Sob a proteção dos Mafiosos
Sob a proteção dos Mafiosos
Por: CERCIE
Prólogo - Parte 1

A chuva caía como se quisesse lavar o mundo inteiro. As gotas batiam contra meu casaco encharcado, e cada passo pela calçada vazia ecoava como um sussurro incômodo no meu ouvido. Eram 23h37 quando girei a chave na porta de casa. Exausta, com o corpo pedindo socorro depois de mais de dezoito horas no hospital, tudo que eu queria era uma ducha quente e silêncio.

Mas o que encontrei foi o oposto.

Fechei a porta atrás de mim e deixei as chaves caírem na mesinha do corredor. Minha mochila escorregou do ombro. Ia direto para o chuveiro, mas então vi­, um rastro escuro no chão. Gotas vermelhas. Não, não gotas. Marcas de Sague.

Meu coração deu um salto seco. Travei. A luz fraca da luminária da sala desenhava sombras no chão de madeira, e o silêncio da casa parecia mais pesado do que nunca. Eu deveria ter corrido. Deveria ter ligado para polícia. Mas minha mente treinada em emergência agiu antes de qualquer medo.

Meus olhos seguiram o rastro. As marcas iam do parapeito da janela até o centro da sala, como se alguém tivesse rastejado. A janela… estava aberta. Eu tinha esquecido a maldita janela aberta novamente.

O frio percorreu minha espinha.

E então eu o vi.

Caído no chão, com o corpo parcialmente apoiado contra o sofá, estava um homem. O sangue manchava sua camisa preta, e o tecido encharcado revelava dois ferimentos no abdômen. Tiros. Tiros bem colocados. Levei dois segundos para processar isso. O terceiro foi para notar os olhos dele.

Cinza metálico. Gélidos. Quase não-humanos. Eles se prenderam aos meus como se me conhecessem. Ou como se soubessem exatamente quem eu era.

— Fecha… a porta. — a voz dele saiu arranhada, mas ainda assim firme.

Travei onde estava. Meu cérebro gritava que aquilo era loucura. Que eu precisava correr. Mas algo nos olhos dele… não sei explicar. Era dor, sim. Mas também um orgulho inquebrável. Uma ameaça silenciosa.

— Você está ferido. Precisa de ajuda. — Minha voz saiu mais firme do que eu imaginava. Instintivamente, abaixei para analisar os ferimentos. Sangramento moderado, mas contínuo. Pressão provavelmente em queda. Um dos tiros podia ter atingido um órgão vital.

Ele me segurou pelo pulso antes que eu tocasse nele. A mão era forte, mesmo com a perda de sangue. Senti o calor do contato e, ao mesmo tempo, um arrepio me subiu pela pele.

— Só me escuta, doutora. Fecha a maldita porta. Agora.

Me levantei e fechei. Tranquei. Coloquei a corrente. A adrenalina queimava sob minha pele como uma segunda febre.

Voltei para ele e só então percebi quem era. Eu já tinha visto aquele rosto. Em jornais. Em manchetes. Em sussurros nos becos. Luca Moretti. O nome que até a máfia sussurrava com medo. O homem que eu nunca imaginei que pisaria na minha realidade.

E agora ele estava ali, sangrando na minha sala, encarando-me como se eu fosse a única coisa entre ele e a morte.

— Você é Sara Vasquez, certo? — ele murmurou, os olhos fixos nos meus.

Senti minha respiração travar. Como ele sabia meu nome?

— Como você…?

— Tive que ter certeza antes de entrar. — Ele tentou sorrir, mas o esforço o fez gemer. O sangue escorreu mais rápido pelo canto da camisa.

Fui até a cozinha e voltei com um kit de primeiros socorros. Ele podia ser o próprio demônio, mas eu era médica. Ou quase. E isso falava mais alto do que o medo.

— Vou ter que tirar sua camisa. — falei, me ajoelhando ao lado dele. Suas mãos, agora trêmulas, tentaram ajudar, mas eu já estava focada. O calor da pele dele era estranho, diferente.

— Diga-me o que fazer. — ele disse, com uma voz rouca e baixa. — Só não me deixe morrer aqui.

Levantei os olhos para os dele. Havia algo ali… um vazio antigo, uma guerra interna.

— Não vou deixar. — respondi. Nem sei por que disse aquilo com tanta convicção.

Talvez porque, naquele instante, eu soubesse que minha vida jamais voltaria a ser a mesma.

O sangue dele manchava meus lençóis limpos. A compressa improvisada já estava encharcada, e eu pressionava o ferimento como se minha força pudesse impedir a morte de atravessar a porta. Luca Moretti. O nome ainda ecoava na minha mente como um tambor de guerra.

— Você perdeu muito sangue. Se eu não suturar logo, não vai aguentar.

Ele assentiu, os olhos fixos nos meus com uma intensidade que parecia atravessar minha pele.

— Então faça.

Nunca pensei que ouviria essas palavras vindas do homem mais temido da máfia italiana, deitado no chão da minha sala. Mas ali estava ele, rendido… a mim.

Preparei o que tinha: linha cirúrgica, agulha, antisséptico, tudo do kit de emergência que mantinha por instinto. Sempre achei exagero da minha mãe. Agora, agradecia silenciosamente por sua paranoia.

— Isso vai doer. — avisei, mesmo sabendo que ele já devia estar acostumado com a dor.

— Já estou sentindo coisas piores. — murmurou, a mandíbula contraída.

Costurei o ferimento com o máximo de precisão que a tensão permitia. A cada ponto que dava, sentia o peso do que estava fazendo. O peso do nome dele. O peso das perguntas sem resposta.

Quando terminei, respirei fundo e me afastei um pouco, observando se ele apresentava sinais de choque. Mas ele parecia estável, por enquanto.

— Por que veio até mim? — perguntei. — Como sabe meu nome?

Ele se endireitou com esforço, apoiando as costas no sofá, o peito nu coberto de manchas secas de sangue. Os olhos cinzentos me fitaram como se medissem minha alma.

— Porque o mundo que você acha que conhece está prestes a desmoronar, Sara.

— Isso não responde nada.

Luca passou a mão pelo rosto, como se aquilo o ajudasse a manter o controle. Havia algo nele além da brutalidade. Uma dor crua, contida. E quando falou de novo, sua voz soou mais baixa, quase amarga.

— O nome do seu pai era Alejandro Vasquez, certo?

Meu coração disparou. Engoli seco.

— Sim…, Mas ele morreu há anos. Num acidente. — respondi, quase automaticamente, como se repetir a história oficial tornasse tudo mais fácil de suportar.

Luca balançou a cabeça devagar, com um meio sorriso torto.

— Não foi um acidente.

As palavras caíram como lâminas sobre mim.

— Como assim?

— Seu pai trabalhou com o meu. Eles eram praticamente irmãos. Mas seu pai… ele tentou sair. Quis proteger você e sua mãe. E por isso, foi silenciado.

Senti meu estômago virar.

— Está dizendo que meu pai… era um criminoso?

— Estou dizendo que ele era um homem bom no lugar errado. Como você.

Afastei-me, tentando processar, mas era como se o chão tivesse sumido sob meus pés. Minha mente gritava para não acreditar. Mas algo dentro de mim… sabia.

— Por que está me contando isso agora?

Luca então virou o rosto para a janela, os olhos ficando sombrios.

— Porque os mesmos homens que mataram seu pai… hoje, tentaram me matar. E agora que sabem que você existe… vão vir atrás de você também.

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