CAPÍTULO 2

Turismo rural. É isso que eles querem. Escuto e observo tudo com atenção; finjo ser um fantasma, como se um mínimo movimento meu pudesse estar errado.

— O estilo rural vem crescendo ultimamente. Está presente nas músicas, no estilo de se vestir e nas danças nas redes sociais entre os jovens. Podemos vender a ideia de preservação da natureza e, por consequência, ganhar dinheiro com isso — diz o homem bonito de olhos azuis ao lado do meu pai. Vejo que o prefeito não está presente; deve ser a pessoa que está o representando hoje.

— Minha ideia inicial era reestruturar edifícios públicos e construir praças em alguns bairros, mas vejo que, dessa vez, vocês querem coisas diferentes — diz meu pai. Quanta criatividade. Reviro os olhos. Pelo menos desta vez querem inovar.

— Isso mesmo. A oposição promete vir forte na próxima eleição, não queremos arriscar — o homem bonito diz, balançando a cabeça, e continua:

— Precisamos inovar. As famílias residentes aqui querem algo diferente para os fins de semana, algo que não seja shopping. Vamos usar como pretexto o aumento da atenção dos mais novos ao que realmente importa: o mundo real e a conexão com a natureza. — Ele faz um sinal de aspas com os dedos e complementa: — Isso vai impactar também no foco e no aprendizado nas escolas. Menos telas, menos distrações. — Ele pega seu tablet e abre a imagem de um grande parque com animais. Há famílias felizes, e subentende-se a conexão da natureza com toda aquela alegria.

— Bem, é esse tipo de pensamento que queremos que os turistas e as famílias residentes tenham. Podemos vender a ideia e, ao mesmo tempo, fazê-la funcionar. Dessa forma, vamos tocar no ponto fraco: a família e a educação.

— Já temos shoppings, grandes feiras, restaurantes do mais simples ao cinco estrelas. Mas, realmente, não temos uma área verde de respeito. Não aberta ao público — escuto um homem barrigudo dizer, concordando.

— Sim — o rapaz volta a falar. — Quanto aos turistas, isso também pode atrair mais famílias, visto que, ao longo desses anos, recebemos mais casais como visitantes.

Vejo meu pai assentir. Percebo que agora ele só quer escutar; suas ideias não fazem mais sentido para serem apresentadas.

— Queremos colocar animais. Cavalos, cabras. Precisamos também de um terreno grande, verde, com árvores e espaço para as baias dos animais. Coloquem bancos de madeira, estradas para as pessoas caminharem e realizarem atividades físicas, um lago superficial... Enfim, façam o projeto e nos enviem o orçamento, incluindo também o valor do terreno.

Meu pai assente e solta um pequeno pigarro. Posso ver em seus olhos a excitação por ter a oportunidade de participar de um projeto tão grande para a cidade.

— Pois bem, perfeito. Peço alguns dias. Precisamos encontrar o pedaço de terra adequado para realizar tamanho trabalho. Assim que encontrarmos o lugar ideal, montamos o projeto e enviamos por e-mail — meu pai se levanta, eufórico, estendendo a mão para o homem bonito, que logo se põe de pé também.

— Obrigado. Nos falamos em breve.

Depois de mais algum falatório, a sala de reunião se esvazia. Aproveito para organizar as cadeiras e recolher os papéis intocados.

Olho o relógio: já são 14h e ainda não almocei. Corro para minha sala, pego minha bolsa e desço de elevador para a rua em busca de um restaurante. Não posso mais negligenciar minha saúde ficando horas sem comer.

Depois de almoçar, escovar os dentes e descansar um pouco, chamo um Uber com destino à casa temporária da família Gadelha.

Não posso me atrasar. Já estamos causando muito transtorno com a demora da obra.

Sigo para o meu último compromisso do dia apenas desejando estar em casa, de preferência dormindo.

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