CAPÍTULO 1

*Dias atuais*

O alarme toca com seu som estridente. Abro os olhos com certa dificuldade devido à claridade do quarto. Esqueci novamente de fechar as janelas. Respiro fundo e suave; segunda-feira não é um dos meus dias favoritos. Levanto da cama, livrando-me dos lençóis e calçando minhas pantufas.

— Uh, que frio... — esfrego os braços, observando a cortina que balança mais forte do que o normal. Aperto um pouco os olhos ao ver que o tempo hoje está fechado.

Me espreguiço, agradecendo a Deus por mais um dia de pé, pela oportunidade de enfrentar mais um dia da vida adulta.

Ando pelo quarto em busca da minha toalha. Desde que fiz vinte anos, tenho tentado criar o hábito de me priorizar ao acordar, em vez de pegar logo no celular. Encontro a toalha dobrada em cima do encosto da minha cadeira de estudos. Cheguei em casa tão exausta ontem que não tive coragem de pendurá-la no lugar correto.

— Que hoje o mundo seja mais gentil comigo, amém. — Penso.

Só respira, respira.

Ligo o chuveiro na temperatura mais quente, tomando cuidado para não molhar os cabelos. Tomo um banho rápido, mas eficaz, e logo parto em direção ao guarda-roupa. Pego uma blusa leve de cor creme, uma saia lápis preta e o meu blazer mais grosso e pesado. Calço um salto bloco baixo e vou para a frente do espelho, soltando meus cabelos, que são lisos e estão com ondas naturais por conta do coque já desfeito.

Faço uma maquiagem básica, mas não passo máscara de cílios. Na última chuva que enfrentei, cheguei parecendo um urso panda. Isso me lembra que preciso de maquiagens de maior qualidade.

Passo as mãos na saia, me autoavaliando através do reflexo do espelho à minha frente.

— Ficou ótimo! — dou um sorriso para mim mesma, pego a bolsa em cima da cama e saio do quarto.

— Bom dia — me dirijo aos meus pais, já sentados à mesa para o café da manhã.

— Pronta para a reunião de hoje? — Nem um bom-dia, nem um "tudo bem?". Vamos direto aos negócios.

Minha mãe me avalia enquanto mexe o café dentro da xícara.

— Essa saia não está um pouco amassada?

Amassada? Sua cara. Sinto vontade de dizer.

Finjo um pequeno sorriso e me sento à mesa para comer. Ontem, como cheguei tarde, não consegui ao menos jantar.

— Filha, sua irmã hoje não vai poder estar presente. Por conta do noivado, decidiu viajar com o Pablo e só retorna no mês que vem — minha mãe fala, e logo sinto meus ombros encolherem. Apesar de tudo, Milena é a pessoa com quem divido algumas tarefas no escritório. Se ela não está, fico ainda mais sobrecarregada.

— A reunião de hoje é importante. Precisamos alinhar algumas coisas com o prefeito. Ano que vem é período de eleição novamente e, ao que parece, ele tem planos para o centro da cidade.

Aceno com a cabeça em sinal de entendimento. Calçar as ruas que é bom, nada.

Ano passado, em uma visita a uma escola em reforma para o lado do interior da cidade, pude ver como é péssimo o acesso. Nos dias de chuva como hoje, tudo vira lama e bagunça.

— Certo. Gostaria de lembrar ao senhor que mais tarde tenho outra reunião referente à obra na mansão dos Gadelha — Sem minha irmã aqui, sei que ele vai me segurar ao máximo no escritório hoje, mas tenho compromissos além desse.

— A obra deles está atrasada há quinze dias. O senhor Gadelha está chateado, pois a qualquer momento o bebê deles pode nascer e nada está pronto ainda. — termino de dizer.

Como rapidamente um pão de queijo que está fresquinho e logo pego mais um. Sinto que posso engolir um leão hoje.

— Besteira. Obras sempre atrasam. Se estava com pressa, deveria ter fechado contrato conosco antes. — Enquanto ele fala, já estou com um espeto de queijo com presunto na boca.

Penso que, se foi combinado em contrato um prazo de entrega, ele deve ser cumprido, mas, como sempre, guardo minhas opiniões para mim.

— Cuidado com a comida — minha mãe me olha em julgamento. Ser acima do peso e comer na frente dela são coisas que não combinam.

