DavidA noite está tão silenciosa que até o som da minha própria respiração parece ecoar pela mansão. Mas dentro de mim, um turbilhão ruge. O medo, algo que eu sempre considerei um conceito alheio, agora é um visitante constante em minha mente. E ele tem nome: Lizandra, principalmente depois que me senti tão vulnerável hoje, imaginando que ela poderia ter caído em mãos erradas.Sentados à mesa de jantar, a família está reunida. Lizandra ao meu lado, sua mão delicada repousa sobre a minha, como se fosse um lembrete silencioso de que estamos juntos em tudo. Ela está radiante, a gravidez parece ter intensificado ainda mais sua beleza, sua pele brilha, e seu sorriso ilumina o ambiente. As gêmeas, Alice e Alicia, estão energia pura. Correm pela sala após a sobremesa, rindo e gritando, empolgadas com a chegada das sobrinhas.— Elas nem nasceram e já têm duas tias completamente malucas por elas — Lizandra comenta, acariciando a barriga arredondada.Sorrio, mas meu coração pesa. Faço questão
DarlanA lâmina da faca gira entre os meus dedos, o metal frio refletindo a luz fraca do meu escritório. O clique suave do canivete se abrindo e fechando ecoa pelo ambiente silencioso, um som que acalma a tempestade dentro de mim. Há algo quase poético nesse gesto repetitivo, abrir, fechar, girar. Assim como minha vida. Simples na superfície, mas repleta de segredos e intenções ocultas.Sou Darlan Lambertini, o segundo filho do Don. E agradeço a Deus por isso.Se eu tivesse nascido primeiro, seria eu o Don. O homem à frente de tudo, a face pública do império Lambertini. Teria que lidar com as negociações, com a política suja e os sorrisos falsos. Teria que me dobrar perante aliados e inimigos, fingir diplomacia enquanto meus instintos berram por sangue. Mas o destino me deu um presente: nasci depois.David carrega a coroa. Eu carrego a lâmina.E é assim que eu gosto.Operar nas sombras, ser o homem que ninguém vê chegando. O fantasma que puxa o gatilho, a sombra que corta a garganta a
DerickO vôo de volta para Buenos Aires é um inferno.Cada minuto parece uma tortura, cada segundo um lembrete cruel de que Nara está longe e alguém está manipulando cada passo dela, cada passo meu. O nome "Hello Kitty" pulsa na minha cabeça como uma sirene irritante. Quem diabos assina uma provocação assim? Um hacker qualquer? Ou alguém que sabe exatamente como me deixar à beira do abismo?O meu punho cerrado bate contra o braço da poltrona. O comissário me olha de relance, mas não diz nada. Melhor assim. Se abrir a boca, vai sair sobrando.Assim que pouso em Buenos Aires, não perco tempo. O cheiro familiar da cidade me envolve, mas nada me acalma. Entro direto no carro que me espera no aeroporto, o motorista nem ousa perguntar nada, o meu rosto já responde por mim.— Leva para a base. — Minha voz é fria, cortante.O caminho é um borrão. A mente gira em torno da mensagem."Cuidado, papai. Nem tudo que reluz é ouro. Beijinhos, Hello Kitty."— Maldito… — sussurro, os dentes cerrados.
