A ficha demorou para cair. Talvez porque uma parte de mim ainda quisesse acreditar que tudo isso era um grande erro, que Carlos não poderia ter mentido tão descaradamente para mim a vida toda. Mas, conforme meus olhos corriam pelas fotos no meu celular, que Aston havia me enviado, meu estômago revirava.Carlos. Em uma boate. Rindo, bebendo, completamente à vontade. E enfiando a cara nos peitos de uma stripper.Engoli em seco, sentindo a garganta apertar. Amanda não sabia disso. Ela estava em casa, fazendo planos de casamento, sonhando com um futuro que nunca ia existir, enquanto Carlos vivia uma vida dupla sem nem ao menos tentar esconder. Ele não se importava se fosse pego. Ele se achava intocável e eu sabia que ele era assim, sempre soube, mas... o que eu poderia fazer?Ele tinha cuidado de mim, tinha feito tudo por mim, eu devia a ele, ou pensava que devia e isso me fez odiá-lo bem agora, bem quando eu descobri a verdade, bem quando descobri que as coisas não eram bem como ele dizi
Depois de semanas e mais semanas trabalhando como uma lunática, eu finalmente resolvi me dar um descanso merecido, (e claro, isso não teve nada haver com Aston me obrigando a sair do laboratório e trancando a porta, sem me deixar com a chave).Eu voltei para casa, encarei minha cama, (a quem eu não via há alguns dias) e me lembrei do quão confortável ela era. Aproveitei o meu ganho quente e claro, depois de um sono de mais de 12 horas, — eu resolvi que seria uma boa ideia, socializar.E Clara foi a primeira pessoa para quem eu pensei em ligar. Ela chegou 30 minutos depois que eu liguei e parecia, explodir de felicidade em me ver de novo.— Eu pensei que você tinha morrido! Como alguém some assim? — Eu precisava trabalhar, — lembrei ela, — estudos levam muito tempo, sabia? Eu tive que ficar fazendo testes e-...— Não comece a se gabar por todo o seu patrocínio milionário, doutora Moretti, — ela zombou e eu me senti livre de novo.Eu podia rir e me divertir com Clara. De novo. Sem preo
Carlos Ricci estava perdendo o controle, e eu estava me divertindo enquanto assistia a desgraça dele prestes a chegar — porque por mais que eu não quisesse admitir, eu concordava com Aston nesse quesito… Carlos Ricci, era um merda que merecia o karma caindo em cima de sua cabeça, como uma bigorna.Desde que comecei a puxar os fios certos, ele vinha se enrolando cada vez mais na teia que eu e Aston tecemos. Endividado, frustrado e começando a sentir o desespero roendo suas entranhas. A expressão no rosto dele, cada vez que verificava sua conta bancária e percebia que o dinheiro escorria entre seus dedos, era um verdadeiro presente, mas o que ele esperava? Manter uma vida de alta classe, com um salário medíocre de um diretor de hospital?Ele precisaria de anos nesse cargo para conseguir algo PERTO do que estava tendo agora. Ao menos, sem estragar de vez suas finanças.O problema, era que ele era burro, inconstante e inconsequênte. Ele não conseguia entender o básico e por isso, estava f
Eu saí da boate cuspindo ódio.A porra da striper teve a audácia de chamar os seguranças — como se eu fosse algum marginalzinho qualquer. Tudo porque, segundo ela, eu “ultrapassei limites”. Limites, ela disse. Aquela ridícula deveria se sentir privilegiada por eu ter dado atenção pra ela. Se me perguntarem, ela tava era implorando por isso com aquele olhar vazio e aquele sorriso treinado que ela achava sedutor.A fila inteira do lado de fora me olhou como se eu fosse um delinquente. Uma mulher chegou a rir. Rir. De mim.Respirei fundo e ajeitei a gola da camisa, ainda sentindo o cheiro de perfume doce e suor barato impregnado no tecido. O blazer — Armani, por sinal — tava meio amassado depois da confusão. Peguei o celular e caminhei até o carro.Não achei o Henry. Melhor assim. Menos um pra ver minha saída teatral pela porta dos fundos. E sinceramente? Ele andava se metendo demais. Sempre com aquele jeito de bom moço, rindo demais, perguntando demais. Nunca gostei muito dele. Mas fazi
