Gabriela narrando :Fiquei mais um tempo ali, encostada no colo da minha mãe, sentindo o carinho dela tentando costurar os pedaços soltos que o dia tinha deixado.Mas logo o cansaço pesou de um jeito que não dava pra ignorar.Me levantei devagar e ajeitei o cabelo, soltando um suspiro cansado.— Mãe, eu vou subir. Preciso descansar um pouco — falei, tentando sorrir.— Vai, filha. Toma um banho bem gostoso e esquece esse dia. Amanhã é um novo começo — ela disse, apertando minha mão de leve.Assenti, peguei minha bolsa largada no canto da sala e subi as escadas com passos lentos.Cada degrau parecia pesar uma tonelada. Mas quando entrei no meu quarto e fechei a porta, senti uma paz diferente me invadir.Tirei os sapatos, larguei a bolsa no canto e fui direto pro banheiro.Abri a porta e acendi a luz.O banheiro era espaçoso, todo em tons claros, com aquele cheiro suave de sabonete e essência de lavanda que eu adorava.Me aproximei da banheira e comecei a enchê-la, girando o registro da
Henrique narrandoMeu nome é Henrique, tenho 24 anos.Nasci em berço de ouro. Meus pais sempre tiveram dinheiro, boas empresas, bons contatos. Eu cresci tendo tudo o que quis, sem precisar me esforçar pra nada.Carro, viagens, mulherada... era só pedir.E talvez por isso... eu nunca aprendi a dar valor de verdade pra nada. Nem pra ninguém.Quando conheci a Gabi... eu pirei.Uma morena linda, de sorriso fácil, cheia de sonhos, toda certinha.Virgem.Intocada.Do jeito que eu nunca tinha visto antes.Me envolvi com ela rápido. Me apaixonei também. Não vou mentir. Mas o problema é que... eu nunca consegui ser de uma só.Eu precisava da adrenalina. Da novidade.Mesmo com a Gabi sendo perfeita pra ser minha mulher, vinda de família boa, estudiosa, linda, com futuro brilhante, a verdade é que dentro de mim sempre teve esse lado podre que eu nunca consegui controlar.Traí ela.Muitas vezes.Mas sempre escondido. Sempre calculado.Gabi confiava em mim como uma idiota.E eu sabia aproveitar
Gabriela narrando :Tava ali deitada, olhando pro teto, a cabeça a mil.Pensando no Henrique.Pensando em tudo que aconteceu.E, no fundo, tentando convencer a mim mesma que não podia ter dó.Não podia.Ele mereceu.Cada lágrima que chorei, cada sonho que ele destruiu, cada pedaço do meu coração que ele quebrou sem pensar duas vezes.Tava tentando colocar isso na cabeça quando ouvi três batidinhas na porta.— Entra — falei, sem nem me mexer direito.Minha mãe abriu devagar, com aquele olhar meio preocupado.— Filha… a dona Sônia tá aí na sala. Quer falar com você.Na hora, virei de lado e encarei ela, surpresa.— O quê? — franzi a testa. — A mãe do Henrique? Agora?Ela deu de ombros, com um suspiro cansado.— Não sei o que é, filha. Mas vai ver… ela não tem culpa de ter um filho crápula.Fiquei ali parada uns segundos, sentindo o estômago revirar. Dona Sônia sempre foi boa comigo. Sempre me tratou como filha. Era difícil separar ela do filho que me traiu, me humilhou, me destruiu. Mas
Henrique narrando :Acordei com a cabeça latejando.A luz branca e fria do hospital me cegava. Tentei me mexer, mas o corpo inteiro doía. Cada músculo, cada osso. Os flashes do que aconteceu voltavam em pedaços desconexos: o bar, a bebida, a raiva, a briga... os socos, os chutes.Fechei os olhos, tentando organizar os pensamentos.Lembrei da Luísa correndo.Lembrei dos caras me espancando na calçada como se eu fosse um lixo.Lembrei de gritar, sem ser ouvido.Quando abri os olhos de novo, vi minha mãe sentada numa poltrona ao lado da cama.O rosto dela estava cansado, marcado pelas lágrimas.Ela percebeu que eu tinha acordado e se aproximou rápido.— Filho… graças a Deus — sussurrou, segurando minha mão.Tentei falar, mas a boca cortada dificultava.— Fica quieto. Não força — ela disse, ajeitando o travesseiro.Fiquei ali, calado, encarando o teto.O peso do que eu tinha feito, da vida que eu destruí, caiu de vez sobre mim. Sabia que tinha perdido tudo. Sabia que a Gabi nunca mais ia
