HARRY RADCLIFFE
As luzes da delegacia me incomodavam. Eram brancas demais, frias demais. Tudo ali exalava um desconforto latente que me lembrava a frieza de hospitais—lugares que, por princípio, causavam-me repulsa, e tudo o que mais detestava desde criança. Cruzei os braços, encostei-me na parede oposta à da sala onde Ruby terminava o depoimento e permaneci em silêncio, ignorando deliberadamente os olhares dos presentes. Não havia nada naquele ambiente que exigisse de mim simpatia.
O tempo parecia se arrastar como se cada segundo fosse medido por um relógio desajustado. Observei Ruby enquanto ela finalizava o boletim de ocorrência, a voz baixa e firme, embora os seus olhos demonstrassem o cansaço. O rosto ainda inchado a cada movimento do maxilar deixava-me com um gosto metálico na boca. Aquele desgraçado havia tocado nela. E agora, ainda respirava.
O delegado pigarreou antes de se aproximar dela, um sujeito robusto com expressão neutra, como se aquilo fosse só mais uma ocorrência de