Sophia Sinclair sempre soube que pertencia a um mundo onde o poder era mais valioso que o amor, e onde a lealdade era comprada com sangue. Filha de um bilionário implacável, vive uma vida milimetricamente calculada entre aulas de finanças em Columbia, brunchs de fachada e a constante vigilância do sobrenome que carrega. Mas tudo muda quando seu pai desaparece repentinamente, deixando uma única ordem: “Você ficará sob os cuidados de Matthias Kane.” Matthias. O homem que ela jurou odiar. O único que ela aprendeu, desde criança, que era um limite inquebrável. O Don mascarado do império financeiro mais sujo de Nova York. O melhor amigo — e único aliado — do seu pai. E o homem que fez um único juramento: “Ela é proibida para mim.” Agora, trancada numa mansão onde as paredes guardam segredos mais perigosos que as ruas, Sophia se vê forçada a conviver com um homem que transforma regras em armas e o silêncio em tortura. Mas há coisas que nem as promessas mais antigas conseguem conter. Desejo. Obsessão. Culpa. E o tipo de amor que não se declara — se sobrevive. Quando a verdade sobre sua família começa a emergir, e o submundo se aproxima com garras afiadas, Sophia percebe que seu maior perigo não são os inimigos à espreita. É Matthias Kane. Porque ele pode protegê-la de tudo. Menos dele mesmo. “Se você é meu limite, Sophia… então que Deus tenha piedade do mundo quando eu cruzar essa linha.”
Leer más“O problema nunca foi o caos… foi saber que ele tinha um nome. E sobrenome.”
O som irritante do despertador rasgava meu cérebro. De novo. E de novo. Abri os olhos. Manhattan pulsava do outro lado da janela panorâmica, como se a cidade tivesse acordado só pra lembrar: “Você não tem mais controle de nada.”
Era isso. Uma vida inteira planejada, milimetricamente organizada entre cafés caros, aulas, estágio e brunchs ridículos… até que tudo desmoronou em menos de 24 horas.
— Droga… — murmurei, chutando o edredom.
A voz do meu pai ecoava na minha cabeça, grossa, autoritária, com aquela arrogância que me ensinou desde pequena que o mundo se curva pra quem tem poder.
"Eu vou pra Zurique. Dois meses. Você fica com Matthias."
Matthias Kane. O melhor amigo do meu pai. O homem mais frio, controlado e irritantemente perfeito que existe. A única pessoa capaz de me tirar do sério com um único olhar.
Agora, graças ao “plano emergencial” do meu querido pai, eu estaria dois meses sob o teto dele. Dois meses sendo vigiada como uma criminosa, respirando as regras dele, suportando aquele olhar que despia minha alma.
O mesmo homem que cancelou minha festa de aniversário aos doze porque “o local não tinha protocolo de segurança adequado”. E que, aos quinze, barrou minha viagem escolar a Paris porque “nenhum professor era treinado em evasão tática”.
Enquanto as meninas postavam fotos com croissants, eu escrevia redações trancada em casa. Ele sempre transformou minha vida num campo minado. Mas agora... agora ele me jogou direto no epicentro.
Levantei da cama com o corpo pesado. Me olhei no espelho: olheiras nível zumbi, cabelo num ninho de corvos. Suspirei.
— Perfeita… — murmurei, sarcástica.
Tomei um banho rápido, puxei um vestido preto justo, decote sutil, costas nuas. Joguei uma jaqueta de couro por cima, salto agulha, coque bagunçado. Batom vermelho. Armadura. Enquanto passava o delineador, uma pergunta pulsava na minha cabeça: Por que ele? Por que não um hotel, uma governanta, um guarda-costas aleatório? Por que Matthias Kane?
Meu celular vibrou.
"19h. Pontualidade é o mínimo. Traga seu passaporte." — Matthias Kane.
Taquei o celular no travesseiro.
— Passaporte? Ele só pode estar brincando.
Sentei na cama, rindo sozinha. Não ia obedecer. Não dessa vez. Eu era uma Sinclair, não um pacote da Am@zon.
