Ana acordou com a luz do narcer do sol invadindo a janela, não o despertador do celular. Espreguiçou-se, sentindo cada músculo do corpo responder com uma energia que há muito não reconhecia. Um sorriso se formou em seus lábios. Hoje era o dia. O dia de correr na praia. Há anos, talvez uma década, ela não sentia a areia sob os pés, o vento no rosto, a liberdade de um corpo em movimento.
Sua vida, por tanto tempo, fora um emaranhado de compromissos e renúncias em nome de Pedro. Acordava antes do sol para preparar seu café da manhã, organizar sua roupa, lembrá-lo de reuniões importantes. Passava o dia conciliando o trabalho com a casa, as vontades dele sempre à frente das suas. À noite, mais jantares, mais cuidados, mais uma rotina que a engolia pouco a pouco. Mas agora, separada, essa rotina se desfez como castelo de areia na maré alta, abrindo espaço para ela.
Vestiu um short e uma camiseta velhos, calçou o tênis e saiu. A brisa da manhã na praia era um bálsamo. O cheiro de sal e mares