Romão levantou-se para sair, mas a governanta o chamou. — Senhor Ferreira, o buffet do casamento deixou aqui algumas caixas com bolo e salgadinhos, o senhor não gostaria de levar para sua esposa? Ele parou um instante para pensar e chegou à conclusão que seria uma ótima desculpa para voltar a cabana, ainda neste dia. Havia prometido que a procuraria dia sim, dia não, mas podia aparecer com uma desculpa. Queria vêla e colocar o plano de sua mãe em prática. — Prepare uma boa embalagem que vou levar para ela. Obrigada, Zuleide. Chegando à cabana, surpreendeu Lia, que estava deitada no sofá. Sentia-se apática e ainda dolorida, mas sentou-se rapidamente, percebendo que a porta da frente abriu. Havia ouvido o som do motor de seu carro, chegando, mas pensou que era ilusão de sua cabeça, já que ele prometeu voltar só no dia seguinte. Quando ele apareceu, ela olhou-o com olhos arregalados e medrosos, não suportaria mais uma sessão de sexo como a do dia anterior. — O que faz aqui
O susto e a expressão dele diziam tudo: ele não acreditava no que Raquel era capaz de fazer e fez contra os próprios pais. — Como assim, do que você está falando? Raquel não é assim. — Só depois que eu cheguei, descobri que todos os e-mails e fundos que enviei para ajudar a família, foram interceptados por Raquel. Ela apagou os e-mails e transferiu todo o dinheiro para sua conta particular. Encontrei uma situação tão caótica na casa, que precisei comprar comida ou passaríamos fome. Enquanto isso, Raquel desfilava com uma bolsa de marca da moda e joias caríssimas. — Eu dou a Raquel o que ela quer, portanto, isso não significa que ela usou o seu dinheiro. — Eu tenho provas, fui ao banco e segui o dinheiro. Mas se você quer continuar se enganando, o problema é seu. Romão não pensou duas vezes, levantou-se e saiu como um foguete, deixando Lia sozinha, saboreando o bolo do casamento. O jantar ficou totalmente esquecido. Entrando no carro, antes de ligá-lo, lembrou que o carro
Lia não quis deixar ele perceber sua mágoa e frustração com seus pais. Tudo teria sido diferente se eles tivessem contado a verdade, ela poderia até conceder seus óvulos para eles terem um filho. — Não se preocupe, cuidarei deles. Conversei com a Raquel e creio que ela vai pôr a cabeça no lugar. — Ela confessou que pegou o dinheiro ou deu uma desculpa? Para nós, ela disse que se deixasse o dinheiro na mão do papai, ele ia gastar tudo sem resolver questão nenhuma. Romão olhou para ela e lembrou que Raquel falou a mesma coisa para ele, então, era uma desculpa ensaiada, o que aumentou a desconfiança e desagrado dele. — Sim, basicamente foi isso que ela falou, mas não negou que pegou o dinheiro. Disse que o dinheiro estava em uma conta conjunta da família e todos eles podiam mexer e ela gastou com suas necessidades para que ele não gastasse de forma negligente. — É uma desculpa aceitável, já que ela não negou, tira a culpa do roubo, mas não nos leva a nada continuar com essa discuss
Cláudia foi para o corredor da ala cirúrgica e sentou para esperar a amiga sair da cirurgia e saber o que aconteceu. Não demorou muito e logo a maca passou, levando a paciente para o quarto, então foi falar com a doutora. — Como ela está, doutora? — Você é parente? — Sou a advogada responsável por ela. — Ela foi abusada, precisou levar alguns pontos, mas ficará bem. — Meu Deus, isso é terrível! — Exclamou indignada, mas não fez mais comentários, esperaria para falar com Lia, primeiro. — As leis mandam denunciar qualquer crime de abuso. Por isso, já enviamos os dados para a delegacia da mulher. Obrigada doutora, vou conversar com ela e decidir o que fazer. — Pode solicitar o prontuário e a descrição dos procedimentos, fale com a assistente social. Mas a senhora sabe qual é o procedimento legal nesses casos. — Sim, eu sei, vou contar a ela, mas será melhor esperar. Obrigada, daqui em diante é comigo. Claudia seguiu para o quarto, chegou quando tiravam a maca, entrou e encontr
