Viagens de carro desconfortáveis são o pior. O exemplo perfeito é essa viagem com Leonel para o meu médico. Para piorar a situação, o fato de eu estar praticamente cega não ajuda em nada. É terrível, estar na escuridão. Como complemento perfeito, não me lembro das dimensões do carro do meu pai, não consigo colocar música casualmente para aliviar o clima.Decido o contrário, enchê-lo com uma conversa trivial. Deus, eu odiava estar no escuro.— Ah, e como está a mamãe? — pergunto para iniciar a conversa.— Ocupada com o evento do mês que vem, fico feliz que esteja. Se não tivesse te acobertado com aquele rapaz… — menciona Leonel, de uma vez, sem anestesia.— Pai… — digo, inquieta.— Por que ele se dignou a te visitar tanto tempo depois do seu acidente na casa dele? O mínimo de decoro seria ter aparecido mais cedo, não? — ele objeta.— Sim, porque se ele tivesse aparecido na sua casa, você o teria deixado entrar…— Não, e você também não deveria tê-lo deixado entrar no seu apartamento.Se
—Mas quase os tínhamos. O que aconteceu? Como pudemos perdê-los? — menciono desanimada.—Eles contra-ofereceram, não só o seguro médico, mas conseguiram um apartamento barato fora da cidade e ofereceram — explica Peter.—Não conseguimos superar isso, não sem você — garante Fiona.—Por que você não me comunicou isso, Elliot? — pergunto.—Você estava se recuperando, e não tínhamos mais dinheiro para aumentar a oferta. Tentamos conseguir mais, mas não conseguimos convencer os bancos. Eles te queriam para a negociação — explica Elliot.Roei a unha do meu polegar analisando nossa delicada situação. Também não conseguimos acessar os investidores privados que poderiam nos ajudar se eu tivesse intercedido. Nem o tempo, nem as circunstâncias jogaram a nosso favor.—É uma desgraça que tenha acontecido esse acidente no meio da negociação… — menciona Fiona pessimista.—Uma desgraça para nós, para eles não. Caiu como uma luva para os Lewis você ter se ausentado. Nem planejado teria saído melhor — r
— Quase desmaiou na porta, nós achamos que ela ia ter um infarto! — exclama a mesma mulher que ouvi na ligação, super nervosa.Jesus a repreende, mas ela não presta atenção. Com o resultado dado, os vizinhos vão embora, Luísa aproveita para contar a história de como a encontrou e como trouxe a enfermeira, que ouvi se chamar Tania. Enquanto isso, aproveito para sentar em uma cadeira no canto, para ouvir. O resto não me viu, e Jesus se esqueceu de mim.Eventualmente, os olhos da senhora Mary se fixam em mim.— É a Sarita? — ela pergunta, mais recuperada.— Acho que sim — respondo com um sorriso, e me aproximando dela.— Minha menina! Como você está?! — ela estende os braços.Eu me inclino para abraçá-la.— Melhor, que só tenha sido um susto e ela esteja bem — digo, me endireitando.— Estou bem, melhor do que nunca. Você fica para comer? Quer um cafezinho? — ela oferece.— Mãe… ela tem trabalho pendente. Não pode ficar… — diz Jesus, se levantando. — Eu… também…O rosto de preocupação e ve
Eu fui, em seu momento, uma criança travessa, depois uma adolescente problemática que adorava se meter onde não era chamada. Em seguida, sou uma adulta, que parece que os problemas a seguem sozinhos. A confissão de Jesus me deixou em choque, em completo choque.Embora depois, o comportamento de Emma faça mais ou menos sentido. Essa agressividade que ela tem comigo e que apareceu logo depois de contratar Jesus. Justo naquele dia em que ela começou a me tratar assim, antes disso, cheguei a sentir que a tinha na palma da minha mão.Já vejo por que parei de tê-la, ela deve acreditar que orquestrei isso, sozinha.— Vou assinar minha demissão ao final do dia. Desculpe pela minha falta de honestidade — diz Jesus.Volto à Terra.— Você acha que vou te deixar ir depois de soltar uma bomba dessas sem contexto? — reclamo.— Não é tão interessante ou significativo como você está imaginando… — ele menciona, sem soar convencido.— Ah, sim? Me conta uma história de vaqueiros? Se fosse irrelevante com
