em direção ao rapaz com quem estava flertando a festa quase inteira.Era nessas horas que eu me sentia livre, quando estava fora de mim, para não lembrar da merda que minha vida é.— Vamos ali, beber alguma coisa - ele cochichou em meu ouvido por conta do barulho.Fomos para o bar. Ele estava me dando mole, isso não posso negar, e eu também estava a fim.Procurei pelas meninas, mas não as achei, e agora como eu ia para casa? Resolvi pedir um uber, mas o tal do Felipe se ofereceu pra me levar pra casa. Aceitei, né. Melhor do que ir de uber.No caminho, o clima foi esquentando, e eu permiti os seus toques.—Vamos pra minha casa, aqui mesmo na zona sul - ele sussurrou, beijando meu pescoço.Apenas consenti.Chegamos em seu apartamento, eu não estava nada sóbria. Ele me levou até o lugar que suponho ser o seu quarto, e nós deitamos na cama.Eu não pensava em nada, apenas no beijo doce que ele me dava, nossas línguas se entrelaçaram como uma verdadeira dança.Ele pediu permissão para tirar meu vestido, e eu apenas assenti. Não estava ligando pras consequências e eu nem sabia o que estava acontecendo.Só senti ele entrar em mim, e gritei. Foi uma dor absurda, mas logo me acostumei. Rebolei por cima dele, arranhei suas costas.Só não sabia as consequências que estavam por vir.Manuela narrandoAlguns longos meses se passaram após a bem-sucedida inauguração da minha boutique. Era incrível como a vida podia mudar tanto em tão pouco tempo. Eu, que um dia fui apenas uma menina perdida, sem saber como lidar com uma gravidez e abandonada por meus pais, agora estava construindo tanta coisa boa. O meu preconceito com o morro, era algo que eu não consigo entender, hoje eu vejo que aqui existem pessoas melhores, bem melhores do que o meio sujo onde eu vivia entre os ricos.Minha vida ainda era marcada por traumas difíceis de superar, desde o sequestro até minha vida com Mirelle, mas quando eu olhava ao redor e via tudo o que eu e meu neguinho havíamos construído, percebia que nada disso importava mais. Cada desafio que enfrentei me tornou mais forte, e eu estava determinada a criar o que eu mereço.Enquanto eu estava na cozinha, pensandosobre tudo e os obstáculos que havia superado, ouvi a voz de Felipe me chamando. Sua expressão parecia preocupada e apressada.— Amo
Manuela narrandoAlguns meses haviam se passado desde aquela noite incrível em que Felipe me surpreendeu com a boutique dos meus sonhos. Durante esse período, trabalhei incansavelmente para tornar esse lugar um espaço verdadeiramente especial.Reuni uma equipe talentosa que compartilhava minha visão e paixão pela moda. Juntos, transformamos a boutique em um local que representava meu estilo e minha personalidade. Cada detalhe foi cuidadosamente pensado, desde a decoração até a disposição das roupas.E o mais emocionante de tudo foi a criação da minha primeira coleção, que levaria meu nome. Minha inspiração foi o estilo sofisticado e, ao mesmo tempo, básico, que sempre admirei. Cada peça era uma extensão de mim mesma, e colocar minha criatividade em prática foi uma experiência incrível.Finalmente, o dia da inauguração chegou. Era um momento que eu havia sonhado durante toda a minha vida. Convidamos amigos, familiares e clientes em potencial para celebrar essa conquista conosco.A fest
Felipe narrandoCheguei ao topo do morro, observando a vista que tantas vezes me trouxe conforto, mas também me fez chorar. Era uma visão que representava minha história, minha jornada. Lá embaixo, podia ver a festa do chá revelação, com todos os rostos sorridentes e ansiosos pela revelação do sexo do bebê. A música e as risadas chegavam até mim, mas eu precisava desse momento de reflexão. Lembrei-me de quando era apenas um menino, perdido e assustado após a morte de meus pais. A responsabilidade de cuidar de Flavia minha irmã recaiu sobre meus ombros. Foi difícil, e houve momentos em que pensei tantas vezes em desistir de tudo. Chorava secretamente no topo deste morro, escondendo minhas lágrimas e fraquezas do mundo.Mas agora, olhando para trás, percebo o quanto cresci e evoluí. Não apenas me tornei o irmão mais velho que a minha irmã precisava, mas também o parceiro e marido que Manuela merecia. A vida nos ensinou duras lições, mas também nos presenteou com momentos de alegria e
ManuelaMinha vida no morro estava voltando à ativa com força total. Eu havia mergulhado de cabeça nos projetos comunitários, determinada a fazer a diferença na comunidade que me viu crescer. Com meu retorno, eu percebi que podia usar minha experiência e educação para contribuir positivamente.Comecei a me envolver em diversos projetos, desde workshops de moda para jovens talentosos até a organização de eventos culturais para arrecadar fundos para a comunidade. Era incrível ver como as pessoas do morro estavam dispostas a trabalhar juntas para construir um futuro melhor.Felipe estava ao meu lado, apoiando cada passo que eu dava. Ele compartilhava minha paixão por ajudar a comunidade e estava disposto a ajudar de qualquer maneira que pudesse. Nossa parceria não era apenas no relacionamento, mas também em nossos esforços para tornar o morro um lugar melhor.Enquanto eu mergulhava em projetos comunitários, também estava ocupada planejando o início do meu próprio negócio de moda. Eu havi
O churrasco estava marcado para o dia seguinte, e enquanto eu me arrumava na frente do espelho, refletia sobre a jornada que me trouxe de volta ao morro. Meu vestido era simples, mas elegante, um contraste com a vida agitada que eu havia abraçado.Felipe estava ao meu lado, ajudando-me com os últimos ajustes, seu olhar carregado de admiração. Ele havia conquistado muito desde que deixamos o morro, e agora vivíamos em uma casa espaçosa lá em noronha, mas o rio de janeiro é o meu lugar, mas o amor que compartilhávamos era o mesmo que nos uniu desde todo o inicio complicado.Eu mudei tanto. Uma patricinha que queria tirar o proprio filho, odiava a todos. Eu era mesquina e reconheço, mas tudo isso foi parte da minha criação. Eu não odeio Mirelle, pelo contrario , tenho pena dela. Mas sinto alivio por ela não ser a minha mãe de sangue eu confesso. Meu pai me mostrou fotos de Gabriela, minha verdadeira mãe, a minha filha era sua cópia fiel. Minha mãe era linda, olhos azuis cabelos loiros as
ManuVoltei ao morro após um tempo que pareceu uma eternidade. Era estranho pisar novamente nas ruas que me viram crescer, com aquelas casas de cores vivas e os becos estreitos que eu conhecia como a palma da minha mão. A saudade apertava meu peito, mesmo sabendo que estava voltando para minha família e meus amigos de longa data.Assim que desci do carro e coloquei os pés na calçada irregular, uma onda de nostalgia me envolveu. O cheiro das comidas de rua misturado com o barulho de risadas e música alta era como uma melodia familiar. As paredes grafitadas com mensagens de esperança e resistência me lembravam de onde eu vinha e das lutas que enfrentávamos juntos.Caminhei pelas ruas estreitas, cumprimentando os vizinhos e amigos que passavam. As crianças brincavam animadas na calçada, e eu sorri ao ver seus rostos alegres. Uma parte de mim desejava que Ana Clara pudesse crescer aqui, com todas essas crianças que a receberiam de braços abertos.Enquanto subia a ladeira em direção à casa
Último capítulo