Sophie Williams Chegou o momento!Estamos no centro do salão, após Irina anunciar que é hora de formalizar o pedido. Ensaiar meu discurso de felicidade foi uma exigência da minha mãe, e passei toda a semana me preparando para isso.Contudo, ao olhar para todas essas pessoas que me observam como se eu fosse uma figura incomum, sinto-me sem palavras. Mikhail acaricia minha mão, e, à primeira vista, isso parece um gesto de carinho. Mas, na realidade, é uma ordem silenciosa para que eu me recomponha e mantenha a compostura que minha posição exige.Fixando meu olhar nas íris avelãs que me observam com desdém, faço um esforço para esboçar um sorriso breve, sinalizando que estou pronta — embora saiba que ele, de fato, não se importe.— Boa noite a todos. Gostaríamos de agradecer imensamente a presença de cada um de vocês neste momento tão significativo para nós. — Mikhail diz, fingindo uma felicidade que, se eu não soubesse da verdade, faria com que eu acreditasse. — Esta noite é especial,
Mikhail VolkovA raiva cresce em mim a cada risada e sorriso trocado entre Andrei e Sophie. Eu vejo claramente o que está acontecendo. Eles estão ali, no centro do salão, dançando como se fossem velhos amigos, trocando murmúrios e sorrisos cúmplices. Isso me tira do sério. Não posso deixar passar em branco.Ouço a voz do meu pai, interrompendo meus pensamentos.— Quer que eu pegue um guardanapo? — Ele pergunta com aquele sorriso de quem sabe exatamente o que está acontecendo. — Você está quase babando de raiva só porque seu irmão está dançando com Sophie.Respiro fundo, tentando controlar a raiva que só cresce.— Ele está brincando com a sorte, pai. Minha paciência não é grande coisa, e ele sabe disso. Mas resolveu testar, claro — resmungo, e meu pai me encara, rindo de forma quase zombeteira.É impossível não me sentir um idiota nessa situação. Meu irmão, lá, dançando e rindo com a minha noiva, e meu pai rindo da minha cara. A sensação de isolamento só aumenta, a irritação crescendo.
Sophie WilliamsMais um degrau.Mais um gemido sufocado.Mais um minuto em que meus olhos ardem, minha pele queima e o couro cabeludo pulsa de dor onde Victoria puxou meu cabelo sem piedade. Nunca está satisfeita. Nunca.Hoje, a razão foi Andrei. Segundo ela, eu o seduzi com sorrisos e gestos. James concordou, como sempre. Deixou que ela descontasse a raiva em mim. E eu, ingênua, achei que não seria tão ruim quanto quando é ele quem o faz. Engano meu.O primeiro tapa veio tão forte que senti o gosto de sangue. Depois fui jogada ao chão, e os chutes começaram. Costelas. Pernas. Braços.Tudo em mim dói.Mas é claro que ela só fez isso porque meu querido noivo não estará aqui pelas próximas duas semanas. Tempo suficiente para eu me recuperar.— Não se esqueça, filhinha — a voz de Victoria ecoa do meio da sala, carregada de desdém e satisfação. Ela está recostada em uma poltrona de veludo, cruzando as pernas com elegância, a taça de vinho equilibrada entre os dedos. Seus olhos azuis, frio
Uma semana se passou desde o noivado, e os hematomas começaram a desaparecer. As marcas roxas estavam quase invisíveis, e as mais teimosas eu escondi com maquiagem – nunca se sabe quando alguém pode aparecer. Aliás, Irina veio me visitar esta manhã. Tomamos café juntas e, pela primeira vez em dias, consegui comer de verdade. Até rir.Ela me contou que Elena precisou voltar para a Rússia com Alek, a pedido de Mikhail. “Não é seguro que o filho de um magnata bilionário e mafioso fique longe de casa por tanto tempo.” Palavras dela.Quando vi minha sogra, algo dentro de mim se remexeu de um jeito estranho. Foi ali, naquele instante, que percebi o quanto a sua presença me fazia falta. Como foi possível, em tão pouco tempo, ela despertar em mim uma felicidade que eu nunca soube existir em 23 anos?Minha idade acabou entrando na conversa, e descobri que Mikhail tem 33 anos. Dez a mais que eu. Por um momento, achei que isso me incomodaria, mas não. Ele não me parece velho – nem em idade, nem
