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“Quem de manhã compreendeu os ensinamentos da sabedoria, à noite pode morrer contente.” Confúcio
Maya Mubarak Mesbah
"Uma garota de sangue árabe, mas muito moderna para os padrões de um homem egípcio, dará certo com ele?" Eu me questionei mesmo quando minha irmã gêmea me disse as qualidades de Rashid Bar Elmahdy.
Educado, prestativo e rico. Formado em engenharia petrolífera um homem árabe vestido como um europeu e que parecia viver como eles.
O homem de boas maneiras e boa conversa conquistou Layla ao ponto de ela desejar se casar. Não demorou muito ela partiu com ele para o Egito para conhecer sua família.
Eu não o conheci. Fiquei sabendo de toda a história por telefone quando Layla me ligou contando as novidades.
Eu não moro em Londres como Layla, eu nunca saí da minha cidade natal. Vivo numa comunidade árabe em Harrow, um mundo paralelo perto de Londres.
Sou formada em Letras com licenciatura em árabe-egípcio. Trabalho como professora numa escola particular ensinando a língua.
Meu falecido avô era egípcio. Ele permaneceu na Inglaterra por causa da minha avó. Eles tiveram meu pai, que recebeu a língua natal deles e os costumes, que ele também nos passou.
—Você mal ficou aqui. Faz tempo que não nos vemos — digo, enquanto assisto Layla fazer as malas.
—Eu avisei que só estava de passagem.
Eu seguro seu braço direito.
—Você está fugindo de alguma coisa? Está fugindo do seu ex? —questiono sem entender.
—É complicado.
Eu seguro os dois braços da minha irmã gêmea.
—Sente-se um pouco e me explica direito essa história. Até agora você tem evitado o assunto. O que aconteceu afinal?
Layla me encara ofegante.
—Rashid lutou por mim. Ele foi contra a retrógada família dele e eu não permaneci ao seu lado. É isso.
—Sim, você me contou que eles foram contra no namoro de vocês, mas e daí? Não deu certo e pronto. Ele precisa entender isso.
—É mais complicado do que isso —ela me diz e volta a arrumar suas malas.
Eu seguro seu braço.
—Para! E conversa direito comigo! Não foge do assunto! Conte-me tudo desde o início. Você me contou por alto. Sente-se e conte sua história. Eu preciso saber para entender o que está acontecendo.
Ela respira fundo.
—Tudo bem. Eu te contarei todos os detalhes de como tudo aconteceu.
—Ótimo.
—Como sabe, nos conhecemos no hotel que trabalho como recepcionista. Rashid estava nos Estados Unidos por causas dos negócios da família. Foi paixão à primeira vista. Tão logo eu o avistei senti um fogo me queimando por dentro. Fiquei encantada com ele. Seu sorriso, sua voz cheia de sotaque, suas boas maneiras.
Eu a corto:
—Avança essa parte.
Ela respira fundo e continua:
—Atraída por seu magnetismo, eu flertei abertamente com ele, deixando muito claro meu interesse. Mesmo com troca de olhares e sorrisos distribuídos por mim, já que ele era muito reservado. Rashid não se achegava, eu via claramente que ele relutava e eu não entendia porque, pois eu sentia que de alguma forma eu o abalava. Nossos olhos sempre se demoravam um no outro mais do que devia, sabe.
—E?
—Não satisfeita com a situação, eu dei um jeito de me aproximar dele. Eu notei que Rashid saía todos os dias no mesmo horário para correr. Ele usava a pista de corrida do hotel. Munida dessa informação, no meu dia de folga saí para uma caminhada noturna, quando ele estava vindo em minha direção simulei uma queda com uma falsa entortada de pé. Rashid imediatamente parou de correr e me prestou ajuda. Bem, o que aconteceu é que ficamos próximos demais. Olho nos olhos e ele finalmente me beijou. Allah! Foi intenso. Fogos explodiram em nossas cabeças, a química rolou muito forte entre nós...
—E?
Ela respira fundo.
