Chegando em casa, Romão viu que, sua mãe, andava de um lado para o outro na sala, perturbada com a presença de Raquel, sentada no sofá.
— Que bom que você chegou, meu filho, deu tudo certo? — Claro que sim, mamãe. — Ela reclamou ou fez escândalo, como foi? Enquanto a mãe falava, Raquel levantou-se e grudou-se em seu braço, emburrada. — Foi bem mais tranquilo do que eu esperava. — olhou para Raquel. — Aliás, aproveitando que você está aqui, precisamos conversar. — Ela não só está aqui, ela se mudou para cá. Chegou com duas malas e se instalou no seu quarto. — Obrigado, mãe. Vamos para o escritório, Raquel. Ele segurou-a pelo braço. Amava-a por sua doçura e delicadeza, por sempre o apoiar sem ligar para o seu passado de Dono do morro, mas se instalar em sua casa, no seu quarto, sem pedir permissão? Foi um grande erro. Agora que ele estava casado, como o grande empresário que é, não pode deixar nenhum escândalo desse tipo vazar e atrapalhar seus negócios. Também tinha o fato do que ela contou sobre a irmã não ser verdade, ela precisava se explicar. Lia era educada, cumpridora de seus deveres, mais racional do que passional, sem contar que era virgem. Mesmo com a maneira dele a tratar, só pediu uma coisa, que ele não usasse violência com ela e foi justamente o que ele fez. — Você está com raiva de mim, amorzinho? — Choramingou Raquel, abraçando o braço dele e tirando-o de suas reflexões. Entrou no escritório e fechou a porta. — Por que você se mudou para cá, Raquel? O que você pretende, afrontar a sua irmã? Estamos fazendo isso porque você não pode mais ter filhos e você quer causar confusão? — Sinto ciúmes, não consigo pensar em você na cama com ela. — Choramingou ela, novamente, fazendo beicinho. Ele nunca resistia quando ela falava assim e por isso, ela sempre tinha esse comportamento, quando queria amansá-lo. — Então, não pense! Foi para você não sofrer que levei sua irmã para a cabana. Assim, você não presenciou nada, mas ficar aqui, vendo a barriga dela crescer e nosso convívio todo dia, não será bom para você. — Você jura que não gostou dela? O jeitinho dela de sofrimento, chorando sentida por causa de ciúmes dele, comoveu-o e ele a abraçou. Queria perguntar sobre a virgindade de Lia, mas não teve coragem. Você terá que voltar para a casa do seu pai, não podemos ter nenhum escândalo envolvendo nossas famílias. — Eu sei…— Fez mais beicinho. — Mas quando vou poder te ver? Vou morrer de saudades e ciúmes. — É só por um ano e você concordou com isso. Além disso, só vou transar com ela até ela engravidar. — Está bem, mas você promete que vai me ver sempre? — Prometo, você sabe que não sei ficar sem você. Passaram um bom tempo namorando, até sua mãe bater na porta e chamar para o almoço. Enquanto isso, na cabana, Lia passou um bom tempo deitada no sofá. Seu corpo estava dolorido, principalmente a área íntima. Sempre se considerou forte e dona de si mesma, jamais imaginou passar por essa situação. “Passei os últimos sete anos dedicada à minha carreira. Me formei com louvor, consegui vaga em uma excelente firma, ganhei prêmios e montei meu próprio negócio. Fiz muitos sacrifícios para honrar os meus pais e para isso, deixei de lado a vida sentimental. Para quê, se agora terminei aqui? Fui roubada, traída, enganada, abusada e colocada em cárcere privado. Não sou daquelas que brigam e esperneiam por causa perdida e nem tão pouco das que relaxam e gozam, mas prefiro mil vezes, resolver as coisas pacificamente. “Pela primeira vez, estou sendo tão desrespeitada e afrontada, não sei o que fazer, já que não tenho força física e nem tenho como pedir socorro. Só me resta manter a saúde mental e aguentar, até conseguir recuperar minha vida.” Pensando