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Senhor Elmahdy, eu...eu não sou quem está pensando.

Minutos depois enquanto tomamos café estou contando o que eu sei. 

—Allah! Ela não poderia ter feito isso!

—É, mas fez. Agora está fugindo das consequências. Eu sou totalmente contra. Ela deveria ter ficado e encarado o problema de frente e conversar com o rapaz. Mas não! Está fugindo de novo.

—O que tanto ela teme?

Estremeço com a pergunta de Ayla.

—Não sei. Só sei que ela não quer encará-lo. 

—Ela deve ter deixado o rapaz em maus lençóis. 

—Deve —digo pensativa —Mais café? 

—Não obrigada. E você? Faz tempo que não conversamos. Novidades? 

Sorrio pensando em Omar.

—Contrataram um novo professor. Ele é muito bonito, charmoso. Temos trocado olhares.

—Até que enfim uma novidade. 

—É, mas não gere muitas expectativas. O rapaz é devagar. Para você ter uma ideia, saímos de férias e ele nem sequer pegou meu telefone. 

—Por que você não se aproximou dele, então? Tem homens querida que precisamos dar uma forcinha ao destino. 

Balanço a cabeça em negativa.

—Não gosto disso. Quando as coisas têm que acontecer, acontecem sem precisar forçar nada. 

—Por isso está sozinha. Você não pode pensar assim. Você é tão bonita. Não jogue sua juventude fora.

Tenho vinte e dois anos e me considero nova ainda para correr atrás de um homem que não me dá valor.

 Para não contrariar digo, mas não muito certa disso:

—Quando voltar as aulas vou tentar conversar com ele. 

—Quando suas férias acabam?

—Só volto no começo de fevereiro. Tenho dois meses pela frente.

—Quem sabe esse professor gostosão não ficou as férias toda pensando em você e quando voltar ele resolva tomar uma atitude?

Dou de ombros nem esquentando minha cabeça com isso. Eu acredito no Maktub. 

“O que tem que ser será!”. 

Maya

Abro minha carteira para pagar os pães fresquinhos que eu comprei na padaria de Salim. 

Antes de retirar o dinheiro recebo um choque ao me deparar com o nome de Layla naquela que deveria ser minha identidade.

Não acredito que Layla fez isso comigo?

Retiro o documento da minha carteira. 

Por isso ela veio me ver! Ela queria trocar os documentos para não ser descoberta. Com certeza deve ter levado meu passaporte também!

Dou o dinheiro para a moça do caixa e saio da padaria possessa de raiva. 

Depois que nosso pai morreu minha irmã se desvirtuou de vez. Até então, ele a controlava, mas com a morte dele ela se viu livre como um passarinho.

Ela já demonstrava uma certa revolta quando nossos pais se separaram. Isso ocorreu quando tínhamos nove anos. 

Como é costume do nosso povo, na separação, os filhos ficam com o pai. Fomos criadas então pela nossa falecida avó que praticamente fez o papel de mãe enquanto nosso pai trabalhava. 

Nossa mãe americana saiu de nossas vidas e seguiu em frente sem olhar para trás. Com a morte de nosso pai, ela tentou se aproximar, mas Layla a encheu de acusações, despejou toda sua ira e a colocou para correr. 

Eu não estava neste dia, estava dando aulas. 

Fiquei triste com a atitude da minha irmã. Fiquei uma semana sem falar com ela. Layla deveria ter pensado em mim. Ela não me perguntou se eu queria ou não falar com nossa mãe.

Mais tarde nossa ami (mãe) nos procurou novamente e eu finalmente a conheci. Layla dessa vez não a tocou como antes, ela se trancou no quarto e finalmente pude conversar com ela, conhecer a sua história, a sua versão sobre a separação.

Interessada, ouvi atentamente suas palavras quase sem piscar. 

Segundo minha mãe, ela não enxergava mais a pessoa divertida, charmosa que era antes de se casar com nosso pai. Ela nunca imaginou que ele seria assim. Tão introspectivo, tão pacato. A rotina caiu como um manto na vida deles e meu pai não fez questão nenhuma de mudar isso.