Romão fitou seu rosto, depois desceu pelo corpo e voltou ao rosto, sem acreditar no que ela estava falando. Como uma simples transa gostosa, poderia ter feito tal estrago? — Não entendo…como assim, você precisou levar pontos? Foi só uma transa… — Eu não sei como era com suas outras mulheres, mas comigo, foi muito difícil, me rasgou. Eu estava sentindo tanta dor, que não aguentei nem tomar banho. Coloquei uma toalha entre as pernas, pois sangrava muito e procurei pela chave do carro que vi você colocando dentro do bolso e vim para o hospital. Você pode conversar com a médica, caso não esteja acreditando nas minhas palavras. O discurso dela foi muito convincente, ele ficou repassando tudo que fez e não entendia onde tinha errado. Costumava ser bruto em suas transas, mas nunca nenhuma mulher reclamou ou se feriu a ponto de parar no prontosocorro. — Isso nunca aconteceu… pensei que você estivesse gostando. Ele terminou a frase na hora que a porta abriu e a médica que a operou, entro
O médico colocou as luvas e abriu seus joelhos dobrados, debruçando-se para examinar. Romão aproximou-se para ver também e o médico notou. Era exatamente o que queria, não precisava examinar nada, mas o fez para que o marido se convencesse de que a coisa era séria. — O que é isso, doutor, o que fizeram com ela? — Ela sofreu um abuso sexual. O ato foi tão duramente infligido, que rasgou seu períneo e parte da entrada vaginal, foi preciso dar vários pontos para que cicatrize e volte ao normal. — Uma relação sexual pode fazer isso? — Não uma relação normal, essa foi muito violenta. Inclusive, arranhou a parte interna da vagina, causando sangramento abundante. Foi o senhor quem fez isso? O médico terminou o exame e tirou as luvas, sempre olhando para o homem, que não respondeu. — Está tudo bem, doutor? — Lia perguntou, querendo mudar o foco do médico. — Sim, está tudo normal, apesar do inchaço. Pode se vestir. Romão andou até a janela e ficou olhando para o lado de fora, com as
No palco iluminado por um facho de luz, o locutor anunciou: — E o primeiro lugar vai para o projeto de Liane Moura. Com uma arquitetura arrojada, o novo complexo hospitalar terá um designer moderno, com atenção total a inclusão e espaços amplos para todas as áreas da medicina, além de salas cirúrgicas especiais para residentes poderem assistir às cirurgias. Venha receber seu prêmio... Enquanto ele falava, no telão passavam imagens produzidas por inteligência artificial, baseadas nas plantas que Lia desenhou. Todos ficaram atentos e admirados, com o esplendor da arquitetura e instalação do Complexo Hospitalar. Com certeza, muitos viriam de fora para contemplar aquela construção maravilhosa. Lia subiu ao palco recebendo os aplausos da plateia, em sua maioria, arquitetos, designers e empresários importantes. Recebeu o troféu e um cheque simbólico com mais de um metro de largura. — Foi um grande prazer executar esse projeto, depois de sete anos no exterior, é bom voltar ao Brasil e
No dia seguinte, quando desceu as escadas, ouviu uma conversa em voz alta vinda do escritório. Olhou em volta e não viu nenhum empregado e nenhum familiar, então desceu na ponta dos pés para escutar. — Mas papai, era eu que deveria casar com ele e não ela? — Reclamava Raquel. — Farei isso pelo seu bem, não sei como é o comportamento daquele homem na intimidade. Apesar de ele estar limpando o nome e se comportando como um homem da sociedade e de boa educação, não podemos esquecer de que era um traficante. — Mas eu gosto dele e ele gosta de mim... — Insistia Raquel, chorando. — Seu pai sabe o que está fazendo minha filha. Lia é mais experiente e com certeza saberá lidar com ele e você ainda é muito nova, não vai conseguir domar um homem daquele porte. “Então é isso que eles estão querendo fazer? Unir duas empresas através do casamento e me usando como o boi de piranha? Acho que fiquei muitos anos fora de casa e o amor se acabou, pois que pai faz isso com uma filha nos dias de ho