assim, ela se permitiu chorar, sentindo pena de si mesma, até seu estômago roncar e ela ir à cozinha verificar o que podia fazer para comer. Abriu a geladeira e depois a despensa, confirmou que ele falou a verdade, estavam bem abastecidos de alimentos. — Não vou me privar de uma boa refeição, sei que o melhor remédio para não entrar em depressão é uma boa alimentação. Preparou bife de filé mignon, purê de batatas e salada. Havia se habituado a comer como os estrangeiros, sem feijão e arroz. Aquela refeição simples foi maravilhosa para sua barriga e para seu humor. Depois de limpar tudo, foi procurar o que fazer, mas era uma cabana de caça, não tinha televisão, rádio e nem livros. Lembrou que ele levou sua mala para o quarto e ela correu para ver se era a mala certa. — Olha só, é você, lindinha, minha mala especial... Falou com a mala como se fosse uma pessoa. Pegoua e foi até a porta, olhar se ele ou outra pessoa estava vindo e voltou. Tirou as roupas da mala, arrumou no guarda-roupas e buscou no compartimento falso, no fundo da mala, o seu aparelho celular de emergência. — Aqui está você, meu salvador. Abriu o celular e ligou. Quando apareceu a tela colorida, usou a impressão digital e liberou o acesso aos aplicativos. Vibrou ao ver tudo funcionando, mas quando tentou ligar para seu escritório, não tinha sinal. Até sua rede de dados estava quase nula e ela não conseguiu usar nenhum aplicativo on line. Examinou a casa toda para ver se tinha algum bloqueador, mas não achou nada. — Essa área é muito erma, não deve ter torre próxima ou o bloqueador está em outro lugar. Tudo isso me deixou exausta. Resolveu tomar um banho. Colocou mais spray, vestiu um baby dool e deitou-se para dormir, quando acordasse, pensaria no que fazer. Romão levou Raquel de volta para a casa dos pais e pediu para conversar com o sogro, que o levou para o escritório. — Então Romão, como está minha filha, ela reclamou muito? — Minha esposa está bem e ela se comportou melhor do que eu esperava e é por isso que quero conversar com o senhor. — Me senti um calhorda com o que fiz. Traí a minha própria filha. — Eu pensei que Lia era mais enérgica e descontrolada, mas ela me pareceu bem racional. Depois que leu o contrato que assinou e aquela cláusula específica, se conformou. — Lia passou sete anos na Inglaterra, onde as pessoas são mais controladas. Na verdade, não sei como está o temperamento dela, agora. Ela voltou e contou que se formou, trabalhou em um escritório e depois trabalhou por conta própria. Romão franziu a testa, pensando que podia ser desse “por conta própria” que surgiu a ideia de que ela era prostituta. — Qual a profissão dela? — Não te disse quando a apresentei? Ela é arquiteta e ganhou muitos prêmios no exterior. — E ela nunca enviou dinheiro para vocês? Carlos coçou a cabeça, sem saber o que responder, se contasse que sim e que Raquel roubou o dinheiro, podia atrapalhar o relacionamento da filha, manchando sua reputação. Mas se dissesse que não, deporia contra Lia, fazendo-a parecer uma filha ingrata. — Bem, isso não vem ao caso, agora. Ela deve ter tido muitas dificuldades sozinha em um país estranho e graças a Deus, voltou para nós.Romão ficou intrigado, não sabia no que acreditar. Uma mulher forte que se dedicou a carreira, ganhou muitos prêmios, mas deixou a família em dificuldades financeiras, não parecia muito justa. Estava indeciso. Não era um homem bom, obtinha o que queria sem pedir licença, mas gostava de se ver como justo. Desde quando liderava o contrabando e o tráfico no morro, mantinha tudo em ordem com mãos de ferro. Sempre protegeu mulheres e crianças de maldades e abusos. Agora se tornou um abusador por acreditar em uma mentira. Será que sua menina era tão descrente da competência da irmã que não acreditava em sua capacidade de conquistar sucesso profissional? — Então, sua filha é uma arquiteta profissional e ganha a vida com seus projetos? — Creio que sim. Não sei muito sobre sua vida no exterior. É impossível alguém ter tanto dinheiro só desenhando riscos num papel. — Raquel disse, entrando no escritório, despeitada e não querendo que seu namorado descobrisse a verdade. Romão a olhou sério
