Minha vida continuou apesar das perdas. Após mais de uma semana do meu encontro "acidental" com Luciano, tenho lutado para me dar estabilidade.Amanda respeitou o acordo de trazer Amy de volta até que eu assine o contrato de aluguel, os do seguro aceitaram que meu carro será perda total, e Giana me envia mil fotos da sua lua de mel de vez em quando. Tudo está mais ou menos em ordem.Nisso tento me concentrar enquanto desembaraço o cabelo molhado da minha sobrinha. Ela está entretida com a televisão. É uma noite tranquila como qualquer noite de sábado. Ou era, até que olho pela janela para a rua e aquela sensação volta quando vejo o carro de Luciano.Não estou gostando disso. Do quê exatamente? Da sensação de que estou fazendo algo errado. Esse erro é fingir que não sei que Luciano está me vigiando de perto. Desde suas advertências, tenho me tornado mais consciente de onde estou e de quem me rodeia. Incluindo ele. Às vezes vejo sua silhueta quando almoço fora do trabalho, outras vezes v
—Sim, é incrível, admito. Mas você realmente não tem a aprovação de Leonel? Você fugiu ou algo assim? — tenho que questionar — Ele é seu pai, se preocupa com você. É natural.—Eu sei... mas às vezes é tão sufocante. Minha mãe teve que convencê-lo, e eu tive que lembrá-lo que não devia fazer comigo o mesmo que meu avô fez com ele. Daí veio o ultimato.—Que bom que vocês chegaram a um acordo. Quando é o seu voo? — percebo que não ofereci nada a ela — Você jantou? Quer algo para beber?—Sai de madrugada e... — de repente o sorriso de Sara desaparece e ela olha aterrorizada para o meu sofá.Olho na mesma direção, o que ela está observando é Amy que está se escondendo atrás do sofá. Ela espia timidamente, acho que pensa que não estamos vendo. Rio.—Amy, não precisa se esconder. Venha cumprimentar minha amiga, Sara — convido.Minha sobrinha sai do esconderijo, caminha com o rostinho voltado para o chão até onde estamos. Coloco minha mão sobre seu ombro.—Oi... sou... Amy... Amy... Belmonte —
Um gesto de simpatia e agradecimento. Isso seria tudo o que eu daria a Luciano. Era tudo o que eu podia dar àquele homem que está tocando a campainha do outro lado da minha porta. Verifico se a mesa está servida para ele, e se pareço o mais "despreocupada" possível com minhas roupas de ficar em casa. Vou abrir a porta.—Vejo que você aprendeu a usar a campainha — cumprimento.—Por esta noite, sim. Embora não vá devolver a chave que guardo para emergências.—Vou trocar a fechadura um dia desses. Entre — reviro os olhos.Luciano entra no meu apartamento, ele simplesmente vai se sentar à mesa com o prato vazio. É o único que há. Não perco nem um segundo, começo a encher o prato com a comida que sobrou, foi um jantar simples, arroz, filé de frango à milanesa e salada. Enquanto coloco a comida, sinto seu olhar em mim. Está como que me analisando.É torturante que, no meu gesto de simpatia e agradecimento, tenha que ficar tão perto dele. Não gosto da proximidade que temos. Seu aroma me intox
Quando saio, Luciano está deitado no sofá de maneira desconfortável. Tenta dar a forma correta ao seu corpo para que caiba nele. A verdade é que meu sofá é pequeno para acomodar um homem tão alto como ele deitado. Olho para ele com culpa.—Vai conseguir descansar bem no meu sofá?—Acho que não — está contorcido no móvel tentando caber enquanto olha para o teto.Mordo a unha do meu polegar pensando no que fazer por ele. Tenho uma ideia.—Tenho um colchão inflável guardado no meu armário. Mas a bomba para enchê-lo quebrou. Você poderia inflá-lo do jeito antigo?—Quer que eu fique sem pulmões? Estou muito cansado para isso — ele se senta e suspira — Daria qualquer coisa para dormir numa cama...Ele diz isso em um tom melancólico olhando para o chão. É a imagem perfeita de uma vítima, e eu a vilã.—Caso você não saiba, neste apartamento há duas camas. Uma da Amy e a minha. O que você pede não vai rolar — esclareço.—Tem certeza? Estava pensando que... — lá vem seu tom de vítima — ao amanhe