—Rashid me convidou para sair e não nos desgrudamos mais. Todos os dias depois do meu trabalho ele me pegava para jantar. Uma semana depois Rashid se mostrou disposto a ficar comigo e me assumir. Então embarcamos juntos para o Egito. Ele enfrentou sua família e me impôs como sua namorada. No dia seguinte procurou o Sheik Abdula e desfez seu compromisso com sua prometida, uma jovem chamada Nádia.
Prometida?
Eu meneio a cabeça desolada com sua atitude de terminar um relacionamento e ela não prosseguir com a relação.
—Então ele era prometido a alguém?
—Sim, desde sua adolescência as famílias tinham esse acordo fechado. Inclusive ele estava prestes a ficar noivo.
Fico ainda mais desgostosa com tudo isso.
—Então você o iludiu, dizendo que ficaria com ele, o fez terminar com a moça escolhida pela família e terminou tudo com ele?
Ela me olha com tristeza.
Essa tristeza não combina com ela...
Layla é prática demais. Deve ter gostado do rapaz realmente.
— Exatamente. Fiz isso quando o homem com atitudes tão europeias se revelou. Ele pretendia morar no Egito e não aqui como eu imaginava. Mesmo desgostosa com isso, fui conhecer sua família no Egito. Quando conheci o lugar e o palácio que ele morava, fiquei encantada. Mas não demorou muito para eu cair numa nova realidade.
—Que realidade?
—Ao tipo de vida que eu levaria ao lado dele. Logo ele começou impor roupas que não apreciava. Fora a pouca atenção que Rashid dispensava a mim, ele mais trabalhava do que ficava ao meu lado. Meus dias solitários me fizeram aprofundar ainda mais na percepção da minha condição. Eu me dei conta que estaria longe de casa e todas as amizades que fiz em Londres. Consequentemente das festas que tanto aprecio. Conclusão: eu não me adaptei.
—Layla! Claro que seria assim! O que esperava? Então você terminou tudo e o que aconteceu depois?
—Na verdade eu deixei um bilhete e fugi.
—Você deixou um bilhete e fugiu?
—Sim. Eu não consegui encará-lo de frente e fugi. Mas não esperava que ele me ameaçasse.
—Ele te ameaçou?
—Sim. Ele me ligou quando eu já estava já em Londres. Disse que eu pagaria caro por tê-lo deixado dessa maneira, que não ficaria assim.
— Allah! Não é para menos. Ele foi contra o desejo de sua família de se casar com essa tal de Nádia, lutou por você e você fugiu? Como pode fazer isso, Layla?
Ela j**a a última roupa na mala e olha para mim.
—Rashid é muito envolvente. Ele me faria uma lavagem cerebral. Tenho certeza de que ele me faria ceder. Aquele homem é o diabo sedutor em pessoa. Mas eu me conheço muito bem, mais para frente eu lamentaria muito. Eu não consigo mais viver do jeito que vocês vivem. Seria uma prisão voltar a viver dentro dos costumes.
Ela fecha a mala, beija meu rosto e sai antes que eu possa lhe dizer alguma coisa...
—Hei, espera. Onde você ficará?
—Na casa de uma amiga.
—Que amiga?
—Uma que você não conhece e melhor não saber.
Eu seguro seu braço.
—Allah! Mas para que tudo isso? Fica aqui. Ele nunca te achará aqui.
Ela ri.
—Você não conhece Rashid Bar Elmahdy —ela diz e sai.
Eu a sigo até ela sumir pela porta, nesta hora minha vizinha Ayla entra na sala. Eu a convidei para tomar café conosco, não esperava que minha irmã partiria tão cedo...
—Nossa! Sua irmã passou por mim como um foguete. Vocês brigaram? Por isso ela foi embora?
Eu balanço a cabeça em negativa ainda pensativa.
“Ela não deveria ter feito isso com o rapaz! Sabia que ia dar merda! Eles têm atitudes liberais aqui, mas no país deles é bem diferente. A própria cultura milenar exige isso.
—Não —digo triste com essa situação —ela está indo embora por outro motivo.
—Por que ela não ficou mais tempo com você? Ela mal acabou de chegar? Vocês não se veem faz tanto tempo?
—Sente-se que eu vou lhe contar tudo.







