Sombras do meu passado.
Sombras do meu passado.
Por: Kharllasantos
Destinos cruzados.

Hoje, o trabalho na lanchonete foi pesado. Athena sempre se esforça para deixar tudo organizado. Diego mencionou que o gerente escolherá um supervisor no próximo mês, o que a motiva a ficar até mais tarde, na esperança de conseguir dinheiro para um curso profissionalizante, em administração. Após Diego deixá-la responsável por fechar tudo, ela corre para pegar o último ônibus.

Ao sentar-se no ponto de ônibus, Athena percebe a rua deserta, sem uma alma ao redor. Pouco depois, avista uma figura se aproximando. Indecisa, ela hesita entre ficar ou correr, mas o medo toma conta de seu coração, e ela decide fugir. O desconhecido a persegue e, desesperada, ela busca refúgio em um parque cercado de árvores.

Tentando se esconder, ela é descoberta pelo estranho, cujo hálito carrega o odor de bebida. Athena resiste e tenta lutar, mas ele a agride com um tapa no rosto e rasga suas roupas. Mesmo implorando por piedade, o agressor não para e comete um ato terrível. Para ela, aquela é sua primeira vez, com um desconhecido, e suas lágrimas caem enquanto ela reza para que tudo termine logo.

Após um tempo, o agressor vai embora, deixando Athena sem saber o que fazer. Ela anseia por ajuda e um ombro amigo, mas a ausência de sua mãe, que faleceu quando ela tinha 16 anos, e a incerteza sobre seu pai a deixam ainda mais vulnerável e desamparada. Agora, ela enfrenta a difícil jornada de recuperação e superação, em busca de força interior para enfrentar as feridas emocionais e físicas causadas por essa terrível experiência.

Três anos depois...

Athena Gilbert, com 24 anos, ocupa a posição de supervisora na lanchonete Empire. Ela desfruta de seu trabalho e tem alguns amigos, sendo Camily sua melhor amiga, juntamente com Diego. Athena divide um modesto apartamento com Camy. No entanto, desde aquela noite traumática, nenhum homem se aproxima dela, deixando-a com a sensação de isolamento.

Apollo Devon, com 34 anos, é filho único e CEO de um império de destilaria de cachaça e whisky. Ele assumiu o comando após a aposentadoria de seu pai. Ainda atormentado pela morte de sua noiva três anos atrás, Apollo se fechou para o mundo e seu coração tornou-se gelado. Embora ele se envolva com várias mulheres nas badaladas boates da cidade, algo imperdoável que ele fez no dia do falecimento de sua noiva o atormenta todas as noites.

Átila Dukovic, com descendência russa e nascido no Brasil, é um puto convicto que não repete suas relações. Com 34 anos, ele é o melhor amigo e sócio de Apolo. Átila esteve presente quando Apollo passou pelo luto da morte de Davina, e sabe que algo imperdoável aconteceu naquele dia, mas nunca recebeu detalhes sobre o que foi.

Camy, ou Camily, tem 24 anos como Athena. Ela nutre um profundo amor por Athena, desde que a mãe desta faleceu, e as duas têm sido inseparáveis desde que se conheceram em um abrigo. Completaram 18 anos juntas e, por sorte, conseguiram empregos no mesmo lugar e decidiram dividir um apartamento. Embora Camy tenha uma paixonite por Diego, ele não parece notá-la.

Diego Divit, sobrinho do dono da Empire, tem 26 anos e trabalha lá desde os 20. Ele nutre um amor platônico por Athena e já tentou se declarar, mas ao tentar abordar o assunto, ela se tornou uma fera. A falta de coragem o impediu de expressar seus sentimentos até agora.

Assim, o destino deles se entrelaça em uma trama repleta de segredos, lutos e desejos reprimidos, enquanto lidam com suas próprias feridas emocionais e buscam a verdadeira redenção e amor.

Athena acorda suada e mais uma vez é assombrada pelo mesmo sonho recorrente, aquele fatídico dia em que perdeu sua virgindade de forma brutal. Ela tenta desesperadamente lembrar o rosto do agressor para denunciá-lo, mas as lembranças lhe escapam.

