Guilherme narrando:Camila acabou dormindo. O corpo dela finalmente relaxou depois de tudo que passou, e eu fiquei um tempo só ali, olhando ela respirar tranquila, com a mão repousada na barriga. Linda. Forte. Minha.Levantei devagar, sem fazer barulho. Me vesti, peguei a carteira e o celular do criado-mudo, e saí do quarto em silêncio.Na sala, minha mãe tava sentada no sofá, olhando o celular, mas assim que me viu, levantou o olhar.— Vai sair, filho?— Vou, mãe. Preciso resolver umas coisas.Ela assentiu, como quem já sabia que vinha mais coisa.— Já tá quase na hora de buscar a Gabi. Pode deixar comigo — ela disse, com aquele tom seguro de sempre.— Obrigado. Mãe.Dona Maria, como sempre, já tava na cozinha, com cheiro de alho e cebola no ar. Olhei pra ela por cima do ombro e fui até a porta.— Dona Maria, fica de olho na Camila, por favor. Se ela acordar e não me encontrar, pode ficar meio perdida, avise que sai resolver umas coisas, mas que já volto. Qualquer coisa, me avisa.El
Guilherme narrando:Assim que eu terminei de falar, ela explodiu.Veio pra cima de mim com tudo, os olhos cheios de raiva, descontrolada, gritando feito uma louca.— VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO! — ela berrava, tentando me bater, me empurrar, com o copo ainda na mão. — VOCÊ É MEU! MEU! SEMPRE FOI!Segurei os pulsos dela no ar, firme, sem machucar, mas também sem permitir que ela me encostasse.— Para com isso! Você tá perdendo o controle! — gritei de volta, segurando ela enquanto ela se debatia.Foi aí que Seu Jorge avançou. Veio rápido, puxou ela pelo braço com força e jogou no sofá com um empurrão seco.— CHEGA, JAMILE! — ele gritou, a voz ecoando pela sala.Ela caiu de lado, o vinho da taça respingando no chão, os cabelos desgrenhados, a respiração pesada, e ainda assim… ela continuava gritando, fora de si.— PATÉTICO! VOCÊS SÃO RIDÍCULOS! TRAÍRAM A MINHA CONFIANÇA! TRAÍRAM MEU CORAÇÃO!— Coração?! — rebati, sem conter mais a raiva. — Você usou uma gravidez, uma mentira, pra ten
Camila narrando:Acordei devagar, sentindo o cheiro dele ainda no travesseiro. Me espreguicei, puxei o lençol, e foi aí que ouvi o barulho do chuveiro.O coração aliviou na hora. Guilherme tava ali. Em casa. Comigo.A porta do banheiro abriu e ele saiu, só de toalha, os cabelos ainda pingando, o peito molhado e o olhar pesado.— Amor… — chamei, sentando na cama. — Você não tava aqui comigo. Onde você foi? – perguntei porque ele já tinha tomado banho antes.Ele não respondeu de imediato. Veio até o lado da cama e passou a mão no cabelo, respirando fundo. Foi aí que eu vi.O braço dele. Ralado.— O que aconteceu?! — perguntei, assustada, levantando rápido e segurando o braço dele com cuidado. — Guilherme, você caiu? Te bateram? O que é isso?Ele segurou minha mão e me olhou nos olhos, sério. Aquele olhar dele que só aparece quando o mundo tá virando do avesso.— Camila… a gente precisa conversar. É muita coisa, mas você precisa saber.Sentei de novo, o coração disparado. Ele se sentou d
Camila narrando:Um mês se passou desde aquele caos todo. Parece até mentira tudo que aconteceu, como se fosse um capítulo pesado de uma novela que, graças a Deus, chegou ao fim.O Eduardo sumiu do mapa. Literalmente. Ninguém mais viu, ninguém mais ouviu falar. Nem o detetive do Guilherme conseguiu rastrear pra onde ele foi. E sinceramente? Melhor assim. Depois daquilo tudo, só de ouvir o nome dele, meu corpo já travava.A Jamile viajou com o pai dela… que, na verdade, também é meu pai. E apesar de tudo, tá tudo bem. Eu e o Seu Jorge temos nos falado pelo celular de vez em quando. Nada demais, nada forçado. Ele manda mensagem perguntando como estou, como tá a gravidez… e eu respondo, com respeito. Ainda tô digerindo tudo, mas tô aberta. Não é culpa dele.Os enjôos passaram, graças a Deus. Agora tô naquela fase da fome que não tem hora. Guilherme já se acostumou a me ver fuçando a geladeira de madrugada atrás de fruta, pão com queijo ou até bolo que Dona Maria faz. A barriga tá começan