Acordo depois de dormir na mesma posição durante toda a noite. Uma posição desconfortável que deixou o lado esquerdo do meu quadril doendo bastante, fiquei deitada de lado por horas e horas. Mas com a luz do dia invadindo meu quarto e com a certeza de que hoje é sábado, me permito esticar com liberdade na minha cama.—Quero dormir por mais 3 horas. Posso dormir por mais 3 horas? — falo com a voz rouca de sono.Embora seja a mesma liberdade com que me estico na cama que me alerta. Abro os olhos assustada para me encontrar sozinha aqui. Sozinha.—Cadê o responsável pela dor no meu quadril e por eu não sentir minha perna esquerda? — questiono me levantando.Rapidamente calço as pantufas e saio do quarto. Enquanto saio, ouço a televisão da sala com vozes infantis, não me surpreende ver Amy com sua tigela de cereal hipnotizada pelos desenhos animados na TV. Isso era o normal. O que me surpreende é que ao lado dela no sofá está Luciano, com outra tigela de cereal. Ele está comendo.Ninguém f
—Você vai se casar com a minha mamãe, Lulu? — pergunta ela empolgada para Luciano.As risadinhas e as provocações dele acabam com isso. O impacto é visível. Não mais sorrisos, não mais piadas, não mais nada. Isso é mais que desconfortável, é constrangedor.—Amy... esses são assuntos de adultos... já te falei. Termina seu cereal — peço.Em seguida, pego Luciano pelo braço para conversar em particular. Chegamos até um canto da cozinha, ele ainda está com a tigela de cereal na mão. Está concentrado em brincar com a colher em vez de falar comigo.—Você tinha que dizer a ela que somos namorados? Dá para ser mais manipulador? — digo exausta.—O que você queria que eu dissesse? Que você pode dormir com um desconhecido ou com um amigo? Ela não tem uns cinco anos? Temos que manter as coisas simples — ele se defende.Nem eu consegui pensar no que responder quando ela fez essas perguntas. Então, me rendo e deixo para lá.—Sua sobrinha sabe que fomos casados? — questiona ele."Sua sobrinha". Isso
Bom, aconteceu algo muito interessante e inesperado para mim. Terminei de assistir meu filme, comecei a preparar o almoço e... nada do Luciano ir embora.Estou fritando o frango com a testa franzida, aquela que é causada por ver Luciano com Amy desenhando na mesa de jantar. Agora estão fazendo retratos um do outro. Amy inspirada, Luciano concentrado como nunca. Quando ele percebe que estou observando, me olha com um grande sorriso forçado.—Você não sabe como estou me divertindo, Amy. É a coisa mais divertida que fiz em muito tempo — garante, voltando a se concentrar no desenho.—É mesmo, né? — exclama Amy empolgada — Você está me desenhando bonita? Quero ficar bonita.—Você já é bonita — comenta focado na pintura — e eu sou talentoso, um mais um...—DOIS! — grita Amy.—Ouviu só? Até ensinei ela a somar — se gaba.Poupo-me de dizer alguns insultos para esse ser. Decido melhor servir a comida nos pratos.—Deixem isso para depois. Vamos comer. Limpem a mesa — peço.Eles fazem isso, arrum
—Não sei o que está acontecendo com você hoje. Você está falante demais, menininha — repreendo minha sobrinha.Ela dá de ombros. Descubro o poder das más influências, porque o responsável por isso teve que ser Luciano. O mesmo Luciano que não diz mais nada durante nossa refeição. Sua mente foi para um lugar distante e lá ficou. Deve estar cansado ou entediado com tudo isso. Dou alguns minutos a mais para que ele vá embora. Enquanto isso, preciso tirar essa pedra do sapato.—De onde veio o "Lulu"? Você inventou ou o Luciano pediu para chamá-lo assim? — pergunto à minha sobrinha.—Ele tem um nome graaande, melhor Lulu. Mais bonito — responde enquanto come.—Certamente soa mais bonito, meu coração — elogio Amy com um sorriso.Dou uma olhada para Luciano, ele come em silêncio, ainda pensativo. Também termino de comer do meu lado. Ao ver os pratos dos três vazios, decido me levantar para convidar Luciano a se retirar.—Vamos tirar a mesa? — digo à minha sobrinha, e olho para Luciano — Se vo