Ainda havia quem risse, entre uma taça e outra, dos escândalos do passado envolvendo Amara, filha de Mitter Leds. A história da água com limão usada para lavar o rosto e do vestido falsificado em um banquete ainda circulava como piada em jantares elegantes e conversas maldosas nos bastidores de uma família que vive de máscaras.
Foram episódios enterrados com esforço, mas nunca esquecidos. Marcas como essas não somem, apenas se escondem — até que alguém decide cavar fundo o bastante para desenterrá-las.
Naquele instante, Mitter não voltou a encará-la. Ainda de costas, disparou palavras cortantes. Ao ouvir a frieza em sua voz, Amara sentiu o sangue sumir do rosto — como se o passado gritasse dentro dela, feroz e vivo.
Aquele homem... aquela noite... aquela criança que não viveu.
Pensar nisso era seu ponto fraco. A memória que sua família fez questão de esconder era o pesadelo que ela nunca conseguiu calar. Mitter Leds, como sempre, parecia disposto a esmagá-la de novo.
— Estou lhe dando