Voltei do almoço em silêncio, os passos lentos no corredor parecendo ecoar mais do que o normal.
Cada vez que passava por alguém do escritório, sentia os olhares atravessados, as perguntas não ditas, as suposições murmuradas em chats privados e trocas de olhares. Eu não era mais a líder do planejamento. E isso, naquele ambiente, era sinônimo de fragilidade.
Dei bom dia para a recepcionista como se fosse uma extensão da manhã, e voltei à minha mesa com o mesmo gesto automático de ligar o monitor, ajeitar a cadeira, suspirar.
Mas dentro de mim, nada era automático.
Era como se cada célula do meu corpo gritasse contra a injustiça silenciosa daquele dia. A raiva, que antes parecia contida, começava a encontrar rachaduras por onde escapar.
Paula me olhou de relance.
— E aí? Você tá bem?
Assenti. Foi um movimento pequeno, falso, mas o melhor que consegui oferecer naquele momento.
— Caio te animou? — ela perguntou com um meio sorriso.
— Tentou. — Suspirei. — Me deu um daqueles discursos insp