RUBY RADCLIFFE
O jantar prosseguiu sob um véu de conversas densas, risos milimetricamente cronometrados e pratos que chegavam como obras de arte efémeras, servidos por mãos que pareciam não existir. Cada garfada era um lembrete de que eu estava ali por ele. Por aquele homem que agora conversava com um executivo texano sobre ativos na bolsa de Seul como se discutisse o tempo.
Harry tinha esse talento: tornar o abismo em calçada, o impossível em plano de negócios, o caos em espetáculo.
E, ainda assim, os seus olhos não me esqueciam.
Entre uma garfada de codorna glaceada e uma colherada de risoto de açafrão, eu sentia-o pousar o olhar em mim, como se eu fosse um bem frágil em meio a tubarões de gravata e esposas siliconadas.
— Você está bem? — ele perguntou, inclinando-se levemente.
A voz dele chegou como vinho velho: denso, suave, inevitável. Assenti, mas ele não aceitou o gesto e então a mão deslizou para meu joelho sob a mesa e acariciou o tecido com os dedos.
— Ainda acha que exager