Narrado por Lorenzo LewisEstou tão perdido apertando Sara entre meus braços, com meu rosto em seu peito que não percebo até que é muito tarde, como estive enfiando meu nariz literalmente entre seus seios. Tal percepção me faz recuar ao me dar conta do quão inapropriado isso é. Limpo minha garganta e volto a apoiar minhas costas na parede.— Como você sabia que eu estava aqui? — pergunto a ela.Sara se acomoda ao meu lado, senta-se no chão como eu, imitando a mesma posição em que estou.— Você gostava de se esconder aqui quando era criança. Como perguntei por você e ninguém sabia onde estava, digamos que me esgueirei por onde não devia — explica com muita tranquilidade.Era até vergonhoso o quão fácil era de ser lido por ela. Também reconfortante, que ela se lembrasse desse detalhe. Suponho que com Sara eu me sentia importante para alguém, alguém que na verdade não precisava de mim nem por interesse, nem por obrigação.— Você acertou... — digo abatido.— Quer falar sobre o que está pas
Sara tinha razão, se esse testamento me colocasse acima da própria Victoria, eu não teria que me submeter a mais ninguém, nem a ela mesma. Marcaria um antes e depois no... poder que Victoria tinha sobre minha vida.Se for assim... suas ameaças sobre Sara, eu poderia neutralizá-las.— E... e... Emma? Como ela tem passado do estômago? — pergunta Sara como se perguntasse isso sem interesse. Além de mudar completamente o assunto e parar de me tocar.Minha testa se enruga porque eu não sabia como Sara tinha ficado sabendo da saúde de Emma. O quanto ela sabia sobre sua bulimia? De onde vinha essa pergunta agora?— Como você sabe disso? — questiono estranhando.Sara me olha muito assustada e magoada.— Então... é verdade? — pergunta suavemente.— Verdade o quê? Sobre sua condição de-— Você a engravidou mesmo? — me interrompe Sara agitada.Pisco lentamente, repetindo o que ela acabou de dizer na minha mente. Estou muito confuso, ridiculamente confuso. Embora nasça em mim um estranho prazer ao
— Eu tenho um nome, senhora — sussurra ela, obstinada com minha mãe.— Não estou brincando de esconde-esconde. Precisava de um tempo sozinho — digo exausto.— Sozinho? É notório — responde Victoria, afiada, olhando para Sara — Você deveria estar com sua noiva neste momento. E você, Sara, não é bem-vinda nesta casa, nem ao funeral do meu falecido marido. Poderia se retirar?Sara contém seus lábios de insultar Victoria, em vez disso quer ir embora sem brigar. O que não é justo. Se ela veio a esta toca de lobos foi por minha causa, não para dar pêsames hipócritas a ela. Antes que Sara vá embora, seguro-a pelo braço.— Sara é bem-vinda onde quer que eu esteja, e se é seu desejo me acompanhar no enterro do meu pai, que assim seja — contradigo Victoria.Tais palavras a enfurecem.— Ela não vai! Você terá que passar por cima da sua mãe para que—— Você poderia se calar de uma vez por todas, Victoria? — peço enfurecido.Minha mãe fica petrificada, Sara também está impressionada.— Já disse o q
Fiquei sabendo da morte do pai de Loren ontem à noite, e desde que soube pouco consegui dormir. Principalmente pensando em como ele se sentiria com tamanha perda. A relação entre Lorenzo pai e Lorenzo filho não era simples, nem boa. Mas eu sabia que Loren tinha lutado toda sua vida para agradá-lo e para obter sua atenção.Em muitas das voltas que dei na minha cama, estive a ponto de escrever ou ligar para ele, mas em cada uma delas me detive porque não sabia como ele reagiria. Também não sabia o que escrever, e menos ainda era seguro ou prudente ir à mansão dos Lewis àquela hora.Esperei o momento certo, ir ao funeral. Isso deveria ser socialmente bem visto e deveria se adequar aos limites que Loren havia imposto entre nós. Foi assim que coloquei um bom conjunto de luto, um para não levantar fofocas, e ideal para fugir, chutar ou atacar, o que fosse necessário. Nunca se sabe com essa gente.Enquanto vou me aproximando do meu carro, aquele onde Jesus está me esperando, percebo que ele m
