Capítulo 04: "O teste de gravidez".

Mais um dia de tortura indo para aquela escola, e eu não conseguia me concentrar em nada. Calcei um Vans branco com listras pretas, fiz um rabo de cavalo nos cabelos e passei uma maquiagem simples para tentar disfarçar minha cara de choro. Peguei os livros das respectivas matérias de hoje e desci.

Meus pais já tinham ido para o trabalho, dei bom dia a Dulce e já ia saindo de casa quando ela me chamou para um canto.

— Manu? Você tem que comer algo.

— Dulce, desculpa, mas eu não quero comer. Não sinto vontade de fazer nada, só chorar.

— Mas você tem que se alimentar. Isso faz mal.

Ela tinha razão, e se eu estivesse grávida? E se passasse mal na escola, todos iriam saber do meu desprazer!

Entrei no carro e fui em silêncio... Não tinha mais prazer em nada na vida. Por que? Por que tudo isso estava acontecendo comigo?

Ao chegar no colégio, fiquei sentada mexendo no celular até que Paula chegou perto de mim.

— O que você quer? — disse seca.

— Eu vim te pedir desculpas!

— Pelo quê mesmo? — fingi não me importar.

— Minha mãe me proibiu de andar com você, Manuela. Disse que você é uma má influência.

— Hmm, que bom para você. — sorri e saí do lugar, indo em direção à sala.

As aulas passaram rápido, se é que eu consegui prestar atenção em algo.

Saí esbaforada do colégio e fui em direção à sorveteria onde marquei de encontrar o Léo, que ficava perto do colégio. Mandei uma mensagem para ele, e logo ele respondeu dizendo que já estava chegando.

Me sentei em uma das mesas da sorveteria e fiquei esperando o Léo, com o coração na mão.

— Pequena? — ele chegou por trás de mim, me dando um pequeno susto.

— Ai que susto, Léo.

— Desculpa, não era minha intenção. Mas e aí, como você está?

— Bem mal. — suspirei. Eu quero morrer, Léo.

— Não fala isso nem de brincadeira. Não vou deixar isso acontecer. Você está bem? Está pálida.

— Tudo bem. Só estou enjoada e um pouco nervosa também.

— Abre a mochila, que vou te entregar o negócio. — ele tirou o teste de gravidez da sacola e me entregou discretamente por debaixo da mesa.

— Obrigada. Está parecendo que você está me passando drogas. — sorri. E agora, o que eu faço? — perguntei sem entender, nunca havia utilizado um teste de gravidez antes.

— Eu também não sei como fazer isso, mas tem as instruções.

— Léo... E se eu realmente estiver esperando um filho?

— Se for, Manu, você vai ter que enfrentar e falar com o Felipe. Ele precisará assumir as responsabilidades de pai. Mas você precisa saber de algo antes.

— O quê? — minha curiosidade foi despertada.

— Olha, esquece. Só faz o teste e me conta imediatamente o resultado, tá? Estou de folga hoje, estou disponível a qualquer hora para você. Te amo, prima.

— Valeu, eu vou indo. Estou nervosa, sinto como se meu coração fosse pular pela boca.

— Vai dar tudo certo, e se não der, vamos dar um jeito. — ele me beijou no rosto, e eu peguei um táxi para ir para casa.

Cheguei em casa, e minha mãe estava almoçando. Meu pai não estava em casa, provavelmente tinha tido uma reunião de negócios urgente. Passei pela grande sala de jantar sem falar com ela, mas foi inútil.

— Oi pra você também, Manuela. — ela disse de forma grosseira.

— Oi, mãe. — respondi sem graça.

— Vou sair. Tenho um desfile super importante para ir hoje. Deixei pessoas de vigia. Nem pense em sair de casa.

— Hm. Legal. — dei de ombros e subi.

Era incrível, ela só se importava com trabalho, reuniões, desfiles... Droga, a vida não era só isso. A vida era amor, era cuidar dos filhos, era ter uma família. Coisas que eu nunca saberia o que significavam.

Fui até o quarto rapidamente, tranquei a porta do banheiro e tirei o teste da mochila.

— Vamos lá, Manuela, vai dar negativo, você vai ver. — pensei em voz alta.

Fiz como indicava ali, mais trêmula do que qualquer coisa, fiz xixi no teste e fiquei ainda mais nervosa ao ler na bula que o resultado apareceria entre 3 e 5 minutos...

Esperei os "dolorosos" minutos que mais pareciam uma eternidade até que o resultado apareceu, e...

Dois tracinhos? Não, não podia ser. Meu Deus, não podia ser. Uma noite havia estragado toda a minha vida. O que seria de mim agora? Eu estava literalmente "lascada".

Minha única reação foi ligar para contar ao Léo.

— Léo? — falei com a voz falhada.

— Fez o teste? — ele parecia nervoso.

— Vem aqui, por favor. — disse isso e desliguei o telefone.

Não tinha reação para nada, me abaixei e fiquei ali no chão do banheiro, calada. Nem chorar eu conseguia, as lágrimas não saíam. Só conseguia sentir uma dor na alma, uma pontada no coração. A negação tomava conta de mim. por mais que eu já fosse de maior eu não tinha nada, nem a escola eu conclui ainda.

— Manu? — Léo me chamou, mas eu não conseguia responder, só conseguia chorar. — Manuela, me responde!

— Estou aqui. — falei baixinho.

— O teste deu positivo?

— Olha... — mostrei o teste para ele, ainda chorando.

— Positivo. — ele suspirou, e eu assenti, ainda chorando. — Caralho, fica calma. — ele me abraçou.

— Como você quer que eu fique calma? — me levantei e me debrucei sobre a pia.— Minha mãe vai me matar vai tirar tudo de mim.

— Você tem que ser forte, Manu. Olha pra mim. — ele virou meu rosto. — O que eu vou te contar é uma barra. Me desculpa, eu devia estar te vigiando naquela festa, se fosse por mim, isso não teria acontecido. — ele esmurrou a parede.

— A culpa não foi sua. Minha mãe tem razão, eu sou uma qualquer. Eu que quis ficar com ele, eu caí no primeiro cara que me apareceu. — chorei ainda mais.

— Ei, você não é uma qualquer! Olha pra mim. — olhei para ele com os olhos vermelhos. — Eu vou te contar uma coisa, mas não estou conseguindo contar.

— O quê, Léo? Fala logo, por favor. Pior não pode ser. — disse entre soluços.

— Felipe, ele... — ele respirou fundo.

— Ele é casado? O que é?

— Pior que isso! Ele é o... Dono do morro da Vidigal. — ele falou rapidamente, como se tivesse se livrado de um peso.

— Não. Pelo amor de Deus, diz que isso não é verdade, Leonardo. Por favor.

Meu mundo caiu ali em instantes. Eu não sabia o que fazer dali em diante.

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