Eu ia pra faculdade. Ia ver Izzy e Noah. Ia tomar café, rir, respirar. Se Matthias me quisesse, que viesse me buscar.
***
O campus da Columbia estava cheio como sempre: jovens correndo, cafés na mão, egos inflados, sonhos caros. Meus saltos batiam como tiros no chão. Alma Mater me observava lá do alto, indiferente.
Izzy estava largada no banco, blazer lilás, batom roxo, fone de ouvido. Noah digitava furiosamente no notebook, provavelmente cancelando algum figurão na rede social.
— Achei que você tinha sido sequestrada, princesa — disse Izzy, tirando os óculos. — E se tivesse sido, quem ia pagar o resgate? Teu pai não responde nem os próprios e-mails.
— Bom dia pra você também — murmurei, largando a bolsa Tiffany no banco com força.
— Você está pálida — Noah comentou, empurrando um café pra mim. — Mais do que o normal.
— Não dormi bem. — Dei de ombros. Verdade, mas não toda.
Izzy me fuzilou com aquele olhar clínico.
— Briga com daddy Sinclair ou crise existencial?
— Ambos. Mas tô viva. Por fora, pelo menos.
— Você está estranha — Noah insistiu.
— E você está usando camisa florida no outono. Todo mundo tem seus problemas — rebati, arrancando risadas.
O dia voou. Aulas, estágio, reuniões inúteis. Tudo uma grande distração barata. No fundo, eu só pensava numa coisa: não vou. Não vou obedecer. Não vou me curvar.
— Hoje a gente vai afogar essa tua cara amassada em vodka — ela disse. — Não aceito discussão.
Noah ergueu a mão, já digitando no celular. — Confirmado. Reservando mesa no clube novo no Soho.
Eu deveria dizer não. Deveria lembrar da mensagem. Da ameaça velada. Mas não. Eu só ri. Joguei a cabeça pra trás, puxei a jaqueta.
— Hoje eu sou só caos, bebê.
A noite virou um borrão de neon, drinks, música alta. Eu dançava sem parar, sentindo cada batida vibrar nos ossos. A cada gole, a culpa ficava mais distante. As notificações do celular sumiram sob as luzes.
"Pontualidade, Sophia. Não me faça ir te buscar." — última mensagem de Matthias.
Ignorei.
No meio da pista, senti mãos na minha cintura. Virei bruscamente.
— Sophia... — a voz grave, arrastada de álcool, veio junto com um hálito quente.
Theo. Meu ex. Um erro de verão em Saint-Tropez. Bonito, rico, mas com o ego maior que Manhattan.
— Não sabia que você ainda existia — soltei, tentando sair.
Ele segurou firme. — Senti sua falta. Você some e aparece agora toda soltinha, toda minha.
— Eu não sou sua. Nunca fui — empurrei, mas ele não largou.
Ele puxou meu rosto pra perto. O cheiro de bebida me enojou.
— Vamos sair daqui — ele sussurrou, tentando colar os lábios nos meus.
— Theo, solta agora. — Minha voz saiu firme, mas o pânico já começava a subir.
Ele riu, apertou mais forte.
— Não faz cena. Você adora provocar.
Antes que eu pudesse reagir, senti uma mão grande no ombro dele.
Theo foi puxado com tanta força que quase caiu no chão.
Um homem enorme, segurança do clube ou talvez enviado do próprio inferno, apareceu atrás dele. Os olhos, frios. A voz, baixa.
— Problema aqui?
Theo arregalou os olhos, soltando meu braço.
— Não, não… a gente só…
O homem segurou Theo pela gola, empurrando pra trás.
— Dá o fora.
Theo desapareceu em segundos, olhando pra mim com raiva, como se eu fosse a culpada. Eu tremia. Peguei um drink do balcão, engoli de uma vez. Izzy e Noah correram até mim.
— O que aconteceu?! — Izzy perguntou, segurando meu rosto.
— Nada. Só um erro antigo me lembrando por que foi enterrado — falei, tentando rir.
