O sol ainda não havia despontado completamente no céu quando Lilly foi liberada do hospital. A cidade acordava em silêncio lá fora, enquanto James a ajudava com calma a se vestir, com movimentos atentos, porém contidos. Não falavam muito — havia algo de denso entre eles desde a madrugada anterior.
No carro, o clima permaneceu quieto. James mantinha os olhos na estrada, mas, de tempos em tempos, lançava rápidos olhares para ela, como se precisasse se assegurar de que estava mesmo bem. Lilly, com uma faixa discreta na testa e o braço apoiado por precaução, segurava o desconforto da dor física… e o outro tipo de dor, aquele mais difícil de curar.
Ao chegar à casa, foi surpreendida por Emily correndo pela sala ao vê-la entrar.
— Lilly! — gritou a menina, jogando-se com cuidado
A casa estava mergulhada no silêncio quando James desceu as escadas, horas depois de Gabriel ter ido embora. Ele havia tentado trabalhar, escrever relatórios, ler contratos — mas não conseguiu se concentrar em nada. A imagem de Lilly no sofá, rindo com Gabriel, voltava à mente como uma cena teimosa que se repetia.A luz suave da sala ainda estava acesa. Ao se aproximar, viu Lilly sentada sozinha, enrolada em uma manta fina, olhando pela janela. O silêncio parecia confortável, mas seus olhos estavam distantes, inquietos.— Ainda acordada? — a voz dele quebrou o silêncio.Lilly se virou, um pouco surpresa.— Ah… não consegui dormir. A dor est&aa
O sábado chegou com o céu azulando aos poucos e uma brisa suave que invadia a casa pela varanda. Era o dia do tão aguardado Show de Talentos da escola de Emily, e a casa estava movimentada desde cedo. Dona Madalena preparava o café com carinho redobrado, enquanto Emily, eufórica, corria de um lado para o outro com sua roupinha de apresentação — um vestido lilás cheio de lantejoulas.— E se minha voz falhar, Lilly? — ela perguntou pela terceira vez enquanto tomava chocolate quente.— Sua voz não vai falhar — respondeu Lilly, com um sorriso paciente. — E se acontecer, você respira fundo e continua. O palco é só um lugar, Emily. O que importa é o que vem de dentro.Emily olhou para ela com aqueles olhos grandes e brilhantes. O víncu
O domingo amanheceu com um céu limpo e o calor suave que anunciava um dia perfeito para estar ao ar livre. Lilly acordou cedo para preparar algumas guloseimas: biscoitos amanteigados, brownies e pequenos potes de brigadeiro que Emily tanto amava. Mesmo com o braço ainda imobilizado pela tipóia, ela se virava com cuidado e delicadeza, determinada a tornar aquele dia especial.James, por sua vez, não disse muito durante o café. Mas seus olhos seguiam Lilly com mais frequência do que ele gostaria de admitir. Desde a apresentação na escola, algo dentro dele parecia se expandir — um sentimento difícil de nomear, que o deixava inquieto.Emily estava elétrica, falando sem parar enquanto pulava de um lado a outro da sala.— O parque vai estar lindo hoje! E eu quero mostrar pra Lilly aquele lugar onde a gente viu patinhos semana passada, lembra, papai?James assentiu com um sorriso discreto. O entusiasmo da filha era contagiante.No fim da manhã, os três estavam a caminho do parque. Lilly usav
A manhã seguinte ao piquenique amanheceu com o céu limpo e um sol morno que tornava o ar agradável. Lilly acordou mais leve do que imaginava. Apesar das borboletas em seu estômago, a lembrança do toque suave de James segurando sua mão lhe provocava um calor estranho, como se aquele gesto tivesse despertado algo que ela tentou ignorar por muito tempo.Estava na cozinha organizando os potes de brigadeiro quando seu celular vibrou. Uma nova mensagem de Gabriel:“Bom dia, Lilly! Pensei em você. Espero que esteja melhor. Será que consigo te convencer a aceitar aquele café hoje?”Ela encarou a tela por um instante, pensativa. Gabriel era gentil, simpático, bonito. Mas o que ela sentia quando estava perto de James… era outra coisa. Com os dedos hesitantes, respondeu:“Bom dia! Estou melhor, sim. Obrigada por perguntar. Acho melhor deixar o café para outro dia :)”Deixou o celular de lado, sentindo o coração bater em um ritmo estranho, como se algo dentro dela tivesse sido definido, ainda que
