Guilherme é um jovem brilhante e dedicado aos estudos, mas vive atormentado pela discriminação racial que enfrenta diariamente. Seu mundo vira de cabeça para baixo quando se apaixona por Camila, uma moça de família rica. O romance dos dois, apesar de intenso, precisa ser mantido em segredo devido ao preconceito da família dela, que não aceita a relação por causa da cor de Guilherme. Quando a verdade vem à tona, a família de Camila faz de tudo para separá-los, fazendo com que ele acredite que ela não o valoriza o suficiente. Desiludido, ele vai embora sem saber que Camila estava grávida. Anos se passam, e a vida de Camila muda drasticamente. Sua família, antes rica e poderosa, faliu, e ela segue sua vida, agora trabalhando como copeira em uma empresa, enquanto carrega o peso do passado e a saudade de Guilherme. O destino, porém, tem planos inesperados. O novo dono da empresa chega, e para surpresa de Camila, é ninguém menos que Guilherme. Ele não a reconhece imediatamente, e ela esconde a verdade, temendo que tudo se repita. Agora, o reencontro coloca ambos diante de um passado doloroso e de uma verdade que pode mudar suas vidas para sempre.
Ler maisPrólogo :
Guilherme narrando : Eu sabia que aquele dia não seria como os outros. Desde o momento em que acordei, uma sensação estranha me acompanhava, como se algo estivesse prestes a acontecer. Algo ruim. O meu instinto gritava, mas eu ignorei. Estava ansioso para ver Camila, para sentir o seu cheiro, para tê-la nos meus braços mais uma vez. Era como um vício, uma obsessão que eu não conseguia controlar. A casa de praia da família dela era o nosso refúgio, o lugar onde podíamos nos esconder do mundo. Onde ela me dizia, entre suspiros e beijos, que nunca sentiu nada igual. E eu sempre acreditei nisso. Eu acreditei que ela era minha, assim como eu era dela. Cheguei lá com o coração disparado. A porta estava entreaberta, como se estivesse me esperando. Algo no silêncio do lugar me incomodou. O som das ondas parecia distante, abafado pela sensação sufocante que tomou conta de mim. Um arrepio percorreu minha espinha. — Camila? — chamei, a minha voz soando estranha até para mim. Nenhuma resposta. O silêncio absoluto. Procurei por todos os cômodos, chamando pelo nome dela, com o peito apertado e uma sensação de inquietação crescente. Eu sabia que ela estava ali, porque tínhamos combinado. Então, sem pensar muito, fui até o quarto, o último lugar onde não a havia procurado. Abri a porta do quarto sem hesitar. O que vi ali me paralisou, minha alma se despedaçou. Camila estava na cama, vestindo apenas uma lingerie preta rendada. Mas não estava sozinha. Havia um homem ao lado dela. Um maldito qualquer, deitado, relaxado, como se pertencesse ali. Como se tivesse direito de tocá-la da maneira que apenas eu deveria. Meu mundo girou. Camila arregalou os olhos ao me ver. A cor fugiu de seu rosto, e ela sentou-se num movimento brusco, puxando o lençol para cobrir o corpo. O outro cara apenas se virou lentamente, a expressão de confusão evidente. O silêncio no quarto foi opressor. A dor rasgou o meu peito como uma lâmina afiada, e em segundos se transformou em uma raiva avassaladora. Minhas mãos tremiam, meu maxilar estava travado. Não conseguia respirar direito. Era como se o chão tivesse sumido sob meus pés. — Guilherme… — Camila sussurrou, mas eu levantei a mão, mandando-a calar a boca antes que conseguisse soltar mais uma palavra. — Não. — Minha voz saiu baixa, mas carregada de fúria. — Não diz nada. Não tenta me explicar coisa nenhuma. Meus olhos ardiam, e meu peito subia e descia descontroladamente. O cara ao lado dela começou a se mexer, claramente desconfortável. Meu sangue ferveu ainda mais. — Quem é esse cara? — minha voz saiu cortante. Camila abriu a boca, mas antes que ela pudesse responder, ele se levantou. — Cara, eu não sei o que tá acontecendo, eu só… Não esperei ele terminar. Cruzei o quarto em dois passos e o agarrei pela gola da camisa, erguendo-o contra a parede com força. O susto estampado no rosto dele me deu um prazer mórbido. — Guilherme, para! — Camila gritou, puxando meu braço, mas eu a ignorei. — Eu juro por Deus, se você falar mais uma palavra, eu quebro sua cara aqui mesmo. — Minha voz era um rosnado baixo e ameaçador. O desgraçado levantou as mãos em rendição, engolindo em seco. — Eu não sabia, cara. Eu não sabia que ela estava com alguém. — Ele se defendeu, a