Camila narrando:Ele dirigia feito um louco, cortando as ruas sem rumo, os olhos fixos na estrada e a arma sempre à mostra. Eu tava com o coração na boca, mas por fora tentava me manter firme. Eu precisava pensar. Respirar. Sobreviver.Foi quando me lembrei do que o Guilherme tinha feito um tempo atrás.O rastreador.Ele mandou instalar no meu celular. Disse que era por segurança, principalmente depois do que aconteceu com a Jamile e com o Eduardo.E o celular tava comigo.No bolso da minha calça. Graças a Deus.Fechei os olhos por um segundo e, em pensamento, fiz a única coisa que me restava fazer naquele momento:"Guilherme... Por favor. Sente minha falta. Me acha."Mas Eduardo parecia sentir o meu silêncio, como se meu medo tivesse cheiro.— Achou mesmo que ia viver a sua vidinha feliz com o Guilherme, né? — ele disse, a voz carregada de ódio, sem tirar os olhos da estrada. — Casar, ter filho, sorriso no rosto… achou errado, Camila.— Eduardo… — falei baixinho, com a voz trêmula. —
Guilherme narrando:Desde o momento em que a Camila saiu pra buscar o vestido, eu fiquei com aquele pressentimento estranho no peito. Um peso, uma inquietação. Tentei ignorar. Me forcei a focar na reunião, porque era importante, mas por dentro, algo me dizia que tinha alguma coisa errada.Ela insistiu que tava tudo certo, que o motorista ia com ela e que o segurança ia estar por perto. E mesmo assim, eu queria ter ido junto. Mas não fui.A reunião se arrastou, minha cabeça longe. E foi no final, quando sentei na minha sala pra revisar uns contratos, que o celular vibrou. Mensagem da Camila.Quando abri… o chão sumiu.– Amor, fui sequestrada. Tô num sítio.Junto da mensagem, a localização.Meu corpo gelou. O sangue parou de circular por um segundo. Minha mão tremia e a respiração travou no peito.— Não… não… — murmurei, já me levantando de supetão.Liguei pro segurança que tava com ela. Nada. Caixa postal. Liguei pro motorista. Também nada. Nenhuma resposta.Corri pro computador, acess
Camila narrando:Ele pegou o celular que tinha caído no chão. Meus olhos acompanharam o movimento em desespero. Minha sorte, é que eu tinha apagado a mensagem.Mas ele segurava o aparelho como se fosse dinamite.— Fala, porra! TU MANDOU A MENSAGEM, NÉ?! — ele gritou, e antes que eu pudesse me proteger, me puxou pelos cabelos com força.— N-Não mandei nada! Eu juro! — respondi chorando, implorando, tentando proteger minha barriga, o rosto, a vida.Mas ele me empurrou com brutalidade, me jogando de novo no colchão sujo.— SUA VADIA! — gritou, e no impulso, jogou meu celular no chão e pisou com força. O estalo foi alto, o som do vidro quebrando me fez fechar os olhos. Mas por dentro, eu só pensava: já foi, Eduardo, já mandei, já era.Foi nesse momento que ouvi o barulho da porta se abrindo.E quando olhei… quase não acreditei no que vi.Jamile.De pé, na porta, com um sorriso cínico estampado no rosto, como se aquilo tudo fosse um passeio no parque.— Oi, Camila… sentiu saudades, irmãzi
Guilherme narrando:Assim que o carro parou, a gente desceu em silêncio, já com as armas em punho. Eu respirei fundo, os olhos fixos na trilha de terra batida que levava até o sítio abandonado. A localização que a Camila mandou batia exatamente ali.— Pelo mato. Por trás. Sem barulho. — ordenei, e os dois seguranças assentiram.Avançamos pela lateral do terreno, nos escondendo entre as árvores e a cerca quebrada. O capim alto ajudava a cobrir nossos movimentos. O coração batia acelerado, mas a mente tava fria. Eu só tinha um objetivo: tirar a Camila dali viva.Me agachei atrás de uma árvore grossa e olhei em direção à casa. De onde eu tava, consegui ter uma visão parcial da parte da frente.Só tinha um cara armado lá fora. Um segurança. Estava distraído, olhando pro nada, provavelmente achando que ninguém jamais encontraria esse lugar.— Um só na segurança. — sussurrei pro Paulo, que já mirava nele com precisão. — Espera meu sinal.Desviei o olhar pro lado, pra área da varanda…E foi