Lilly Harper estava acostumada a se virar sozinha. Desde que deixou a pequena cidade onde cresceu para estudar Pedagogia em São Paulo, aprendeu rapidamente que a vida na capital exigia mais do que apenas determinação – exigia sacrifícios.Aos vinte e cinco anos, morava sozinha em um apartamento modesto, com paredes finas demais e um aluguel que consumia quase tudo o que ganhava no café onde trabalhava meio período. O espaço era pequeno, mas era dela, e isso significava liberdade. Liberdade para construir seu próprio caminho, ainda que com dificuldades.Era magra, de estatura mediana, com longos cabelos castanhos que quase sempre usava presos em um coque desajeitado. Os olhos verdes eram vivos, cheios de sonhos que pareciam cada vez mais distantes conforme a realidade a empurrava para preocupações mais imediatas – como pagar a mensalidade atrasada da faculdade ou decidir entre jantar e economizar para o transporte.O trabalho no café era exaustivo. O turno começava cedo, e ela passava
James Carter não gostava de imprevistos. Sua vida era regida pela rotina, planejada nos mínimos detalhes para garantir que cada minuto fosse produtivo. Ele não era apenas um empresário de sucesso – era o CEO de uma das maiores empresas farmacêuticas do país, a Carter Pharmaceuticals, uma potência no setor de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos.Seus dias começavam cedo, antes mesmo do sol nascer. Após uma hora de treino intenso em sua academia particular, onde alternava entre musculação e corrida, tomava um banho frio e vestia um de seus ternos impecáveis. Cada peça era feita sob medida, sem rugas, sem falhas – assim como ele preferia manter sua vida.O café da manhã era sempre o mesmo: café preto sem açúcar e uma omelete leve, enquanto lia relatórios financeiros e respondia e-mails. Tudo em sua rotina era otimizado para eficiência.Às sete em ponto, o motorista já o esperava do lado de fora da mansão. Durante o trajeto até a sede da Carter Pharmaceuticals, localizada em um dos
Lilly respirou fundo antes de entrar no escritório. O ambiente era tão impecável quanto esperava: amplo, sofisticado, com móveis de madeira escura e uma grande janela panorâmica que exibia a vista da cidade. Mas o que realmente chamava sua atenção era o homem sentado atrás da mesa. James Carter. Ele vestia um terno escuro, sem um único amassado, e observava-a com olhos atentos, avaliando-a sem pressa. — Senhorita Harper. — Sua voz era firme, autoritária. — Sente-se. Ela obedeceu, mantendo a postura ereta. — Você tem experiência como babá? — James perguntou sem rodeios, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — Tenho experiência com crianças. Já trabalhei como voluntária em creches e dou aulas particulares para ajudar a pagar minha faculdade de Pedagogia. Ele ergueu levemente a sobrancelha, como se analisasse a resposta. — Mas nunca trabalhou como babá. — Nunca formalmente, mas cuidei de primos mais novos e filhos de amigos da família. James assentiu devagar. — Minha
Lilly respirou fundo antes de sair do táxi. O portão imponente da mansão Carter se erguia à sua frente, e ela sentiu um misto de ansiedade e empolgação. Era sua primeira manhã oficialmente trabalhando para James Carter e cuidando da pequena Emily. O emprego era um grande passo para sua estabilidade financeira, mas também algo totalmente novo em sua vida.Enquanto puxava sua mala em direção à entrada, a porta da casa se abriu. James saía apressado, ajustando o relógio de pulso, com a expressão séria de sempre. Ele vestia um terno impecável e segurava uma pasta de couro em uma das mãos. Ao notar Lilly, parou por um instante.— Você chegou cedo. — Sua voz era firme, sem traço de emoção.— Achei melhor não me atrasar no primeiro dia. — Ela sorriu, tentando amenizar a tensão natural que sempre sentia perto dele.James apenas assentiu, lançando um olhar breve para sua mala antes de olhar para o relógio novamente.— A governanta vai te mostrar tudo. Preciso sair agora. — Ele se virou em dire