voz falhando. Soltei-o com um empurrão, e ele tropeçou para trás. Meu olhar voltou para Camila, que me olhava desesperada, lágrimas começando a se formar nos olhos. — Me escuta, por favor! — ela implorou, sua voz embargada. — Escutar? — gargalhei sem humor, passando as mãos pelos cabelos em puro desespero. — O que exatamente eu deveria escutar, Camila? Como você me fez de palhaço esse tempo todo? Como você se deitou com esse sujeito enquanto dizia que me amava? Como você conseguiu olhar nos meus olhos e mentir tão bem? Ela soluçou, as lágrimas finalmente escorrendo. Mas naquele momento, eu não me importava. Eu queria que ela sentisse pelo menos um pouco da dor que estava me destruindo por dentro. — Não é isso! Ela se aproximou, tentando tocar meu braço, mas eu me afastei como se seu toque queimasse. — Eu nunca quis te machucar. Eu te amo! — Você não sabe o que é amor. — cuspi as palavras, meus olhos cravados nos dela. — Se soubesse, não teria feito isso. Ela chorava agora, seu corpo tremia, mas eu já não conseguia mais sentir nada além do vazio. O cara, ainda encostado na parede, com uma aparente satisfação estampada no rosto. Dei um passo para trás, cada fibra do meu ser implorando para sair dali antes que perdesse o controle de vez. — Acabou, Camila. Você me destruiu. Espero que tenha valido a pena. Sinto um gosto amargo subir pela garganta Dou um passo à frente, meu olhar cravado no dela, carregado de mágoa e indignação. — Me diz a verdade, Camila. O problema sou eu? É porque sou pobre? Porque sou preto? Foi por isso que preferiu estar na cama com um homem branco e rico? — minha voz sai rouca, carregada de dor e ressentimento. Os olhos dela se arregalam, os lábios tremem. Ela parece desesperada. — Não, Guilherme! Pelo amor de Deus, não é isso! Eu te amo! Ela tenta se aproximar, me tocar, mas dou um passo para trás como se seu toque fosse veneno. Solto uma risada seca, sem qualquer humor, balançando a cabeça. — Você precisa se tratar, Camila. Só alguém muito doente consegue ser tão dissimulada assim. Sem esperar por mais uma desculpa, viro as costas e saio, sentindo a dor me rasgar por dentro. Cruzei a casa como um furacão, saindo porta afora e sentindo o ar frio da noite bater contra meu rosto. Mas nada disso amenizava a dor latejante dentro de mim. Antes de ir embora, olhei para trás uma última vez. Camila estava na porta, os olhos inchados, a expressão devastada. E foi nesse momento que percebi. Havia algo a mais naquela história. Algo que ela não estava me contando. Mas naquele momento, eu já não queria mais saber. Eu não conseguia acredita que Camila tinha me traído dessa forma, ela era tudo pra mim, a minha vida. Tudo que eu fazia era por ela, eu a amava. Como Camila fez isso, ela parecia ser tão diferente, parecia ser outra pessoa. Como ela teve coragem de destruir o que a gente tinha ?EPÍLOGO – CINCO ANOS DEPOISGABI NARRANDO :O sol batia leve no quintal, e o cheirinho de bolo de cenoura com cobertura de chocolate invadia toda a casa. As janelas abertas deixavam a brisa entrar, misturando o som do mar com as risadinhas do nosso filho correndo pela grama.— Maaaaaãe! O papai deixou eu colocar o boné dele! — gritou Mateus, correndo com as perninhas curtas, o boné do Rodrigo caindo por cima dos olhos, e o sorriso mais lindo do mundo no rosto.Cinco anos.Cinco anos desde aquele dia em que eu entrei no altar com o coração na mão, achando que tava prestes a viver o melhor momento da minha vida… sem saber que o melhor ainda tava por vir.Mateus foi nosso primeiro presente.Veio como um furacão de amor, bagunçando tudo, transformando nossos dias e noites, nos ensinando a amar com paciência, rir com exaustão e descobrir que não existe coisa mais bonita do que ver um pedaço seu chamando “mamãe” e “papai”.E agora… a Elisa tá vindo.Sete meses de barriga redonda, mexidas fo
GABI NARRANDO:Ela ainda tava sentada no meu colo, ofegante, os cabelos grudados na testa, o corpo quente, a pele brilhando de suor. A respiração dela batia no meu pescoço e o coração… parecia que batia junto com o meu.Ficamos ali um tempo. Abraçados. Em silêncio.Até que ela se levantou devagar, me deu um beijo nos lábios e saiu da cama pelada mesmo, com aquele rebolado natural que me deixava hipnotizado.— Vai aonde, mulher? — perguntei, ainda sem fôlego.— Pegar uma parada na mala. Tenho uma surpresa pra você — ela disse, sorrindo com aquele jeitinho safado, mas com um brilho diferente no olhar.Fiquei só observando ela andar até a mala que a gente tinha jogado perto da porta. Ela se agachou, abriu com calma, mexeu ali por uns segundos e voltou com uma caixinha pequena nas mãos.— Abre — ela disse, colocando a caixinha no meu colo.Sentei na cama, confuso. A caixinha era simples, envolta num laço dourado. Achei que fosse alguma lingerie nova, algum mimo provocante, mas… quando abr