Quando ele começou a ver a insatisfação em seus olhos, ao invés de mudar, ele se tornou inseguro e isso o levou a ter acessos de ciúme. 

Começaram então a brigar por qualquer coisa, às vezes pelas coisas mais idiotas.

Mamãe até tentou anular seus desejos, seus sonhos por nós, dizendo para si mesma que ele tinha tido um dia difícil.  Mas um dia eles brigaram feio e ele lhe bateu. Isso foi a gota d’água. Minha mãe pegou suas malas e com muita dor no coração saiu da vida dele. 

Mamãe então refez sua vida com um homem bom, não tão bonito quanto nosso baba, mas um homem com sede de viver como ela. Emocionada, disse que não teve filhos com ele; que se sentiria culpada caso tivesse, ela já tinha duas filhas lindas.  

Hoje, diferente de Layla, mantenho contato com nossa mãe. De vez em quando vou na casa dela e às vezes ela vem me visitar também. Ela mora em Londres, pertinho de minha irmã. O sonho dela é um dia poder conversar com Layla e tentar uma reaproximação.  

Engraçado, Layla tem muito de nossa mãe, a mesma sede de viver e mesmo assim ela não a perdoa de jeito nenhum. Acredito até que foi isso que levou minha irmã deixar Rashid. Ela não quis cometer o mesmo erro que condena em Isadora, quando saiu da vida de nosso pai tardiamente deixando duas filhas para trás. 

Pingos de chuva interrompem meus pensamentos e eu aperto meus passos na calçada. 

Minutos depois o hijab está encharcado e como estou perto de casa o retiro da cabeça.  

Abro o portão de casa com rapidez por causa dos pingos pesados e corro até a porta de entrada. Nesta hora escuto um carro estacionar em frente à minha casa e a porta se abrir e se fechar com força, mas não me viro para ver quem estacionou, pois a chuva está bem pesada.

Com uma mão seguro o lenço molhado enquanto com o braço aperto o saco com os pães contra meu corpo, a outra mão uso para enfiar a chave na fechadura. 

Tão logo alcanço o lado de dentro da casa, sou empurrada por alguém. Assustada eu me viro e dou com um homem alto, vestido com um terno negro fechando a porta atrás de nós. Seu perfume imediatamente invade o ambiente e posso dizer que é maravilhoso. 

 Meu coração dispara quando seus olhos se chocam com os meus. 

Allah! Rashid!

A beleza do homem é gritante e eu logo entendo por que minha irmã ficou deslumbrada por ele.

 Seus cabelos são negros como carvão e combinam perfeitamente com seu rosto. 

Os traços árabes sãos os mais belos que eu já vi na vida. Seu rosto é simetricamente perfeito. A boca, o nariz, o maxilar quadrado, as maçãs do rosto salientes e os olhos quase negros combinam perfeitamente entre si o deixando com uma aparência bem máscula.  

Ele sorri para mim, mas não é um sorriso de prazer por me ver, pois claro que ele pensa que sou Layla, seu sorriso é jocoso, amargo.

—Achou que não encontraria seu esconderijo, minha ratinha? 

A voz profunda reverbera no meu corpo. O sotaque carregado surte em mim como um erógeno irresistível e tudo isso somado a sua gritante beleza tiram minhas forças, meu ar e eu fico o encarando embasbacada mesmo sabendo que preciso reagir.

Ele avança na minha direção e isso me faz desencantar e dar um passo para trás.

— Sabe como me senti quando foi embora me deixando um bilhete? Um verdadeiro otário.

Sua voz agora num volume bem alto reverbera não só no meu corpo, mas em toda a minha pequena sala. 

— Senhor Elmahdy, eu...eu não sou quem está pensando.

—Senhor Elmahdy? —ele diz e ri alto. Allah! Até a risada dele é linda —Avançamos e muito dessa fase, não acha?

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