Mas meu corpo inteiro ainda latejava.
— Quer ir embora? — Noah perguntou.
Eu hesitei. Olhei ao redor, respirei fundo.
— Não. Hoje eu não vou deixar ninguém me controlar.
Eles me encararam, meio orgulhosos, meio preocupados. A festa continuou. Dancei até os pés doerem. Bebi até a cabeça girar. Quando decidi ir embora, já passava das 2h da manhã. Dei tchau rápido. Peguei um carro sozinha. Manhattan piscava lá fora, tão perigosa quanto linda.
Quando o carro parou no meu prédio, saí devagar. Segurei os saltos na mão, a jaqueta no ombro.
— Noite perfeita... — murmurei, subindo a calçada.
Um barulho. Um passo atrás. Antes que eu pudesse virar, um braço me puxou. Outro tapou minha boca.
— Mmmh! — tentei gritar, morder, lutar.
Um pano preto cobriu meus olhos. O cheiro forte queimou minha garganta. Meu corpo amoleceu.
— Temos a garota — ouvi uma voz fria.
Fui jogada no banco de trás de um carro. O motor ligou. A cidade sumiu. Meu coração batia como se fosse explodir.
"Matthias", pensei. Pela primeira vez, desejei ele ali.
Agora… eu ia pagar.
POV Matthias KaneO caminho de volta foi um inferno. Sophia, sentada ao meu lado, mexia no cabelo, cruzava as pernas, me olhava com aquele sorriso de quem sabe exatamente onde enfiar a faca. Cada vez que ela respirava fundo, eu ouvia. Cada vez que ela suspirava, meu sangue fervia.Ela não falava. Mas a presença dela ocupava tudo. Mais do que qualquer bomba, qualquer negociação, qualquer ameaça que eu já enfrentei. Quando o carro parou na garagem, ela saiu primeiro. Sem olhar pra trás. Andou com a cabeça erguida, salto batendo no mármore como se marchasse para a guerra. Eu segui. Cada passo, uma tortura. Ela subiu a escada devagar, puxando o zíper do vestido pela lateral de seu corpo.— O que você pensa que está fazendo? — rosnei, mas a voz saiu mais como um gemido.Ela ignorou. Jogou o vestido no chão. Usava apenas uma lingerie preta rendada. Minha visão embaçou.— Sophia. — Meu tom era uma ameaça viva.Ela virou, andando de costas, desafiando, mostrando cada maldito centímetro. O sor
POV Sophia SinclairQuando Matthias disse que íamos a um evento, eu pensei em um jantar chato. Talvez um coquetel entediante. Não um baile no rooftop mais exclusivo de Manhattan, onde cada convidado parecia ter uma lista de crimes maior do que meu histórico de paqueras.Chegamos. As luzes refletiam no meu vestido preto, colado, costas abertas. Uma obra de arte que dizia: Eu sei o poder que tenho, e não me importo em usar. Matthias saiu do carro primeiro. Olhou pra mim como se eu fosse uma granada sem pino. Estendeu a mão. Eu segurei.— Não se afaste. — A voz dele era uma sentença de morte.— E se eu quiser dançar com algum mafioso italiano gato? — perguntei, sorrindo venenosa.Ele apenas apertou minha mão. Forte. Quase machucando. Caminhamos pelo salão. Ouro, cristais, música baixa, sorrisos falsos, taças de champanhe. O submundo vestido de gala. Foi quando eu o vi. Gabe Kane. O irmão dele. Aquele sorriso de predador preguiçoso, olhar que parecia ler cada pensamento sujo que eu já tiv