RODRIGO NARRANDO :As horas foram passando, o som da festa continuava alto, a pista cheia, o povo animado, mas minha cabeça… já tava em outro lugar.Mais precisamente, num quarto de hotel, com vista pra praia e minha mulher só de lingerie.Gabi dançava com a mãe dela, rindo alto, girando o vestido branco como se fosse uma menina feliz. E era. E eu também. Mas… irmão, eu tava doido pra tirar ela dali.Já beijei, já dancei, já tirei mil fotos… agora eu só queria ela. Longe de todo mundo. Só nós dois.Me aproximei devagar, encostei por trás dela e falei baixo no ouvido:— Vambora?Ela se virou rindo.— Já tá cansado de festa, Rodrigo?— Cansado, não. Tô ficando impaciente — falei, com a mão firme na cintura dela. — Quero te levar logo pra nossa lua de mel.Ela mordeu o lábio e olhou nos meus olhos daquele jeito que só ela sabe.— E pra onde tu vai me levar, hein?— Pra um hotel lindo, pé na areia. Vista pra praia, suíte com hidromassagem, cama enorme… e nenhuma interrupção.Ela deu aquel
GABI NARRANDOQuando ele encostou a testa na minha, antes do beijo, eu senti tudo.O mundo inteiro parou.Era como se o vento tivesse prendido a respiração junto comigo. Como se o sol tivesse segurado a luz só pra esse momento. Como se todas as minhas dúvidas de vida tivessem sumido, uma por uma, no silêncio do olhar dele.E aí, ele me beijou.Com calma. Com firmeza. Com verdade.A palma da mão dele na minha cintura, os lábios quentes nos meus, o sabor de uma promessa que já vinha sendo cumprida desde o primeiro “bom dia” dele com voz rouca.O beijo acabou, mas a emoção não.Quando nos separamos, vi a minha mãe chorando, meu pai secando o canto dos olhos disfarçadamente, minha vó com a mão no peito repetindo “graças a Deus”, e o Gustavo batendo palma como se fosse o campeão da Copa.Olhei pro Rodrigo. Pro meu marido.A palavra ainda era nova. Pesava bonito na língua.Marido.Ele sorriu pra mim e segurou minha mão como se nunca mais fosse soltar.E eu?Eu tava ali. Vestida de branco, d
RODRIGO NARRANDOO som do violino ecoava leve, atravessando o jardim, se misturando com o cheiro das flores e aquele burburinho de gente emocionada. O sol batia de um jeito bonito, não quente demais, mas suficiente pra deixar tudo dourado.E eu tava ali.No altar improvisado, montado com tanto carinho no quintal da casa dos pais da Gabi, com um tapete branco que ia até o portão da frente e flores brancas e verde musgo e vermelho em cada canto. Tudo simples, elegante, com a cara dela. Da gente.O coração batia num ritmo que eu nunca tinha sentido antes. Não era nervoso. Era emoção pura.Tava usando o terno azul que ela mesma escolheu.— Esse tom fica lindo em você, amor — ela disse no dia da prova, passando a mão pelo tecido com aquele olhar de quem já sabia que ia me ver ali, parado, esperando por ela.Gravata clara, camisa branca impecável, sapato engraxado no capricho. Mas nada disso fazia sentido sem ela.Ao meu lado, o Guilherme, agora muito mais sogro do que patrão, respirava fu
GABI NARRANDO— Gabi… filha, acorda. Hoje é o dia.A voz da minha mãe veio baixinha, doce, misturada com o som da cortina sendo puxada e a luz invadindo o quarto. Abri os olhos devagar, piscando contra a claridade, e demorei uns segundos pra lembrar… pra sentir… pra acreditar.Hoje é o dia.O meu dia.Sentei na cama, o coração já batendo diferente, como se soubesse que a vida tava prestes a mudar. A brisa da manhã entrava pela janela, e lá fora, o sol brilhava como se também tivesse sido convidado pra cerimônia.— Dormiu bem? — minha mãe perguntou, com aquele sorriso cheio de emoção.— Nem sei… — respondi, rindo baixinho. — Acho que meu coração passou a noite acordado.Ela se aproximou, sentou na beirada da cama e pegou minha mão.— Eu sempre sonhei com esse dia. Mas ver tua felicidade desse jeito… é mais bonito do que qualquer sonho que eu imaginei.Os olhos dela marejaram. E os meus também.Abracei minha mãe forte, com o peito cheio, a pele arrepiada, e sussurrei contra o ombro dela
Último capítulo