Levantando-se, toma um banho rápido, ciente de que precisa ir para o curso e depois para a Empire. Veste uma calça jeans, uma camiseta preta e calça um All Star nos pés, seguindo até a cozinha, onde sente o cheiro do café preparado por Camy—

— Bom dia, Camy! — saúda Athena.

— Bom dia, gatona. Vejo que teve pesadelos de novo. — comenta Camy.

— Sempre tenho, amiga. Realmente eu gostaria de não ter esses sonhos recorrentes. — lamenta Athena.

— Você devia procurar ajuda médica. — sugere Camy.

— Para quê, amiga? Nunca saberei quem me marcou para o resto da vida. —  responde Athena.

— Mas... — contesta Camy.

— Vamos comer, né? Preciso ir para o curso e quero acabar com a melhor nota da sala, e um dia me tornar uma técnica em administração!! — anima-se Athena.

Após a breve conversa, Athena pega sua bolsa sai e anda distraída. Sem prestar atenção ao semáforo, atravessa a rua e é atingida por uma leve pancada na perna direita, fazendo-a cair no chão.

— Ai!!! — reclamou Athena.

— Droga, Átila, você bateu na garota. — repreende Apollo.

Athena tenta se levantar e, olhando à frente, vê os dois homens em ternos caros se aproximarem dela. Um deles pega em seu braço e, para sua surpresa, ela sente uma sensação estranha com o toque, algo que nunca havia experimentado antes:

— Me perdoe, meu sócio estava meio deslocado hoje e te machucou, vem vamos ao um hospital. — falou Apollo se desculpando.

— Nãooooo! — esbravejou Athena assustada.

— Calma, precisamos ver se não quebrou nada. — sugeriu Apollo.

— Não quebrou nada, preciso ir. Vou me atrasar para o curso. — indagou ela.

— Tá bom, calma. Então deixa a gente te levar. — pediu Apollo.

— Não vou entrar no seu carro!!! — esbravejou Athena.

— Por que? Não farei nada com você, prometo. — explicou Apollo.

— Mas... — tentou contestar Athena.

— Confie. — pediu ele.

— Não confio em homem nenhum. — exclamou Athena.

Depois de muita insistência, Athena acabou aceitando. Minutos depois, chegaram ao curso. Ao desembarcar, ela agradeceu e saiu rapidamente, sentindo-se sufocada dentro daquele carro.

Apollo observou por um momento enquanto ela entrava, e lembrou-se daquela noite. Saiu dos pensamentos, com Átila ligando o carro novamente e seguiram para o trabalho. Chegando na empresa, Apollo enfrentou várias reuniões e o dia passou rapidamente. Já era fim de tarde e ele estava com muita fome, mal havia comido durante o dia.

Decidiu permitir-se comer besteiras naquele dia e foi a uma lanchonete em frente à empresa. Ao entrar, ficou impressionado com a decoração retrô dos anos 70, remetendo ao auge das discotecas. Os funcionários vestiam-se como roqueiros daquela época. Sentou-se em um sofá de canto e olhou o cardápio. Uma morena o atendeu, enquanto ele fazia o pedido, avistou uma lourinha com ar de anjo, a mesma que Átila havia atropelado. Ela parecia estar atrasada, mas voltou depois de um tempo trajando um vestido bufante amarelo, lembrando Sandy do filme Grease.

Curioso, Apolo perguntou à atendente:

— Quem é ela? — perguntou Apollo.

— Desculpe, senhor, o que? — perguntou Camy.

— Quem é a loira? — perguntou novamente ele.

— Ah, é nossa doce e brava Athena, nossa supervisora. Deseja mais alguma coisa? indagou Camy.

— Não, isso já é suficiente. — agradeceu Apollo.

A Camy levou o pedido para a cozinha e, em seguida, dirigiu-se ao caixa, dizendo algo que fez a Athena olhar na direção do Apolo. Por um momento, trocaram olhares até que o celular delr vibrou, interrompendo a conexão imaginária entre eles. Era Átila, mandando mensagem para saber onde ele estava. Minutos depois, o amigo entrou na lanchonete e se aproximou de Apollo:

— Cara, o que te fez vir para essa lanchonete? Você não gosta de comer besteiras, sempre se alimenta de forma saudável. — perguntou Átila curioso.

