Noah
Olivia era muito mais do que eu esperava. Inteligente, perspicaz, com uma firmeza que escondia a insegurança em seus olhos verdes. Ontem, enquanto negociávamos o contrato, ela se manteve resoluta, mesmo com as bochechas coradas e a voz tremendo ao falar da cláusula de não envolvimento físico. Quase a beijei ali mesmo, tomado por um impulso que não entendi. Ela era encantadora, de uma forma que eu não podia ignorar — inocente, mas não ingênua; frágil, mas não fraca. Meu avô, Ronaldo, vai adorá-la. Ele sempre disse que uma mulher decente me faria mudar, me redimir. Olivia parecia perfeita para o papel, mas algo em mim temia que ela fosse mais do que uma peça no meu jogo.Se eu escolhesse qualquer uma das socialites que minha mãe insiste em empurrar, Ronaldo perceberia o blefe em um piscar de olhos. Ele sempre viu através de mim, desde criança, quando tentava esconder minhas travessuras. Olivia, com sua autenticidade, era a escolha ideal para convencê-lo de que estou apaixonado. Mas precisava garantir que ele não suspeitasse do contrato. Se ele farejar que esse casamento é uma fachada, perco a cadeira de CEO — e tudo pelo que trabalhei a vida inteira.
Enquanto revisava o contrato na suíte, sorrindo ao lembrar da timidez de Olivia ao mencionar a “parte carnal”, meu celular tocou, arrancando-me dos pensamentos. Era minha mãe, Evelyn. Provavelmente já soube do noivado de Nicholas e estava pronta para me bombardear com suas candidatas. Desde que Ronaldo anunciou essa competição insana pelo cargo de CEO, ela se tornou obcecada em me encontrar a noiva perfeita. Ignorei suas sugestões até agora, confiante de que Nicholas também resistiria ao ultimato. Mas, claro, o neto favorito tinha que correr para agradar o vovô.
— Oi, mãe. — Atendi, já antecipando o sermão, meu humor azedando.
— Noah, seu irmão e aquela... amiga dele. — A voz de Evelyn era afiada, carregada de desprezo. — Ele anunciou o noivado com Sophia. Você sabe o que isso significa.
— Já sei, mãe. Ele está jogando o jogo do avô. Mas não se preocupe, vou aparecer na noite de Natal com uma esposa impecável. — Tentei soar confiante, mas a irritação crescia.
Evelyn ficou em silêncio por um momento, o que era pior do que seus gritos. — Aquele bastardo não pode ganhar, Noah. Seu avô está cego, tratando vocês como iguais. Isso é uma afronta. Você é o herdeiro legítimo.
— Mãe, meu avô não é louco. — Cortei, esfregando a testa. — Ele sabe o que faz. Não vou contestar a sanidade dele só porque você não suporta Nicholas.
— Seu coração mole vai custar a cadeira de CEO. — Ela retrucou, a voz gotejando veneno. — Espero que esteja satisfeito quando aquele filho de empregada tomar seu lugar.
— Já resolvi. Vou me casar até o fim de semana. — Minha voz saiu mais dura do que pretendia. — Relaxe.
— E quem é a noiva? — Ela mudou o tom, agora curiosa, quase ansiosa. — A Mia seria perfeita, Noah. Vem de uma família como a nossa, com status...
— Você vai descobrir pelas revistas. — Interrompi, um sorriso travesso surgindo. — Prometo que ela é perfeita.
— Noah, não seja evasivo. Preciso ajudar com os preparativos! Temos pouco tempo! — Sua voz subiu, uma mistura de frustração e excitação.
— Será uma cerimônia simples. Não se preocupe. — Tentei encerrar a conversa. — Agora, deixe-me voltar a dormir.
— Dormir? Você não está indo para a empresa? — Ela soava indignada. — Vai deixar aquele bastardo tomar conta de tudo? Eles vão achar que ele é o chefe!
— Mãe, estou trabalhando de casa. Já falamos sobre isso. — Minha paciência estava no limite. — Nicholas não vai usurpar nada. Somos os dois patrões, lembra?
— Você é o filho legítimo, Noah. Nunca se esqueça disso. — Ela insistiu, a voz baixa, quase ameaçadora. — Não deixe ele tomar o que é seu por direito.
— Tudo bem, mãe. Vou desligar. Preciso encontrar minha noiva e acertar o casamento. — Falei, já cansado do mesmo discurso.
— Me diga o nome dela. Só o primeiro nome. — Ela pediu, quase implorando.
— Olivia. — Respondi, sabendo que ela passaria o dia procurando uma Olivia na elite de Chicago.
— Lindo nome. Deve ser uma moça encantadora. — Ela disse, e eu quase ri alto. Minha mãe teria um choque quando descobrisse que sua nora era uma camareira.
— Ela é. — Falei, desligando o celular e me sentindo estranhamente satisfeito com minha escolha.
Olhei para o relógio. Era hora de encontrar Olivia novamente. Precisava do número dela — ligar para a recepção toda vez era irritante. Pedi que a chamassem à minha suíte, alegando que precisava discutir “detalhes do serviço”. Enquanto esperava, pensei na minha família disfuncional. Meu pai, um mulherengo sem escrúpulos, traiu minha mãe repetidamente, deixando-a devastada. Quando Nicholas apareceu, filho de uma empregada, o mundo dela desabou. Eu tinha 16 anos, e ainda ouço os gritos dela, dizendo que nunca aceitaria dividir nossa herança com “o bastardo”. Mas ela perdoava meu pai, sempre, porque o amava cegamente até o dia em que ele morreu.
Nicholas e eu nunca fomos irmãos de verdade. Minha mãe garantiu isso, alimentando meu ressentimento, me lembrando que eu era o legítimo, o verdadeiro Carter. Mas, no fundo, eu não sabia o que sentir sobre ele. Não o odiava, mas também não o amava. Éramos estranhos, competindo pelo mesmo império, forçados a trabalhar juntos para não afundar a empresa. Ronaldo, nosso avô, colocou Edward como CEO interino após a morte de meu pai, mas deixou claro que o cargo seria meu ou de Nicholas — e agora, com esse ultimato de casamento, a escolha estava mais próxima.
Olivia era minha vantagem. Mas, enquanto redigia os últimos ajustes no contrato, uma pontada de dúvida me acertou. Eu era como meu pai? Incapaz de ser fiel, de me entregar? Prometi a mim mesmo que respeitaria Olivia durante o casamento, mesmo com a cláusula que me permitia “liberdade”. Não queria machucá-la. Ela não merecia isso.