DavidO trabalho nunca para. Nem por um segundo. Enquanto o mundo lá fora segue girando, aqui dentro da presidência do Grupo Lambertini, eu e Darlan estamos submersos em relatórios, números e balanços que definem o império construido pela nossa família. Nada passa despercebido. Nenhuma falha, nenhum erro. Mas, para minha surpresa, ao analisar os dados do departamento de operações, algo chama nossa atenção. Pela primeira vez em muito tempo, aquela área parou de ser um problema. Nenhuma falha, nenhuma inconsistência, nada de perdas desnecessárias. Pelo contrário: os lucros estão muito acima das nossas projeções.— Isso está certo? — Darlan franze a testa, relendo os números.Eu também confiro mais uma vez, mas os dados são irrefutáveis.— Desde que Silvia assumiu, essa merda parou de dar dor de cabeça — murmuro, cruzando os braços. — Pelo visto, ela sabe o que está fazendo.Darlan solta um riso curto.— Não só sabe. Ela revolucionou essa porrah.Começamos a destrinchar cada detalhe, cad
Daniel Sem pensar, ligo para ela.— Daniel?— Preciso te ver. Agora.Não é um pedido. Nunca é.Meia hora depois, estou encostado no carro em frente à casa dela. Quando Raissa aparece, usando um vestido simples, mas o jeito que ele gruda nas curvas dela me faz querer rasgá-lo ali mesmo.— Pra onde vamos? — ela pergunta, deslizando para dentro do carro.— Um lugar onde a gente não precisa se preocupar com quem está olhando.O motor ronca enquanto eu dirijo até uma propriedade afastada da minha família, a casa de sempre… bem, para momentos como esse. Assim que entro na casa, a porta mal fecha atrás de nós antes que eu a imprese contra a parede.— Eu esperei o dia inteiro por isso. — sussurro, minha boca roçando o pescoço dela.Nossos corpos se encontram num frenesi de desejo, roupas sendo arrancadas com pressa. Não há nada suave nisso. É bruto, intenso, é sobre fogo e pele.Eu a viro de costas, fazendo com que ela apoie as mãos na parede, e me afundo nela com um único empurrão.— Porr
DerickEu olho para a tela do celular, os dedos cerrados ao redor do aparelho como se pudesse esmagá-lo. O maldito ícone de um gato rosa piscando de novo, Hello Kitty. O mesmo hacker desgraçado que parece estar sempre um passo à frente, jogando pistas, debochando da minha busca por Nara. E agora, não só me ridiculariza, como também me dilacera por dentro.A mensagem mais recente ainda brilha diante dos meus olhos, cada palavra um soco direto no meu orgulho já ferido:"Parabéns, papai! Embrião de 6 semanas. Beijinhos de luz! 💋😽"Acompanhada da ultrassonografia. O nome dela no canto da tela. Nara Silt. E lá, a confirmação que eu nem sabia que precisava, 6 semanas. O nosso filho. Um filho que ela carrega enquanto alguém brinca comigo, zombando da minha dor.— Filha da pu... — minha voz sai um rosnado gutural, e o copo de vidro que estava na mesa voa contra a parede, explodindo em mil pedaços.Minha mente é uma tempestade. Nara está grávida. E alguém está me vigiando, jogando pistas na
Daniel Eu nunca fui um homem indeciso. Sempre soube o que queria, sempre trilhei meus caminhos com firmeza, mas hoje, enquanto encaro os rostos sérios da minha família, sinto uma estranha sensação de peso no peito. Não é medo. É a certeza de que depois dessa conversa, nada será como antes.— Preciso falar com vocês — digo, a voz firme, mas o olhar oscilando entre minha mãe, Julia, meu pai, Luan, e meus tios, Allan e Dorothy. Estamos na sala de jantar da família Malta, um lugar que sempre me trouxe paz, mas hoje parece pequeno demais para conter tudo o que estou prestes a dizer.Eles me olham em silêncio. Sei que estão imaginando o pior, afinal, sou Daniel Malta. Sempre fui impulsivo, mas hoje estou calmo. Calmo demais.— Vou aceitar o convite — continuo, percebendo a tensão crescer no ambiente — vou integrar a máfia argentina.Um segundo de silêncio absoluto.— O quê? — A voz da minha mãe ecoa primeiro, cheia de choque e preocupação. — Daniel, isso não é uma brincadeira!— Eu sei, m
Don VittorioHá um momento na vida de todo homem poderoso em que ele percebe que o poder, por mais absoluto que pareça, é efêmero. Hoje, enquanto observo a luz suave da manhã atravessar as cortinas pesadas do meu escritório, sei que esse momento chegou para mim. O anel em meu dedo é o símbolo máximo da liderança da máfia, hoje parece mais pesado do que nunca. Não por causa do ouro, mas pelo legado que carrega.David. Meu primogênito. Meu herdeiro.Chamo-o ao meu escritório. A porta se abre de forma contida, e ele entra com aquele porte que sempre teve, misto de confiança e cautela. Não é um homem qualquer. É um Lambertini. E não apenas isso, é o homem que governará no meu lugar.— Pai? — A voz de David é firme, mas há algo nos olhos dele. Uma interrogação silenciosa.Levanto-me lentamente, sentindo cada momento do meu reinado pesar sobre meus ombros. Atravesso a sala, pegando uma garrafa de uísque, mas não bebo. Apenas encaro o líquido âmbar, como se buscasse respostas ali.— Chegou a