Ana
O ronco do motor do meu Corsinha vermelho 2008 encheu o ar nas manhã de domingo, e eu não consegui segurar o sorriso que se abriu no meu rosto. Depois de semanas na oficina, finalmente consegui trazer o alternador — ou seja lá o que fosse que ele fizesse apagar no meio da rua como um velho teimoso. O vermelho desbotado da lataria ainda brilhava um pouco sob o sol, e as quatro portas rangiam como sempre, mas aquele carro era mais do que um monte de peças velhas. Foi o primeiro que eu consegui comprar, juntando cada centavo de um emprego meia-boca que mal pagava as contas. Por um tempo, ele foi mais do que um carro — foi o abrigo que eu e Emily contou, nossa casa sobre rodas, andamos as vezes sem rumo, com o banco de trás virando cama e o porta-malas guardando o pouco que eu carregava. Ouvi-lo roncar de novo era como reacender um pedaço da minha história que eu tinha guardado num canto escuro da memória.
Emily batia palminhas no banco do passageiro, o cinto bem preso, os olhos brilh