Romão levantou-se para sair, mas a governanta o chamou. — Senhor Ferreira, o buffet do casamento deixou aqui algumas caixas com bolo e salgadinhos, o senhor não gostaria de levar para sua esposa? Ele parou um instante para pensar e chegou à conclusão que seria uma ótima desculpa para voltar a cabana, ainda neste dia. Havia prometido que a procuraria dia sim, dia não, mas podia aparecer com uma desculpa. Queria vêla e colocar o plano de sua mãe em prática. — Prepare uma boa embalagem que vou levar para ela. Obrigada, Zuleide. Chegando à cabana, surpreendeu Lia, que estava deitada no sofá. Sentia-se apática e ainda dolorida, mas sentou-se rapidamente, percebendo que a porta da frente abriu. Havia ouvido o som do motor de seu carro, chegando, mas pensou que era ilusão de sua cabeça, já que ele prometeu voltar só no dia seguinte. Quando ele apareceu, ela olhou-o com olhos arregalados e medrosos, não suportaria mais uma sessão de sexo como a do dia anterior. — O que faz aqui
O susto e a expressão dele diziam tudo: ele não acreditava no que Raquel era capaz de fazer e fez contra os próprios pais. — Como assim, do que você está falando? Raquel não é assim. — Só depois que eu cheguei, descobri que todos os e-mails e fundos que enviei para ajudar a família, foram interceptados por Raquel. Ela apagou os e-mails e transferiu todo o dinheiro para sua conta particular. Encontrei uma situação tão caótica na casa, que precisei comprar comida ou passaríamos fome. Enquanto isso, Raquel desfilava com uma bolsa de marca da moda e joias caríssimas. — Eu dou a Raquel o que ela quer, portanto, isso não significa que ela usou o seu dinheiro. — Eu tenho provas, fui ao banco e segui o dinheiro. Mas se você quer continuar se enganando, o problema é seu. Romão não pensou duas vezes, levantou-se e saiu como um foguete, deixando Lia sozinha, saboreando o bolo do casamento. O jantar ficou totalmente esquecido. Entrando no carro, antes de ligá-lo, lembrou que o carro
Lia não quis deixar ele perceber sua mágoa e frustração com seus pais. Tudo teria sido diferente se eles tivessem contado a verdade, ela poderia até conceder seus óvulos para eles terem um filho. — Não se preocupe, cuidarei deles. Conversei com a Raquel e creio que ela vai pôr a cabeça no lugar. — Ela confessou que pegou o dinheiro ou deu uma desculpa? Para nós, ela disse que se deixasse o dinheiro na mão do papai, ele ia gastar tudo sem resolver questão nenhuma. Romão olhou para ela e lembrou que Raquel falou a mesma coisa para ele, então, era uma desculpa ensaiada, o que aumentou a desconfiança e desagrado dele. — Sim, basicamente foi isso que ela falou, mas não negou que pegou o dinheiro. Disse que o dinheiro estava em uma conta conjunta da família e todos eles podiam mexer e ela gastou com suas necessidades para que ele não gastasse de forma negligente. — É uma desculpa aceitável, já que ela não negou, tira a culpa do roubo, mas não nos leva a nada continuar com essa discuss