— Para ser sincero, nem eu sei por que vim. Mas me deu vontade de comer besteiras e, ao entrar aqui, fiquei impressionado com a decoração. Me senti dentro dos musicais antigos. — explicou Apollo

— Tudo bem então, vou pedir algo também para comer, já que estou aqui. Hoje vamos nos divertir com uma das noites animadas como sempre? — sugeriu Átila.

— Hoje não, Átila. Estou muito cansado para ter paciência com suas conquistas. Só quero chegar em casa, tomar um banho e dormir a noite toda, se eu conseguir, pois depois daquela noite, não sei o que é dormir bem. — esclareceu Apollo

— Será que algum dia você irá me contar o que fez naquele dia? Olho o quanto isso te afeta, alguém precisa ajudá-lo a aliviar o peso em suas costas. — falou ele.

— Nunca irá diminuir, enquanto eu lembrar da merda que fiz e do estrago que causei na vida de outra pessoa, esse peso e essa dor não passarão nunca! — lamentou Apollo.

Minutos depois, Camy chegou à mesa com o pedido dele, e Átila olhou para ela com desejo, como de costume, e pediu o mesmo que o Apollo pediu.

Após terminarem o lanche, Athena se aproximou:

— Boa noite, senhores. Estou aqui para saber se vocês querem mais algo ou a conta, e também perguntar sobre o atendimento da nossa funcionária. — perguntou Athena.

— Foi você, não foi, a que o Átila atropelou pela manhã? Foi você sim. — indagou Apollo.

— Sim, senhor, fui eu. Mas, como o senhor percebeu, eu precisava ir para o curso. Não posso perder minha pontuação excelente. E voltando ao assunto que eu perguntei, querem mais algo? — perguntou ela indiferente.

— Não, não queremos mais nada. A conta, por favor. Além disso, junto com a conta, aqui tem uma gorjeta para ela. Quero dizer que o atendimento foi bem atencioso, e também adorei a decoração, muito original. — falou Apollo maravilhado.

— Obrigada, senhor. No início, muitas pessoas estranharam, porque é uma decoração diferente. Mas, dois anos depois, todos amam vir para cá por causa dessa decoração. Então, já que vocês gostaram, apareçam novamente. Ah, e outra coisa, obrigada pela carona mais cedo. — agradeceu ela.

— Voltarei sim, pode ter certeza de que eu voltarei. A carona não tem problema, foi o mínimo que poderíamos fazer depois desse tonto aí te atropelar! — brincou Apollo.

— Ei, Apolo, não fala assim. Mas, senhorita, você pode dizer o seu nome e o da atendente que nos atendeu? É muito estranho a gente conversar com uma pessoa sem saber o nome! — pediu Átila.

— Eu sou Atena e a atendente de vocês é a Camily, mas todos aqui chamam ela de Camy. — respondeu Athena.

Após se despedirem da Athena, saíram de lá. No caminho para casa, Apollo não parava de pensar nela. Ela lhe lembrava alguém, mas ele não sabia exatamente quem.

Chegando em casa, tudo estava silencioso, com as únicas vozes sendo dos funcionários. Apollo morava sozinho com eles, depois que seus pais resolveram fazer uma segunda lua de mel. Ele comprou a casa para viver sozinho, mas às vezes seus pais o visitavam. No entanto, ele preferia que eles fossem embora logo, pois não gostava de ouvir que precisava arranjar uma mulher para dividir sua vida. Para Apollo, a forma como as coisas estavam, estava bom. Mesmo assim, ele admitia que se seus pais ficassem mais tempo, talvez fosse bom também. Ele era indeciso quando se tratava de seus pais. Subiu para o quarto, tirou o terno e foi para o banheiro tomar um banho rápido. Depois, deitou-se na cama e, em alguns minutos, conseguiu pegar no sono, mas novamente sonhou com aquele dia. Sonhou com ela e seu cheiro de canela. Desejava um dia encontrá-la e pedir perdão pela merda que havia feito naquele dia. Embora acreditasse ser difícil encontrá-la novamente, preferia manter a esperança de que um dia a acharia e poderia se desculpar. Talvez assim conseguisse dormir uma noite inteira sem ter pesadelos com os gritos dela.

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