Capítulo 34
Milena
O mundo era feito de sons abafados e sensações fragmentadas. Um zumbido constante nos ouvidos, como um eco de outra realidade, preenchia meu silêncio interior. A primeira coisa que senti foi o peso do meu próprio corpo, afundado em algo macio. Em seguida, o cheiro familiar de antisséptico. Hospital.
Tentei abrir os olhos, mas as pálpebras pareciam feitas de chumbo. Meu corpo inteiro pesava como se eu tivesse corrido por horas, como se cada músculo tivesse sido esvaziado de energia. Respirei fundo, e o simples ato doeu.
Então veio a memória.
O carro. O impacto. O som dos vidros estourando. A porta sendo aberta à força. Mãos ásperas me puxando. Gritos. Um disparo. E depois… escuridão.
Meus filhos.
O pânico se instalou como uma onda, inundando meu peito. Fiz força para me mexer, para gritar, mas tudo que consegui foi um gemido fraco.
— Ela está acordando — ouvi uma voz baixa, desesperada, mas cheia de esperança.
Conhecia aquela voz. Era a voz dele.
Meus olhos finalment