O hospital parecia o mesmo de sempre — frio, iluminado por fluorescentes e tomado por um leve cheiro de antisséptico — mas eu não era mais a mesma. Voltar à rotina médica deveria ser como voltar para casa. E, em parte, era. Mas agora, entre exames, suturas e prontuários, havia uma sombra diferente pairando sobre mim. E essa sombra tinha olhos cinzentos e um jeito silencioso de estar por perto.
Enzo.
Ele não saía do meu campo de visão. Estava sempre por ali, observando, fingindo ser só mais um visitante ou um técnico de segurança. Mas eu o via. Sentia sua presença como um segundo batimento do meu próprio coração.
Minha manhã foi cheia. Quatro pacientes, dois casos clínicos complicados, uma idosa em parada que conseguimos reverter. A adrenalina da medicina me dava foco, mas mesmo no auge da concentração, eu sabia que Enzo estava no corredor. E essa consciência era ao mesmo tempo conforto e confusão.
Por volta do meio-dia, entrei na copa para residentes. Peguei um café e me encostei na p