Cláudia foi para o corredor da ala cirúrgica e sentou para esperar a amiga sair da cirurgia e saber o que aconteceu. Não demorou muito e logo a maca passou, levando a paciente para o quarto, então foi falar com a doutora. — Como ela está, doutora? — Você é parente? — Sou a advogada responsável por ela. — Ela foi abusada, precisou levar alguns pontos, mas ficará bem. — Meu Deus, isso é terrível! — Exclamou indignada, mas não fez mais comentários, esperaria para falar com Lia, primeiro. — As leis mandam denunciar qualquer crime de abuso. Por isso, já enviamos os dados para a delegacia da mulher. Obrigada doutora, vou conversar com ela e decidir o que fazer. — Pode solicitar o prontuário e a descrição dos procedimentos, fale com a assistente social. Mas a senhora sabe qual é o procedimento legal nesses casos. — Sim, eu sei, vou contar a ela, mas será melhor esperar. Obrigada, daqui em diante é comigo. Claudia seguiu para o quarto, chegou quando tiravam a maca, entrou e encontr
Romão fitou seu rosto, depois desceu pelo corpo e voltou ao rosto, sem acreditar no que ela estava falando. Como uma simples transa gostosa, poderia ter feito tal estrago? — Não entendo…como assim, você precisou levar pontos? Foi só uma transa… — Eu não sei como era com suas outras mulheres, mas comigo, foi muito difícil, me rasgou. Eu estava sentindo tanta dor, que não aguentei nem tomar banho. Coloquei uma toalha entre as pernas, pois sangrava muito e procurei pela chave do carro que vi você colocando dentro do bolso e vim para o hospital. Você pode conversar com a médica, caso não esteja acreditando nas minhas palavras. O discurso dela foi muito convincente, ele ficou repassando tudo que fez e não entendia onde tinha errado. Costumava ser bruto em suas transas, mas nunca nenhuma mulher reclamou ou se feriu a ponto de parar no prontosocorro. — Isso nunca aconteceu… pensei que você estivesse gostando. Ele terminou a frase na hora que a porta abriu e a médica que a operou, entro
O médico colocou as luvas e abriu seus joelhos dobrados, debruçando-se para examinar. Romão aproximou-se para ver também e o médico notou. Era exatamente o que queria, não precisava examinar nada, mas o fez para que o marido se convencesse de que a coisa era séria. — O que é isso, doutor, o que fizeram com ela? — Ela sofreu um abuso sexual. O ato foi tão duramente infligido, que rasgou seu períneo e parte da entrada vaginal, foi preciso dar vários pontos para que cicatrize e volte ao normal. — Uma relação sexual pode fazer isso? — Não uma relação normal, essa foi muito violenta. Inclusive, arranhou a parte interna da vagina, causando sangramento abundante. Foi o senhor quem fez isso? O médico terminou o exame e tirou as luvas, sempre olhando para o homem, que não respondeu. — Está tudo bem, doutor? — Lia perguntou, querendo mudar o foco do médico. — Sim, está tudo normal, apesar do inchaço. Pode se vestir. Romão andou até a janela e ficou olhando para o lado de fora, com as
No palco iluminado por um facho de luz, o locutor anunciou: — E o primeiro lugar vai para o projeto de Liane Moura. Com uma arquitetura arrojada, o novo complexo hospitalar terá um designer moderno, com atenção total a inclusão e espaços amplos para todas as áreas da medicina, além de salas cirúrgicas especiais para residentes poderem assistir às cirurgias. Venha receber seu prêmio... Enquanto ele falava, no telão passavam imagens produzidas por inteligência artificial, baseadas nas plantas que Lia desenhou. Todos ficaram atentos e admirados, com o esplendor da arquitetura e instalação do Complexo Hospitalar. Com certeza, muitos viriam de fora para contemplar aquela construção maravilhosa. Lia subiu ao palco recebendo os aplausos da plateia, em sua maioria, arquitetos, designers e empresários importantes. Recebeu o troféu e um cheque simbólico com mais de um metro de largura. — Foi um grande prazer executar esse projeto, depois de sete anos no exterior, é bom voltar ao Brasil e