A escuridão da floresta era densa e opressiva, com o luar mal penetrando através das copas das árvores centenárias. Serena cambaleava entre as raízes retorcidas e arbustos espinhosos, cada passo uma luta contra a exaustão que pesava em seus membros. Seus pulsos ainda ardiam das amarras que os haviam prendido durante o ritual interrompido, e sua mente estava enevoada pela dor e pelo medo. Vincent a puxava pelo braço, seu aperto firme, mas impaciente, enquanto a guiava por um labirinto de vegetação densa.— Precisamos continuar — Sussurrou Vincent, seus olhos constantemente vasculhando a escuridão ao redor. — Lucian não desistirá tão facilmente.Serena não respondeu. Sua respiração era irregular, e cada inspiração parecia um esforço monumental. Ela sabia que não podia confiar em Vincent, mas, naquele momento, ele era sua única chance de sobrevivência. O ritual que ele tentara realizar a deixara debilitada, sua conexão com sua própria essência lupina enfraquecida e instável.Eles avanç
A escuridão era densa. Mais do que a ausência de luz, era uma sombra viva, pulsante, como se tivesse vontade própria. Serena caminhava descalça pela floresta silenciosa, mas cada passo afundava em algo frio e úmido. Quando olhou para baixo, o chão estava encharcado de sangue.No centro da clareira, o lobo negro. Dominic.Ou o que um dia foi Dominic.Seus olhos prateados estavam embaçados, como vidro rachado. Sua pelagem, antes imponente e reluzente, jazia suja, tingida de sangue seco e lama. Correntes negras envolviam suas patas, garras e focinho. Ele a fitava, mas não havia reconhecimento. Apenas dor.— Dominic? — Serena chamou, a voz vacilante.O lobo se contorceu, tentando se soltar, mas as correntes se apertaram ainda mais, rangendo como metal vivo. Uma sombra serpenteava entre os galhos acima, sussurrando em vozes que não eram humanas. "Traidora. Fraca. Quebrada."Serena correu até ele, mas cada passo a fazia afundar mais no chão encharcado. Quando finalmente se aproximou, estend
A lua cheia se erguia alta no céu, banhando as montanhas com sua luz prateada, enquanto Serena permanecia sentada no centro do antigo círculo de pedras. Ao seu redor, símbolos lunares brilhavam com tinta prateada, ativados pelo feitiço ancestral que Vincent entoava com voz firme e baixa. A loba do clã Blackwood, Alyra, mantinha as mãos espalmadas sobre os ombros de Serena, murmurando orações em uma língua antiga, carregada de energia.O vento rodopiava, trazendo o cheiro úmido da floresta, da terra e… de algo mais. Algo antigo. Familiar e estranho ao mesmo tempo.Serena sentia sua respiração acelerar. Um calor estranho começou a brotar em seu peito, pulsando em sincronia com as palavras sussurradas à sua volta. A energia da terra subia por suas pernas, queimando como brasas sob sua pele. Seu corpo arqueou involuntariamente, e seus olhos se reviraram.E então… tudo desapareceu.☽❂☾Ela estava em um campo florido, o céu limpo e estrelado acima dela. O perfume doce das flores silvestres
O silêncio era opressor.Serena acordou com uma pontada aguda na base da nuca, como se tivesse levado um golpe forte demais. Seu corpo inteiro pesava, a mente embaralhada entre lembranças fragmentadas e um vazio incômodo. Tentou mover os braços, mas não conseguiu. Correntes, frias como gelo, envolviam seus pulsos, ligadas a um anel metálico fincado em uma parede de pedra bruta.Ela estava deitada sobre uma superfície áspera, dura. O chão era feito de pedras negras, ligeiramente úmidas. O ar tinha cheiro de mofo antigo, com um leve traço de incenso queimado — ou algo muito próximo disso, como se alguém tentasse mascarar o odor da podridão com rituais.Quando conseguiu abrir os olhos, a luz fraca de tochas nas paredes revelou o interior de uma câmara subterrânea. O teto era abobadado, sustentado por colunas grossas com inscrições antigas, e as sombras dançavam nas paredes como fantasmas silenciosos. Havia símbolos lunares invertidos pintados em vermelho escuro — sangue seco? — ao redor
