Se eu tivesse o superpoder de andar pelas paredes, acreditem, eu estaria fazendo isso. Como não fazer? Se Lorenzo foi parar naquele debate político, e Jesus, e Emma. Sei que apoiei o plano, mas o apoiava comigo lá dentro, não isolada na casa dos meus pais esperando notícias e a televisão.Atualmente estão passando as fichas dos candidatos ao governo, já que isso seria televisionado. Enquanto faziam um intervalo disso, faziam também, tomadas do auditório com o público se acomodando para isso. Vejo isso na televisão da sala, já sem unhas e ouvindo minha mãe descer as escadas.— Olha tudo o que eu encontrei, querida — ela exclama.Não paro de olhar a televisão, concentro-me nela. Já estão atrasados.— ¿O que você encontrou? — pergunto ainda focada.— Se você se virasse, perceberia o que sua mãe quer te mostrar.Tenho que me virar a pedido dela, para me surpreender e estranhar em partes iguais. Clara desceu várias caixas velhas e está sentada no sofá abrindo-as. Então, tira de uma delas, u
— Como seja, Louis, você tem que prometer que não vai espalhar a fofoca por aí. Queremos anunciar em melhores momentos, mais tranquilos — afirmo.Meu irmão fecha os lábios e finge que tem um zíper ali. Só me resta confiar nele. E que minha mãe não vai enlouquecer exibindo a notícia, nem querendo recuperar roupas de quando eu era criança para colocar no meu bebê, aquele de quem ainda não sabia o sexo.— Senhorita Sara, estão pedindo para te ver… — Rita, uma das empregadas da casa, se aproxima.Chama minha atenção que ela faça isso com timidez e quase preocupação. Rita era super alegre e adorava falar alto. Também chama minha atenção que seja aqui, na casa dos meus pais, que me procuram.— ¿Quem está me procurando? — pergunto surpresa.— É… é… é…— Sou eu quem te procura, Sara — isso é dito por…Isso é dito por…A bruxa maior. Victoria está entrando muito tranquilamente, sem permissão e se anunciando por conta própria.Victoria não conhecia o respeito, nem a moderação, nem a timidez. Aqu
— Um trapaceiro chamando outra trapaceira — Victoria sorri contida — Não há armadilhas desta vez. Estou me adaptando aos caprichos do meu filho mais velho.A imagem que eu tinha de Victoria era bem definida, uma senhora inflexível e que só cuidava do próprio benefício. O que me faz suspeitar de algo.— ¿Lorenzo sabe que você está aqui? — pergunto.— Não aviso Lorenzo de todos os meus movimentos. Este é um ato de bom coração e aceitação — garante — Meus filhos são o que mais prezo.Ela diz isso último com a língua pensando, já entendi.— ¿Não conseguiu contestar o testamento e os gêmeos não vão te ajudar, certo? — resolvo com facilidade.O rosto de Victoria se contorce de aborrecimento. Fico impressionada com o quão expressivo é para o quão estoica ela costuma ser. Parecia que eu tinha acertado.— Você deve estar gostando disso. Aposto que você e sua mãe vão se achar com o poder de entrar em minhas propriedades para fazer e desfazer, mas não vou deixar — ela fala venenosa — Richard e Ju
Narrado por Lorenzo LewisExplicações que são mentiras óbvias não me agradam. Nem um pouco, mas é isso que Mauro está fazendo. Está tentando me convencer das vantagens que eu teria se ele fosse meu sogro, mas ele comete um deslize em sua atuação.— Você não está falando demais para alguém com esse ferimento? — pergunto, observando seu rosto.É um mistério saber de onde vem o sangue. Mauro se dá conta disso, e se lembra da dor que deveria estar sentindo. Coloca a mão no rosto.— Como não falar, se você planeja deixar escapar todos os projetos que tínhamos juntos? O que vai acontecer com a clínica? Com o futuro de nossos investimentos em conjunto?— Já que ainda não conseguimos comprar os terrenos restantes dos Brown, esse projeto me parece distante. E de qualquer modo... nenhum deles tem você em boa conta para ceder... Você os conquistou como inimigos... para quê? — insinuo.Mauro reflete sobre suas ações, finge não entender.— Seja lá o que minha filha tenha feito, pode ser corrigido —
