Lorenzo narrando
  O elevador subiu sem pressa, como se zombasse da tensão que me percorria de cima a baixo. Eu podia ouvir o som dos cabos, o motor trabalhando, o silêncio preenchido apenas pela respiração dela — rápida, nervosa, quase tão perceptível quanto a batida insistente do meu próprio coração. E eu odiava perceber isso.
  Quando aquele tranco veio, por um instante quase insignificante, ela despencou contra mim. Reflexo. Instinto. Minhas mãos a seguraram pela cintura. Não houve cálculo, não houve decisão consciente. Foi automático, como segurar algo que escapa antes de se estatelar no chão. Só que não foi um objeto. Foi Helena.
  O corpo dela se encaixou contra o meu de um jeito que eu não deveria ter notado. Mas notei. A respiração quente dela atingiu meu rosto, e por segundos que pareceram longos demais, eu fiquei preso naquela proximidade.
  E odiei.
  Não por causa dela, mas por mim mesmo. Porque eu permiti que algo tão banal me atravessasse. Eu, Lorenzo Vasconcellos, não