O silêncio da câmara subterrânea foi quebrado apenas pelo leve som das gotas que escorriam por alguma fissura nas pedras antigas. Serena não sabia quanto tempo havia se passado. Horas? Dias? Não havia janelas. Nenhum marcador de tempo. Apenas o cansaço progressivo em seu corpo e a inquietação crescente na mente.As roupas limpas que deixaram para ela eram feitas de um tecido macio e escuro, quase como uma segunda pele. Ela vestiu por necessidade, mas cada fibra parecia conter algo mais — uma energia antiga, talvez encantamentos que serviam para conter sua transformação. Mesmo assim, seu corpo começava a se adaptar. Ela sentia isso. O véu que bloqueava sua loba estava se tornando mais tênue.E então, finalmente, uma nova presença adentrou a sala.Era diferente de Ezra. Havia algo mais jovem, mais impetuoso, quase animalesco no ar. O som das botas ecoou pelo chão de pedra até que ele surgiu, saindo da escuridão como um predador saindo da mata.— Então é você — disse a voz grave, arrasta
O cheiro de ervas queimadas e óleo de lobo enchia o ar da câmara subterrânea. Serena sabia que algo estava errado antes mesmo de abrir os olhos. A droga que Kael lhe dera na última sessão de "treinamento" ainda latejava em suas veias, turvando seus pensamentos. Seu corpo estava pesado, mas sua loba... Sua loba rugia por dentro, presa sob camadas de magia e química. A porta se abriu sem som. Kael entrou, os músculos tensos sob a pele bronzeada escondidas pelas vestes pretas. Seus olhos âmbar brilhavam no escuro, fixos nela. — Você está linda assim — Ele murmurou, a voz um rosnado baixo. — Quase minha. Serena tentou se levantar, mas seus membros não respondiam. A droga — Uma mistura de acônito negro e lua-de-prata, ela percebeu tarde demais — a mantinha paralisada. — O que... você fez? — Ela forçou as palavras entre os dentes cerrados. Kael sorriu, lento, cruel. — Só garantindo que você não vá lutar. Desta vez. Ele a puxou pelo cabelo, expondo seu pescoço. O grito que
A lua cheia pairava no céu como um olho prateado, banhando a paisagem de Pembrokeshire com sua luz espectral. Serena puxou o casaco mais rente ao corpo, tentando afastar o frio cortante que invadia a noite. Caminhava lentamente pela trilha que levava de seu escritório até sua casa alugada, um trajeto que ela já conhecia de cor. As ruas estavam vazias, apenas o som distante das ondas quebrando contra as rochas ecoava na escuridão.Desde pequena, Serena sentia um magnetismo estranho em noites como essa. Era como se algo dentro dela estivesse inquieto, ansioso por algo que nem mesmo ela sabia nomear. Mas ao contrário dos alfas da matilha local, que celebravam a lua cheia como um momento de conexão com suas naturezas lupinas, ela preferia ignorar. Não era parte daquilo. Nunca fora.Suspirando, acelerou o passo. Ainda sentia os efeitos do longo expediente no escritório de arquitetura, onde passou o dia ajustando os detalhes de um novo projeto para um restaurante sofisticado no centro da ci
O dia amanheceu com o cheiro da chuva pairando no ar, as nuvens ainda carregadas no horizonte. Serena despertou com a mente embaralhada, a lembrança dos olhos prateados ainda vívida em sua memória. Tinha sido real? Ou apenas um devaneio causado pelo cansaço?Tentando afastar a sensação estranha, levantou-se e seguiu sua rotina matinal. O aroma forte de café preencheu sua pequena casa enquanto ela se sentava à mesa, distraída, rolando o feed do celular sem realmente absorver o conteúdo. Mas sua mente insistia em voltar à noite anterior.Quando chegou ao escritório, ainda se sentia inquieta. O prédio era moderno e minimalista, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural. Seus colegas já estavam em suas mesas, imersos em projetos e conversas. Laura, sua colega mais próxima, percebeu seu olhar distante.— Você está bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Parece que viu um fantasma.Serena hesitou antes de responder:— Não é nada. Só não dormi muito bem.Laura estreitou os o