Após ser diagnosticada com lúpus eritematoso sistêmico grave, o médico recomendou que eu fosse internada imediatamente.

O tratamento era caro. Saí do hospital e liguei para o meu marido.

Depois de ter a 188ª chamada recusada, entrei em uma funerária com o diagnóstico na mão.

— Bom dia, queria marcar minha própria cremação.

A atendente viu as manchas de borboleta nos meus pulsos com compaixão.

— Querida... veio sozinha? Onde está sua família?

Mal terminou de falar, a porta se abriu bruscamente.

Henrique Montenegro chegou com sua irmã adotiva apressadamente, seguido pelo meu irmão.

Antes que eu pudesse dizer algo, Henrique me deu um tapa na frente de todos, com os olhos cheios de raiva.

— Para competir com a Vanessa, você realmente veio a um lugar desses para nos assustar? Lívia, você não acha que está exagerando?

Fiquei paralisada, sem palavras.

Só quando vi os balões cor-de-rosa atrás de Vanessa Montenegro, eu me lembrei: hoje era o aniversário dela.

Henrique tinha até tirado dois dias de folga para ajudar ela a preparar a festa. Enquanto isso, eu, sua esposa com uma doença terminal, só queria pedir um pouco de dinheiro para o tratamento.

Depois de tentar 188 ligações sem atender e um "exagerando".

Meus olhos arderam, e as lágrimas caíram sem controle.

Levantei a mão e toquei a bochecha ardente, murmurando:

— Henrique, eu não...

— Ainda vai mentir? — Meu irmão, Carlos Heitor, arrancou o diagnóstico da minha mão.

Leu rapidamente e deu uma risada sarcástica.

— Lúpus? Nem pra mentir direito! A chance é tipo acertar a Quina com a febre do ouro! Agora você conseguiu, a festa da Vanessa está arruinada por sua causa.

— Desde criança finge estar doente para ganhar pena. Agora tenta de novo?

Ele levantou a mão, como se fosse me bater, mas foi interrompido pela Vanessa.

Ela estava com os olhos cheios de lágrimas, a voz cheia de culpa:

— Lívia, desculpe, eu não deveria ter feito a festa...

— Por favor, pare de mentir para eles, eles já estão tão cansados... Eu abro mão de tudo, só quero que você caia na real.

Henrique logo a abraçou, enxugando suas lágrimas com ternura enquanto dizia "não é sua culpa".

Só senti meu corpo doer mais, quase sem conseguir respirar. Um gosto de sangue subiu pelo nariz.

Não olhei mais para eles. Limpei o sangue com a mão e voltei ao balcão:

— Por favor, resolva a papelada da minha cremação. Daqui a três dias, quero tudo resolvido sem complicações. Não tenho mais família.

Atrás de mim, Henrique soltou uma risada fria, os olhos cheios de desprezo:

— Lívia, para estragar a festa da Vanessa, você realmente encenou essa palhaçada?

— Você não devia se preocupar com doenças, mas com as consequências que vai enfrentar daqui a três dias.

— E não espere que eu arrume sua bagunça.

Sem mais, ele saiu com Vanessa, sem sequer olhar para trás.

Depois de resolver os documentos, voltei sozinha para casa.

Tinha apenas três dias de vida.

Com lúpus grave, planejei sozinha o fim da minha existência.

Enquanto isso, as duas pessoas mais importantes para mim estavam com outra mulher, soprando velas e abrindo champanhe.