Capítulo 3
O rosto de Vanessa perdeu toda a cor num instante.

Ela se atirou no chão num reflexo quase automático, suplicando em voz estrangulada:

— Lívia, me perdoa! Eu me esqueci completamente da alergia. Por favor, não fique com raiva, tá? Posso pedir outro sabor.

A atuação dela era tão ensaiada que eu quase ri de absurdo.

Na primeira vez que fiz o bolo de paçoca, realmente não sabia que ela tinha alergia.

Quando ela comentou casualmente: "Quero sabor de manteiga de amendoim." passei horas na cozinha, queimei os dedos, só pra tentar agradá-la.

Resultado? Choque anafilático — Ela quase foi parar no Pronto-Socorro.

Mas quando ela acordou, a primeira coisa que fez foi se jogar nos braços do Henrique, soluçando:

— Henrique, foi só um acidente. A Lívia fez com tanto carinho, disse que se eu comesse só um pedacinho não faria mal… foi minha culpa, fui gananciosa…

E eu? Só fiquei parada ao lado da cama, encarando os olhos cheios de reprovação dele e do Carlos, murmurando:

— Eu juro que não sabia… Ela nunca me contou…

A resposta do Henrique foi um chute no meu estômago.

— Para de mentir! Você só não aguenta ver a gente dando atenção pra ela!

O impacto me jogou contra o batente da porta, me deixando encolhida no chão, sem conseguir me mexer de dor.

Fiquei trancada no quarto por três dias seguidos depois disso.

Sem comida. Sem água. Sem sequer o direito de sair pra ir ao banheiro.

Quando me liberaram, mal conseguia me manter em pé.

Lembrar daqueles dias me fez responder com frieza:

— Não vou fazer. Se quiser, compre um.

Vanessa não desistiu. Segurou meu braço com força, fingindo reconciliação:

— Tudo bem, eu não como, pode ficar tranquila.

Mas os olhos dela brilharam de raiva pura. Suas unhas afundaram na minha pele até eu soltar um grunhido de dor e me livrar do aperto — fazendo-a cair de propósito no chão.

O ar congelou.

Carlos correu pra ajudar ela e apalpou o cotovelo com cuidado excessivo.

Vanessa choramingou, segurando o braço:

— Ai, Carlos… está doendo tanto…

Henrique puxou a blusa dela pra ver o "ferimento", tocou de leve o arranhão e depois girou pra me encarar com fúria.

— Lívia, tá louca?!

Um tapa violento me atingiu com força brutal.

—Você já estava se achando demais! Fica sem jantar hoje e vai pro seu quarto pensar no que fez!

O impacto foi tão forte que um dos meus dentes de trás ficou mole.

Carlos viu o sangue escorrendo do meu lábio e hesitou por um segundo, mas um novo choro dramático de Vanessa o fez voltar a atenção pra ela imediatamente.

Limpei o sangue em silêncio e voltei pro meu quarto.

Não pra refletir, mas pra pegar a mala que já estava preparada há dias.

Quando arrastei a bagagem pela sala, o silêncio foi seguido por risadas de escárnio.

— Olha só! Aprendiz de feminista querendo dar escândalo? — Henrique cruzou os braços. — Você é adulta, Lívia. Se sair hoje, não espere voltar.

Ameaças velhas.

Aquela casa nunca foi minha de verdade.

Não virei pra trás.

Henrique, furioso, pegou o vaso da mesa e arremessou.

Os cacos de vidro se espalharam aos meus pés, com um estilhaço atingindo meu tornozelo.

— Vai então! Nem pense em entrar nesta casa, mesmo que você se ajoelhe no futuro.
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