Viagens de carro desconfortáveis são o pior. O exemplo perfeito é essa viagem com Leonel para o meu médico. Para piorar a situação, o fato de eu estar praticamente cega não ajuda em nada. É terrível, estar na escuridão. Como complemento perfeito, não me lembro das dimensões do carro do meu pai, não consigo colocar música casualmente para aliviar o clima.
Decido o contrário, enchê-lo com uma conversa trivial. Deus, eu odiava estar no escuro.
— Ah, e como está a mamãe? — pergunto para iniciar a conversa.
— Ocupada com o evento do mês que vem, fico feliz que esteja. Se não tivesse te acobertado com aquele rapaz… — menciona Leonel, de uma vez, sem anestesia.
— Pai… — digo, inquieta.
— Por que ele se dignou a te visitar tanto tempo depois do seu acidente na casa dele? O mínimo de decoro seria ter aparecido mais cedo, não? — ele objeta.
— Sim, porque se ele tivesse aparecido na sua casa, você o teria deixado entrar…
— Não, e você também não deveria tê-lo deixado entrar no seu apartamento.
Se