A dor latejava em cada osso, mas era o vazio no peito que doía mais. Ricardo Trajano abriu os olhos com dificuldade, as pálpebras pesadas como concreto. O teto de madeira rústica, com vigas tortas e manchas de fumaça, não pertencia ao seu apartamento luxuoso nem a nenhuma das coberturas que já havia ocupado. A luz do sol entrava por frestas nas tábuas, dourando a poeira no ar. Ele piscou algumas vezes, tentando compreender onde estava.
Tentou se mover, mas uma pontada aguda atravessou seu abdômen como uma lâmina. Gritou de dor, e nesse instante, uma senhora idosa surgiu no quarto, com um lenço cobrindo os cabelos grisalhos e um olhar sereno, porém firme.
— Calma, moço. Ainda não está na hora de levantar voo de novo — disse a mulher com uma voz rouca e maternal, pressionando de leve o ombro dele para que ficasse deitado.
Ricardo olhou ao redor, desnorteado. A cama onde estava era feita de madeira maciça, coberta por um cobertor de lã surrado. Ao lado, uma cômoda com frascos de remédio