A Jesus e a mim faltava um prêmio de atuação para cada um, simulando normalidade entre tantos abutres. Justo em um dos meus passeios vejo um abutre menor, Julián, e imediatamente dou as costas para que não me capture.— Sara? É você? — pergunta-me ele.Amaldiçoo em minha cabeça e sou obrigada a encará-lo. Estou com minha máscara colocada, ainda que ela caia com facilidade. Julián estava com os olhos vermelhos e a aparência péssima. Dos gêmeos eu só tenho lembranças de assédio, esses moleques como costumavam acabar com a minha paciência, mas hoje é diferente. Seu terrível pai morreu.— Meus... pêsames... Julián — consigo dizer.Ele tenta sorrir com sua típica indiferença, uma que não lhe sai bem.— Por que você não procura dar os pêsames ao Lorenzo? É ele quem você deve estar procurando.Minha mão vai sem controle até sua bochecha. Belisco com força seu rosto, esse em que não sobra quase nada de gordura como quando era um garotinho.— Menino insolente... — aperto com mais força e sussur
Meus pés batem no chão com constância e meu coração bate com uma força sobrenatural. Eu finalmente consegui, uma promoção no meu trabalho, e o primeiro que tinha que saber disso era Andrew, meu noivo. Caminho pelo corredor tão emocionada e agarrada à minha pasta que agradeço por ninguém estar neste corredor. Vão pensar que estou louca ou que não sei me controlar pelo sorriso enorme que tenho no rosto. Mas quem poderia me culpar.Minha vida estava se transformando no que sempre deveria ter sido. Uma vida feliz e abençoada. Eu me casaria em alguns meses com o amor da minha vida, e finalmente deixaria de servir café na empresa. As lágrimas, humilhações e solidão acabariam. Eu, Marianne Belmonte, deixaria de ser o saco de pancadas da minha família, seria a esposa de um promissor empresário. Finalmente, todos me respeitariam e aceitariam.—Querido? Tenho boas notícias... — digo abrindo a porta do apartamento do meu futuro marido.As luzes da sala estão apagadas e há uma melodia suave de Jaz
Na manhã de ontem, acordei com o homem que amava conversando sobre como estávamos animados com o casamento dos nossos sonhos. Na manhã de hoje, acordei em um quarto de hotel barato com os olhos inchados de tanto chorar. Não haveria casamento, não haveria um final feliz para mim, não teria a família com a qual sonhei. Fiquei praticamente sem nada. Sem um teto, e quem sabe se Andrew teria a decência de me devolver minhas roupas. A única coisa que me restava era meu trabalho. Um ao qual voltei a me trancar em meu cubículo para mergulhar no meu mundo, os números. Trabalho para a Belmonte Raízes, uma imobiliária de bom tamanho dedicada ao que todas as imobiliárias fazem: comprar e vender imóveis. E eu, que tinha quase três anos de formada em administração de empresas, trabalhava nela desde então. O fato de compartilhar o mesmo sobrenome no nome da empresa não é coincidência. Seu dono é meu pai, Belmonte Raízes é uma empresa familiar. Uma na qual conquistei meu posto por mais que meus col
Tenho uma lista interminável de humilhações provocadas pela minha família em minha memória. A vez em que vim a esta casa me ajoelhar diante do meu pai para que me desse dinheiro para o tratamento da minha mãe. A vez em que Amanda e sua mãe me deram uma caixa com roupas usadas e rasgadas, porque eu "precisava me vestir melhor".Mas me pedir para ajudar a organizar o casamento do meu ex-parceiro com sua amante grávida, que é minha meia-irmã, essa devia ser uma das mais sádicas da lista.—Não ajudarei Amanda a organizar seu casamento com Andrew. Por que eu faria tal coisa? — digo lentamente como se estivesse dando tempo ao meu pai para confessar que isso é uma piada de mau gosto.Sergio me olha com desaprovação, Amanda o faz com um sorriso que tenta esconder enquanto come sua salada de frutas.—É decepcionante que você não decida ser uma pessoa melhor neste assunto. Se não for, me verei obrigado a reconsiderar seu contrato em nossa empresa. Ouvi dizer que você conseguiu assinar para ser u