A casa estava silenciosa demais pro meu gosto.O relógio antigo na parede da sala de estar fazia um tique-taque irritante, como se cada segundo me lembrasse da bomba que eu precisava desarmar. E pior: uma bomba que vestia paletó caro, falava palavras bonitas e ainda tinha convencido minha filha de que era o grande amor da vida dela.Carlos.Só de pensar naquele nome, meu maxilar travava.Peguei meu copo de uísque — já era o segundo da noite, talvez o terceiro — e fui até a janela do escritório. A cidade lá fora brilhava como um milhão de promessas falsas. Carros indo e vindo, prédios iluminados, festas acontecendo… E eu ali, tentando encontrar uma forma de demitir um canalha sem perder minha filha no processo.Amanda.Desde que ela começou a sair com Carlos, tudo mudou. Ela se afastou de mim. Parecia sempre ocupada, sempre cansada. Sempre… diferente. E eu fingia que não via, porque talvez, só talvez, ela estivesse feliz. E se tem uma coisa que um pai quer, é ver a filha feliz. Mas a v
Eu devia estar aliviada.Ou feliz. Talvez animada. Mas, acima de tudo, eu só queria acreditar.Enquanto esperava o elevador subir até o apartamento de Carlos, fiquei girando a aliança falsa entre os dedos — aquela de vitrine, só pra “ensaiar o visual”. Ainda nem era oficial, mas eu já me sentia noiva. Já estava no papel, não estava? Com o evento marcado, convidados selecionados, meu pai meio conformado (ou cansado), e Carlos… Carlos me esperando.Quando a porta do elevador abriu, meu coração disparou do jeito bobo que sempre fazia perto dele. Um misto de ansiedade e esperança, como se eu ainda fosse aquela garota de vinte anos que se apaixonou pela primeira vez por um homem mais velho, mais vivido, mais… tudo.Bati na porta duas vezes e, antes mesmo de recuar, ele abriu.Carlos estava com a camisa social meio aberta, revelando um pedacinho do peito. O cabelo desgrenhado. E aquele sorriso — o mesmo sorriso que me prendeu desde o primeiro dia.— Amanda… — ele falou como se meu nome foss
A notificação apareceu no canto da tela do meu celular no exato momento em que eu saía da academia.Carlos Ricci:🕴️ “Grande evento vindo aí, amigo. Hora de mostrar quem é quem nessa cidade. Te espero lá.”Sem emojis de coração. Sem palminhas. Só aquela arrogância polida que ele sempre usou como perfume.Ri sozinho.Era típico do Carlos: anunciar a própria glória como se estivesse convidando o mundo pra assistir sua coroação. Um noivado com direito a holofotes, colunistas sociais e champagne francês — como se isso fosse apagar a podridão que ele espalhava nos bastidores do hospital. Como se a fantasia fosse suficiente pra esconder o monstro.Mas dessa vez, ele tava se enganando sozinho. E o que ele não sabia… era que o palco já estava montado.Toquei no contato de Aston, e ele atendeu antes do segundo toque.— Fala, irmão.— Ele vai fazer um evento. — fui direto.— Ele quem?— O príncipe encantado da Amanda. Nosso querido Carlos Ricci. Vai anunciar o noivado. Tapete vermelho, imprens
Eu juro que chequei o celular umas duzentas vezes naquela manhã.Não porque eu tava esperando algo importante do trabalho — até porque, sinceramente, eu vinha deixando o trabalho em segundo plano desde que ela tinha sumido.Adeline.Ela tinha dado aquele afastamento clássico. Do tipo que não diz "vai embora", mas também não deixa espaço pra ficar. Eu entendi. Eu respeitei. Mas... esperar por alguém sem saber se ela vai voltar é como manter a porta entreaberta durante uma tempestade — você não sabe se fecha de vez ou deixa aberta e torce pra que o sol volte.E aí, de repente, ela respondeu.“Café da tarde? Hoje?”Li aquela mensagem cinco vezes. O coração deu uma batida estranha, rápida demais, e eu quase ri sozinho, no meio do quarto, parecendo um moleque de ensino médio com crush no banco de trás.Respondi tentando parecer casual:“Sim. Diz o lugar e eu tô lá.”Ela mandou o nome de um café que eu já conhecia — discreto, com um clima de aconchego chique e cheiro constante de bolo de la