Prólogo : Guilherme narrando : Eu sabia que aquele dia não seria como os outros. Desde o momento em que acordei, uma sensação estranha me acompanhava, como se algo estivesse prestes a acontecer. Algo ruim. O meu instinto gritava, mas eu ignorei. Estava ansioso para ver Camila, para sentir o seu cheiro, para tê-la nos meus braços mais uma vez. Era como um vício, uma obsessão que eu não conseguia controlar. A casa de praia da família dela era o nosso refúgio, o lugar onde podíamos nos esconder do mundo. Onde ela me dizia, entre suspiros e beijos, que nunca sentiu nada igual. E eu sempre acreditei nisso. Eu acreditei que ela era minha, assim como eu era dela. Cheguei lá com o coração disparado. A porta estava entreaberta, como se estivesse me esperando. Algo no silêncio do lugar me incomodou. O som das ondas parecia distante, abafado pela sensação sufocante que tomou conta de mim. Um arrepio percorreu minha espinha. — Camila? — chamei, a minha voz soando estranha até para mi
Capítulo 2 Camila narrando : Eu tinha 17 anos e, naquela época, o meu mundo ainda era a escola. Eu estava acostumada com aquele ambiente, com a rotina de ser a filha da família rica que todo mundo respeitava, ou, se fosse o caso, temia. Eu não me importava muito com isso, na verdade. Tinha meus amigos, as minhas coisas, e um futuro aparentemente já traçado. Mas tudo mudou quando ele apareceu. Ele estava no meu último ano de escola, mas era novo, um novato que parecia ter saído de algum lugar muito distante da minha realidade. Eu lembro bem do primeiro dia em que ele entrou na sala, com aquele olhar desconfiado, como se estivesse analisando cada pessoa, cada detalhe do lugar. Ele era diferente de todos os meninos que eu já conhecia, e não era só pelo jeito de andar, mais solto, mais confiante de uma maneira que eu não sabia explicar. Eu tinha acabado de sentar no meu lugar, perto da janela, quando ele entrou. Seu nome era Guilherme, e logo ele virou o assunto da turma. Gênio dos
Capitulo 3 :Camila narrando :Continuação :Uma tarde, depois da aula de história, ele me abordou novamente. Dessa vez, sem me pedir nada, sem um livro para pegar emprestado. Ele apenas se aproximou da minha mesa e ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse decidindo o que dizer. O olhar dele estava mais intenso do que nunca.— Camila... — ele começou, com uma voz calma, mas que soava mais séria do que de costume. — Eu... eu não sei o que você pensa de mim, mas eu não sou como os outros. E eu sei que nem deveria estar falando com você,.mas eu não aguento mais guardar isso pra mim.Eu não sabia o que responder. Não estava esperando aquilo, mas ele parecia estar falando direto ao meu coração. Como se tudo o que eu temia, todas as barreiras que eu tentava colocar entre nós, estivessem sendo desfeitas com aquelas palavras simples.— Eu sei o que você quer dizer — respondi, com a voz trêmula, sem saber ao certo o que estava sentindo. — Mas não é tão simples assim.Ele me olh
Capítulo 4Guilherme narrando :Acordar cedo sempre fez parte da minha rotina. O despertador toca antes do sol nascer, e eu já sei o que me espera: mais um dia de luta. Minha mãe, Dona Lúcia, já está de pé antes de mim, preparando o café simples, que na maioria das vezes é só café puro mesmo, sem pão, sem leite. Quando tem, é porque algum dinheiro sobrou ou porque ela conseguiu trazer algo da casa onde trabalha como empregada.Moro num bairro humilde, de ruas esburacadas e casas pequenas que se amontoam umas sobre as outras. O tipo de lugar onde, quando chove forte, as vielas alagam e a água entra pelas frestas da porta. Mas esse é o meu lugar. Cresci aqui, aprendi a me virar aqui. Minha mãe fez de tudo pra me manter longe dos problemas, e foi por causa dela que eu sempre levei os estudos a sério.Eu estudo numa escola de elite, mas não porque minha família tem dinheiro. Entrei lá porque ganhei uma bolsa integral, dessas que só oferecem pra alunos que se destacam. Sempre fui bom com n