A casa estava em silêncio, mas não aquele silêncio confortável de uma madrugada calma. Era o tipo de silêncio que precede uma tempestade. O tipo de silêncio onde você ouve até seus próprios pensamentos, e todos eles doem.
Desci as escadas descalça, os pés frios sobre o mármore. O sol ainda não havia nascido completamente, e o céu lá fora era um tom cinza-azulado, como meus sentimentos.
Enzo. Onde você se enfiou?
Ele sempre foi assim. Silencioso nas saídas, discreto nas dores. Mas eu sentia sua ausência como um grito.
Quando cheguei ao andar de baixo, a primeira luz que vi acesa foi da cozinha. Abri a porta e dei de cara com **Marco**, de camiseta preta, sentado à mesa com uma caneca de café fumegante. Ele nem se surpreendeu ao me ver. Só levantou os olhos e me analisou em silêncio.
— Você também não dormiu — comentei, tentando parecer casual.
— Ninguém dormiu, Sara.
Me aproximei e me sentei à frente dele. A xícara entre suas mãos tremia sutilmente. Era raiva? Cansaço? Ou lealdad