Camila narrando :
Já fazia três dias desde o enterro. E ainda parecia que tudo tinha acontecido ontem.
O enterro foi simples, do jeito que eu pedi. Sem discursos, sem flores caras, sem gente que nunca se importou querendo aparecer. Só o necessário. O silêncio cortava mais do que qualquer palavra. Eu não chorei muito ali. As lágrimas tinham ficado todas na noite anterior, no colo da Dona Maria, no abraço do Guilherme. No cansaço de uma verdade que ainda queimava dentro de mim.
Desde então, eu não fui mais trabalhar. Não consegui. Ficar em casa, no silêncio do meu quarto, virou meu refúgio, e ao mesmo tempo, meu castigo. Eu passava horas olhando pro teto, tentando entender como minha vida tinha virado tudo isso. Meu corpo parecia pesado, minha cabeça cansada, e o mundo lá fora simplesmente... não fazia mais sentido.
Era hora do almoço, eu sabia, porque Dona Maria já tinha batido na porta duas vezes. Ela sempre dizia com carinho:
— Filha, vem comer um pouquinho…
Mas eu não tinha fome. Na