Sierra
Após o jantar, eu decido sair para o jardim e respirar um pouco de ar puro.
Está uma noite linda e uma brisa fresca sopra os meus cabelos, causando uma sensação gostosa.
Me sento em um banco próximo a algumas árvores e mais uma vez desato a chorar, me sinto como um passarinho em uma gaiola de ouro, esse lugar é luxuoso e tem tudo que o dinheiro pode comprar, mas nada disso me deslumbra, tudo que eu queria era ser livre.
Liberdade, é está aí algo que nunca poderei viver na pele, passei toda a minha vida presa no convento, vivendo sob as regras rígidas das freiras e agora estou aqui à mercê de um criminoso assassino, quer dizer, ele pode me matar a qualquer hora, ou sei lá, fazer qualquer outra maldade comigo porque alguma intenção ele tem ao me deixar presa aqui.
Quando finalmente me acalmo, um arrepio toma conta do meu corpo, tenho a sensação de que estou sendo observada.
Olho para todos os lados procurando alguém que esteja por perto, mas não encontro nada, fico com medo e decido ir embora.
Me levanto rápido e corro em direção à casa, mas acabo esbarrando em alguém.
Seja quem for, eu fico grata por me segurar ou eu teria caído de bunda no chão.
… _ Você está bem?
Uma voz gentil pergunta.
Olho para cima e vejo um rapaz aparentando ser só um pouco mais velho do que eu.
Sierra_ Estou, sim, obrigada.
Respondo, me soltando.
..._ Parecia que estava fugindo de alguma coisa.
Sierra_ Eu só... Tive a impressão de que estava sendo observada. A propósito, quem é você?
..._ Meu nome é Enzo, sou um dos soldados da Ndrangheta, fui designado para cuidar da residência do dom, estava fazendo minha ronda quando você esbarrou em mim.
Sierra_ Me desculpe, eu não tinha te visto.
Enzo_ A não, sem problemas, pode esbarrar em mim sempre que quiser.
Ele diz em tom de brincadeira.
Sierra_ Eu preciso ir, com licença.
Falo passando por ele e continuando o meu caminho em direção à casa.
Enzo _ A gente se vê por aí.
Ele fala um pouco alto, para mim, escutar a distância, mas eu não respondo, me lembrando das palavras no Matteo sobre não conversar com nenhum dos seus homens.
Não quero despertar a sua ira, sabe-se lá o que ele é capaz de fazer comigo.
Sem sono, eu decido explorar a casa, tudo está em silêncio, com certeza todos os funcionários já foram dormir.
Isso foi o que pensei até ver a Arminda caminhando pelo corredor com alguns lençóis na mão.
Arminda_ Senhorita, ainda está acordada?
Sierra_ Estou sem sono, e você ainda está trabalhando?
Arminda_. Na verdade, já estava deitada quando me lembrei de que havia esquecido de guardar esses lençóis no quarto do dom.
Sierra_ Ele não se importa de você entrar lá enquanto ele está dormindo?
Arminda_ O dom não está em casa, ele saiu após o jantar.
Sierra_ Ata, você precisa de ajuda?
Arminda_ Não, eu dou conta, e também ninguém, além de mim, tem permissão para entrar no quarto dele.
Sierra_ Por quê?
Arminda_ Não sei, senhorita.
Ela fala sem me olhar nos olhos, o que me diz que ela sabe, sim, mas como nada sobre aquele homem me interessa, eu deixo para lá.
Sierra_ Vou continuar a explorar essa casa então.
Arminda_ Por que não vai assistir alguma coisa na sala de TV?
Sierra_ Acho que nem sei como ligar uma televisão.
Arminda_ Como assim? A senhorita nunca assistiu TV antes?
Sierra_ Não, no convento não tinha, a madre superiora dizia que a televisão era a janela para a podridão do mundo e que nosso tempo livre devia ser gasto em orações.
Ela me olha admirada, não sei se por saber que eu vivia em um convento ou por eu nunca ter assistido televisão na minha vida.
Arminda_ Espera aqui, vou levar os lençóis e já volto para te ensinar a mexer na televisão.
Ela sai apressada e eu fico grata por não fazer nenhum comentário sobre a vida que exclusa que eu levava antes de vir para cá. Embora as coisas não tenham mudado muito, continuo isolada do mundo, a diferença é só que agora estou pressa em uma mansão luxuosa.
Após alguns minutos, ela retorna e me leva até a sala de TV.
Sierra_ Nossa, quantas pessoas moram aqui?
Arminda_ Somente o dom e agora a senhorita.
Sierra_ Então, por que tantas poltronas?
Arminda_ É que a sala de TV é, na verdade, um cinema em casa.
Olho para ela, confusa.
Arminda _ Deixe adivinhar, a senhorita nunca foi ao cinema.
Sierra _ Não.
Arminda_ Olha, acho que sua vida era bem sem graça em.
Sierra_ Quando não se conhece nada além da sua realidade, o que se tem não parece tão ruim.
Arminda _ É, não se pode sentir falta do que nunca teve.
Ela me ensina a ligar a televisão e como mudar de canal, além de me apresentar à N*****x. Tenho que admitir que fiquei encantada, tanto que quando dei por mim já estava aconchegada em uma das poltronas assistindo a um filme.
Insisti para a Arminda ficar, mas ela se recusou, disse que tinha que ir descansar. E que não seria apropriado, pois ela era apenas uma empregada, embora isso não fizesse diferença para mim.
Sozinha, senti o sono chegar, minhas pálpebras começaram a pesar e meus olhos foram se fechando aos poucos até que peguei no sono.
Acordei meio atordoada, escutando gritos e gemidos vindo de algum lugar próximo.
Com o coração aos pulos, desligo a televisão e sigo aquele som, à medida que me aproximo da sua fonte, vai ficando mais alto.
Todo aquele barulho me leva a uma porta que está entreaberta, fico ali por alguns segundos, ouvindo os gemidos, pensando se devo ou não olhar o que estava acontecendo. Por fim, decidi olhar, afinal alguém podia estar precisando de ajuda.
Bem devagarinho, me aproximo da porta e olho.
Em minha inocência, não espera ver uma cena daquela nunca.
Há uma mulher nua de quatro sob uma cama, ela geme e grita sem parar enquanto um homem forte e todo tatuado a penetra por trás.
Suspiro alto quando entendo o que está acontecendo, eles... Estão fazendo sexo!
Me lembro das polêmicas aulas de anatomia na escola católica e, sem dúvida, é isso que estou vendo nesse momento.
Queria sair dali correndo, mas meus pés parecem presos ao chão, e eu me pego assistindo toda aquela cena, até que o homem se vira e eu vejo finalmente o seu rosto.
Sierra_ Matteo!
Eu digo em um sussurro, mesmo assim ele parece me ouvir, pois seus olhos vão direto para mim, parecendo não se importar com a minha presença ali ele aumenta as suas estocadas, mas aqueles olhos frios continuam em mim.
Meu coração parece que vai sair pela boca, não sei se de medo ou sei lá, simplesmente não consigo identificar o que está acontecendo comigo, só sei que consigo recuperar o controle do meu corpo e saio correndo dali, indo direto para a segurança do meu quarto.