— Você está enganada, já não é um impossível — asseguro.Ela me sorri um pouco, com malícia.— Vamos ver daqui a alguns anos, quando ela lhe der um filho e se cansar de você, essa garota é uma selvagem que não consegue ficar parada em um país. Você será motivo de chacota no nosso círculo social pelos chifres que ela vai te colocar. Você vai ver — minha mãe zomba.Sua zombaria me atinge mais do que deveria. Me sinto ridiculamente ferido e temeroso. Eu já sabia da personalidade da Sara, e da sua inquietação em ficar em um só lugar. Não quero me aprofundar nessa minha insegurança com ela, porque é justamente agora que a vejo se aproximando de nós.Sara vem até mim com pressa, penso que ela vai parar quando estiver por perto, mas não o faz, sem se importar que haja muitas testemunhas, ela se pendura em meu pescoço e me abraça fortemente. Quando toco em Sara parece que o resto do mundo deixa de existir, embora desta vez isso não se aplique à minha cabeça. Estou tomado pela insegurança.— O
Meus pés batem no chão com constância e meu coração bate com uma força sobrenatural. Eu finalmente consegui, uma promoção no meu trabalho, e o primeiro que tinha que saber disso era Andrew, meu noivo. Caminho pelo corredor tão emocionada e agarrada à minha pasta que agradeço por ninguém estar neste corredor. Vão pensar que estou louca ou que não sei me controlar pelo sorriso enorme que tenho no rosto. Mas quem poderia me culpar.Minha vida estava se transformando no que sempre deveria ter sido. Uma vida feliz e abençoada. Eu me casaria em alguns meses com o amor da minha vida, e finalmente deixaria de servir café na empresa. As lágrimas, humilhações e solidão acabariam. Eu, Marianne Belmonte, deixaria de ser o saco de pancadas da minha família, seria a esposa de um promissor empresário. Finalmente, todos me respeitariam e aceitariam.—Querido? Tenho boas notícias... — digo abrindo a porta do apartamento do meu futuro marido.As luzes da sala estão apagadas e há uma melodia suave de Jaz
Na manhã de ontem, acordei com o homem que amava conversando sobre como estávamos animados com o casamento dos nossos sonhos. Na manhã de hoje, acordei em um quarto de hotel barato com os olhos inchados de tanto chorar. Não haveria casamento, não haveria um final feliz para mim, não teria a família com a qual sonhei. Fiquei praticamente sem nada. Sem um teto, e quem sabe se Andrew teria a decência de me devolver minhas roupas. A única coisa que me restava era meu trabalho. Um ao qual voltei a me trancar em meu cubículo para mergulhar no meu mundo, os números. Trabalho para a Belmonte Raízes, uma imobiliária de bom tamanho dedicada ao que todas as imobiliárias fazem: comprar e vender imóveis. E eu, que tinha quase três anos de formada em administração de empresas, trabalhava nela desde então. O fato de compartilhar o mesmo sobrenome no nome da empresa não é coincidência. Seu dono é meu pai, Belmonte Raízes é uma empresa familiar. Uma na qual conquistei meu posto por mais que meus col
Tenho uma lista interminável de humilhações provocadas pela minha família em minha memória. A vez em que vim a esta casa me ajoelhar diante do meu pai para que me desse dinheiro para o tratamento da minha mãe. A vez em que Amanda e sua mãe me deram uma caixa com roupas usadas e rasgadas, porque eu "precisava me vestir melhor".Mas me pedir para ajudar a organizar o casamento do meu ex-parceiro com sua amante grávida, que é minha meia-irmã, essa devia ser uma das mais sádicas da lista.—Não ajudarei Amanda a organizar seu casamento com Andrew. Por que eu faria tal coisa? — digo lentamente como se estivesse dando tempo ao meu pai para confessar que isso é uma piada de mau gosto.Sergio me olha com desaprovação, Amanda o faz com um sorriso que tenta esconder enquanto come sua salada de frutas.—É decepcionante que você não decida ser uma pessoa melhor neste assunto. Se não for, me verei obrigado a reconsiderar seu contrato em nossa empresa. Ouvi dizer que você conseguiu assinar para ser u