Mikhail Volkov O jatinho pousou no hangar poucos minutos depois que chegamos. E então, lá estava ela.O vestido preto abraçava cada uma de suas curvas, o tecido deslizando sobre o corpo com um caimento impecável. O cabelo loiro caía em ondas suaves sobre os ombros, e o sobretudo aberto quebrava a monotonia da cor escura. Mas foi o batom vermelho que me prendeu por mais tempo—um detalhe pequeno, mas que só fazia acentuar ainda mais a tentação que ela era.Meus óculos escuros escondiam a atenção crua que eu lhe dedicava. Cada passo que ela dava em minha direção era um espetáculo por si só, os saltos ecoando contra o chão como um compasso ritmado, o único som que realmente importava para mim naquele instante.A conversa com os pais dela foi breve, mas um pequeno detalhe roubou minha atenção: a loira revirou os olhos no instante em que a mãe me chamou de "querido". Um sorriso sarcástico surgiu em meus lábios antes que eu percebesse algo ainda melhor. Algo que reacendeu um desejo enterrad
Os carros atravessam os portões da propriedade, e logo vejo minha mãe, meu pai e Elena nos esperando. O sorriso de Irina é largo, enquanto Roman mantém a expressão séria de sempre. Elena, por outro lado, praticamente salta no lugar ao nos ver.Desço do carro e caminho até o outro lado, abrindo a porta para minha noiva. Estendo a mão para ajudá-la a sair, e ela hesita por um segundo antes de aceitar. Seus dedos estão frios contra minha pele quente. Assim que se põe de pé, ajeita o sobretudo sobre os ombros com um gesto gracioso.Porra de mulher bonita. E o perfume dela... simplesmente perfeito.— Seja bem-vinda à sua nova casa, querida — minha mãe diz, envolvendo Sophie em um abraço caloroso.Sophie sorri e agradece educadamente.— Estava com saudade, Sof! — Elena se aproxima animada, abraçando a loira com familiaridade.— Eu também senti sua falta, Lena — a voz de Sophie soa baixa, mas sincera.Meu pai apenas assente com a cabeça em um cumprimento discreto.— Sophie estava muito ansio
Sophie Williams Após minha breve conversa com meu cunhado, Mikhail me conduz até o quarto onde ficarei até o casamento. O ambiente é deslumbrante, decorado com requinte e imponência. Mas nada disso é tão impactante quanto a presença do homem ao meu lado.— Espero que fique confortável — ele diz, a voz baixa, fria e controlada. — Você ficará aqui até o dia do casamento. Depois, dormirá no meu quarto.Seu tom não é um convite. É uma sentença. Uma ordem disfarçada de informação.— Tudo bem, então. Obrigada, Mikhail.Ele estreita os olhos, surpreso. Como se um "obrigada" vinda de mim fosse inesperada. Ou talvez esteja apenas me analisando, buscando decifrar algo que nem eu mesma sei se quero revelar.O silêncio entre nós pesa. Por um instante, Mikhail parece prestes a dizer algo, mas se contém. Sua hesitação dura um segundo antes de dar um passo para trás.— O almoço será servido em breve — avisa.E então ele se vai, deixando para trás seu perfume amadeirado e a sensação esmagadora de su
Mikhail Volkov Ouvi toda a conversa entre Sophie e minha mãe e, no instante em que escutei minha própria mãe dizendo que queria Sophie como mãe de Alek, fui tomado pelo ódio. Ninguém nunca, jamais, será capaz de substituir Ekaterina. Ela foi e sempre será a única mulher que merece meu amor. Meu coração.Fecho os olhos por um instante, e as lembranças me atingem como um soco. O jeito que ela sorria para mim. O som da sua risada suave. A forma como seus dedos sempre encontravam os meus, mesmo nos momentos mais sombrios. Eu nunca quis amar ninguém. Nunca quis me apegar. Mas Ekaterina atravessou todas as minhas barreiras e, quando percebi, ela já fazia parte de mim.E então, ela se foi.Deixando um vazio que nada poderia preencher.Balanço a cabeça, afastando as lembranças antes que me engulam por completo. Respiro fundo e me afasto da porta do quarto de Sophie, seguindo para o de Alek.Entro no quarto e encontro meu filho sentado no chão, rodeado de bonecos de super-heróis.— Papai! —