POV Sophia Sinclair— Então me marca — sussurrei.O ar se rasgou entre nós. O peito dele subia e descia, como se estivesse segurando o próprio inferno nas costelas.Matthias se aproximou. Devagar. Mortal. O rosto colado no meu. O calor dele queimava cada centímetro da minha pele.Por um segundo, achei que finalmente sentiria os lábios dele. Que o mundo explodiria ali mesmo, naquela estrada, entre gritos, sangue e promessas quebradas.Mas não. Ele ergueu a mão. Grande. Firme. Colocou contra a minha boca, tapando meus lábios completamente. O olhar dele queimava dentro do meu.Então, sem me dar tempo de respirar, ele se inclinou… E beijou a própria mão. Um selinho. Rápido. Preciso. Como se fosse a minha boca ali. O gesto me congelou. Meu coração disparou. O gosto dele, mesmo através da pele, me invadiu como veneno.Mas não acabou. De repente, ele mordeu a própria mão. Forte. Feroz. O som da carne rasgando foi um trovão mudo entre nós. O sangue escorreu quente, vermelho, grotesco. Ele mant
POV Sophia SinclairArfei. Não consegui evitar. E ele soube.O salão principal da mansão era grande demais, branco demais, falso demais. Um palco disfarçado de evento diplomático, cheio de gente que sorria enquanto contava quantos cadáveres colecionava na agenda.Matthias foi chamado por um grupo de senadores de terno escuro. — Dois minutos — ele disse, segurando minha cintura como se fosse um aviso silencioso.— Vai lá, Comandante. Prometo não explodir nada em sua ausência.Ele me lançou um último olhar que gritava “não faça merda”. E sumiu.Foi quando eu o vi. Alto, bronzeado, terno marrom-chocolate, sorriso canalha, sotaque francês que rasgava calcinha só no "bonjour". Louis Delacroix. Meu caos de verão em Cannes. Beijos em iates, dedos pressionando contra portas de hotel, promessas em francês que eu nunca planejei cumprir. Eu sumi. E agora? O karma resolveu cobrar.— Mademoiselle Sinclair... Je t'ai reconnue de loin. ("Eu te reconheci de longe.")— Louis... que surpresa. — Sorri,
POV Sophia SinclairO cheiro do café chegou antes do som dos passos. Eu desci as escadas como quem entra num campo minado. A mansão estava silenciosa, impecável, como sempre. Nada fora do lugar. Nenhuma emoção visível. Tudo engomado, alinhado, sufocante.E lá estava ele.Matthias.Sentado na cabeceira da mesa da cozinha gourmet como se fosse um quadro em preto e branco de um CEO condenado por excesso de poder e charme criminoso.Camisa branca dobrada até os cotovelos. O cabelo molhado, recém-saído do banho. E a expressão… completamente neutra. Como se a madrugada de tensão no corredor tivesse sido um delírio só meu.— Bom dia – soltei, sentando na outra ponta da mesa.— Dormiu bem? – ele perguntou, sem tirar os olhos do jornal.Ah, claro. Jornal físico. Porque o Matthias Kane não lê em tela. Ele rasga o mundo em páginas impressas enquanto decide quem vive, quem morre e quem merece café.— Dormi como uma princesa… num castelo cercado por grades invisíveis.Ele folheou uma página.— Sem
POV Sophia SinclairO quarto era grande demais. Frio demais. Tudo cheirava a Matthias. Controle, ordem, prisão disfarçada de luxo. Sentei no chão, abraçando os joelhos, tentando entender em que momento perdi a guerra contra mim mesma.A venda ainda ardia na memória. As vozes, os toques, a promessa de violência. Eu podia ter morrido. E mesmo assim… eu ainda sentia ódio dele. Ódio por me sequestrar. Ódio por me salvar. Ódio por existir.Passei as mãos no rosto. Olhei no espelho. Olhos vermelhos. Pele pálida. Mas viva. Ainda Sophia. Ainda Sinclair. Ainda respirando, mesmo quando o mundo queria me engolir.Uma batida na porta.— Senhorita Sinclair. O jantar será servido em quinze minutos.— E se eu não estiver com fome?— Não foi uma sugestão. É uma ordem. Do senhor Kane.Revirei os olhos.— Diz pra ele que eu prefiro morrer de fome.— Recomendo que não teste os limites dele hoje.Ri baixo. Um riso amargo. "Se isso era tolerância, o que viria depois?", pensei. Levantei. Lavei o rosto. Peg
Último capítulo