— Sara! Como você está? Loren me contou sobre seu acidente… foi terrível. Por que você não nos contou antes? — ela diz.Ah, bom. Lorenzo soube do meu acidente e contou a ela. Parece bom, ridiculamente bom.— Eu estava descansando e com proibição de telas… — respondo forçando um sorriso.— Que horrível deve ter sido para você. Sinto muito…— Sim…— Oi, já que você voltou ao trabalho, eu realmente queria consertar as coisas com você. Sei que da última vez fui meio volátil, mas desta vez, vou compensar, prometo.Arranho minha sobrancelha.— Quando você quer que seja essa vez?— Agora mesmo. Vou te enviar minha localização imediatamente, será um grande presente para você e minhas damas. Te espero! — ela desliga.Olho para Jesus, que está curioso com o que Emma me disse.— Ela quer me dar uma surpresa, é uma oferta de paz…— Ela vai cair nos jogos mentais dela de novo? Não faça isso de novo, senhorita Sara. Não é bom se misturar com essas pessoas, os Bianchi são perigosos e sua segurança me
Narrado por Emma BianchiDe niña, sonhava que meu primeiro amor seria o único amor que eu teria na minha vida. Ansiosamente esperei que ele viesse até mim, mas nunca me foi muito bem nesse departamento. Eu adorava meu pai naquela época, na minha visão ele era perfeito, um homem que trabalhava incansavelmente e ajudava os outros sem pedir nada em troca. No entanto, eu sabia o quão intimidador ele podia ser para os outros, e também achava que os outros não o compreendiam.Eu adorava Mauro como uma de suas seguidoras, como mais uma cidadã que acreditava cegamente em seu discurso, em suas promessas. Com a diferença de que eu era sua filha, eu era o que ele mais queria. Meu pai faria tudo por mim, eu tinha essa certeza cega.Até que eu soube que não era assim.O amor finalmente chegou quando conheci Jesus. Foi amor à primeira vista, lembro que quando o vi pela primeira vez, nunca tinha visto um sorriso tão bonito, nem conhecido um rapaz tão gentil. Jesus trabalhou para meu pai desde muito j
Também não foi ele, quando me levou a um ginecologista amigo dele naquela noite. Ele fez com que me examinasse, com ele presente, ele mesmo queria ver o monitor com meu útero vazio. Ele falou sobre um aborto naquela mesma noite, um aborto que não fazia sentido porque… Jesus e eu nunca tínhamos feito sem proteção. Ele me cuidava tanto, e eu o amava tanto. Cada vez que fizemos amor, foi lindo, foi perfeito, foi espiritual. Mas naquele momento… tudo se sentiu tão sujo.Talvez eu devesse protestar, talvez eu devesse tentar escapar, mas eu não era eu. Eu não… conseguia assimilar. Também não conseguia assimilar como Mauro conseguiu me tirar naquele estado e ninguém disse nada. Nenhum funcionário com quem eu troquei olhares me ajudou, nem o médico que me viu machucada fez isso. Ele se limitou a examinar entre minhas pernas.Foi… traumático.Mauro decidiu falar comigo no dia seguinte, ele me enviaria com minha mãe para o exterior. Adeus aos planos de estudar onde eu queria, adeus a Jesus. E qu
Em vez de me esquecer dele, eu investiguei mais e mais para perceber que algo ruim havia acontecido com Jesus. Eu pude comprovar isso ao localizar onde ele morava, ele ainda morava na mesma casa de sempre da mãe dele. Aquela casinha que ele disse que não gostava para a mãe dele, e sonhava em comprar uma maior. Eu fiquei apavorada porque eu não devia estar lá, se Mauro descobrisse, mas eu precisava saber e precisava que Jesus soubesse que eu ia me casar.Ele me tratou mal de novo.E eu pude comprovar, eu não havia me esquecido do que sentia por Jesus.Eu não podia me casar, eu precisava de mais tempo. Mais tempo para explicar minhas ações a Jesus, para que ele me falasse, apenas me falasse sobre o que havia acontecido. No entanto, eu ainda tinha tanto medo de Mauro, que cada vez que tentava me aproximar dele era às escondidas ou de surpresa.Eu também não podia cancelar aquele casamento, Mauro vinha falando sobre isso há anos. Se eu cancelasse… eu temo pela minha vida. Daí surgiu meu pl