Eu me sinto bem comigo mesma, mesmo não sendo magra. Tenho 1,62 de altura e peso 85 quilos, concentrados em partes estratégicas do corpo. Então, me sinto super bem em uma roupa justa, mesmo que minha mãe e minha irmã não pensem isso.

— Eu sei.

Vejo meu pai se levantar, e minha mãe o acompanha. Logo faço o mesmo e os sigo até entrarmos no carro.

Fiz vinte anos no mês passado e ainda não tenho um carro, apesar de saber dirigir. Trabalhando para o meu pai, não ganho mais do que uma estagiária, mas não tenho opções por enquanto. Minha irmã, quando fez dezoito anos, ganhou um Mini Cooper de presente, pois sempre foi seu sonho. O que eu ganhei? Um parabéns e as chaves do cubículo que nomearam como meu escritório. Por que eu não procuro outro emprego? Eu não sei. É muita pressão e não sei se aguentaria mais uma.

Um passo de cada vez.

———————————————

— Bom dia, Ana. Sabe me dizer onde colocaram os arquivos dos edifícios reformados este ano? — preciso conferir se está tudo corretamente lançado no sistema: notas fiscais, pagamentos e plantas atualizadas.

— Procurei na sala de arquivos, mas não encontrei. São documentos de extrema importância.

Ana é uma das auxiliares de secretaria da minha mãe e sempre fica perambulando entre os corredores. Como minha mãe não está sempre por aqui, Ana não tem muita tarefa a fazer, mas observa muito: a típica fofoqueira da empresa.

— Huum, acho que vi a Sra. Milena saindo com uma pasta de arquivos nos braços — ela se vira e olha para mim. — Deve ter ficado na sala dela, mas você pode acessar pelo sistema.

Lança a informação como se eu não soubesse.

— Preciso conferir se os dados dos arquivos conferem com os do sistema, mas obrigada.

É uma etapa importante. Como os últimos meses foram muito corridos, não tive tempo de fazer o balanceamento semestral. Geralmente, meu pai é quem cuida de toda essa parte burocrática, mas gosto de ficar por dentro, mesmo que ele não saiba e não goste. No futuro, parte dessa empresa será minha, então gosto de observar às escondidas e aprender com isso.

Bom, não tenho acesso às chaves da sala da minha irmã, então me resta esperar. Um atraso de um mês é o que vou ganhar, mas tudo bem.

Mais um mês depois de tantos meses não vai fazer tanta diferença assim.

Já na minha sala, aproveito os poucos minutos livres que tenho para relaxar e fechar os olhos na cadeira. Repasso os planos para hoje: reunião, almoço e reunião domiciliar.

Preciso de um lazer urgentemente. Sinto que posso ter um burnout. Quando foi a última vez que fui a um shopping ou à praia? Eu não lembro. Deve fazer mais de um ano. Ainda visito muitos restaurantes, mas, ainda assim, por questões de trabalho.

O celular toca novamente, sinalizando que a reunião está prestes a começar. Retoco meu batom vermelho e sigo para a primeira missão do dia: aguentar uma sala cheia de homens.

Adentro o ambiente, ainda mais gelado que lá fora por conta dos três aparelhos de ar-condicionado, e começo a colocar os folhetos em seus devidos lugares. Eles explicam sobre nossa empresa e o que somos. Depois da folha de apresentação, existem folhas de anotações que os visitantes podem utilizar para escrever sobre a reunião e levar para casa. Distribuo também algumas canetas personalizadas entre os assentos. Por fim, só vai faltar o café, que será servido quando chegarem. Hoje não teremos slides, então recolho a lona branca de projeção que fica à frente da mesa de reuniões.

— Perfeito, acho que é isso.

Assim que finalizo a organização da sala, a porta se abre e eu me posiciono estrategicamente na parede, com os braços à frente do corpo.

Os homens conversam superficialmente em um tom baixo, ajustando seus ternos e relógios. Típico de homens de negócios. Quando todos se sentam, o silêncio se faz presente. Meu pai se acomoda em sua cadeira de presidente e logo toma a frente.

— Bom dia, senhores. Fico muitíssimo grato em ver que aceitaram vir até a reunião. Temos algumas propostas e ideias; espero que possam contribuir conosco e analisá-las.

Meu pai acena para mim, e já sei o que devo fazer — ou melhor, trazer.

Café.

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